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Música A bossa nova completa 60 anos nesta terça: Foi neste dia, em 1958, que João Gilberto gravou “Chega de Saudade”

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Quatro meses depois de “Chega de Saudade”, João Gilberto gravou “Desafinado”. (Foto: Reprodução)

A bossa nova, que nesta terça-feira (10) completa 60 anos,  ainda brincava de boneca quando foram publicadas as primeiras tentativas de entendê-la. Desde os pioneiros esforços, concentram os ondes e os porquês da origem do gênero e sua autenticidade à luz da identidade nacional. Foi neste dia, em 1958, que João Gilberto gravou o compacto de “Chega de Saudade”.

Afinal, a bossa veio do samba? Negou-o? Adaptou-o ao jazz? Ou depois o influenciou? João Gilberto e Tom Jobim – e Newton Mendonça, Vinicius de Moraes, Nara Leão, Johnny Alf… – homenagearam as raízes tupiniquins ou as renderam ao imperialismo? “Setores conservadores afirmavam que tomava do jazz, e outros defendiam que se apresentava como alternativa moderna”, resumiu Fabio Saito dos Santos em tese de mestrado em 2006, na Unicamp.

Reportagens, crônicas, livros; muitos deram pitacos sobre a gênese da revolução, que faz 60 anos nesta terça-feira. Exatos quatro meses depois de João Gilberto gravar “Chega de Saudade”, ele gravaria outro, “Desafinado”. “Nunca um acontecimento na nossa música popular trouxera tal acirramento”, descreveu o musicólogo Brasil Rocha Brito em ensaio em “Balanço da Bossa e Outras Bossas” (Perspectiva, 1969).

O poeta, aliás, identificava na inovação um misto de respeito à velha guarda e subversão da ordem estabelecida. “O resultado é um livro de partido. Contra a Tradicional Família Musical. Não contra a Velha Guarda. Noel Rosa e Mário Reis estão muito mais próximos de João Gilberto do que supõe a TFM”, escreveu. Já em seu “Música Popular, um Tema em Debate” (Editora 34, 1966), o crítico José Ramos Tinhorão reuniu textos publicados na imprensa nos quais detonava a novidade. “Filha de aventuras secretas de apartamento com a música norte-americana – inegavelmente sua mãe –, a bossa nova vive o mesmo drama de tantas crianças de Copacabana: não sabe quem é o pai”, escreveu em um artigo, em 1963.

A leitura de Tinhorão foi influente nas primeiras décadas do pós-bossa – e sabe-se lá o quanto terá colaborado para o precoce ocaso do gênero, que dos anos 1970 aos 90 ficou restrito a espasmos no exterior. Sob o benefício do tempo, contudo, a genealogia ganhou revisões. Para Ruy Castro, as análises que atribuem valor negativo à comunhão entre bossa nova e jazz derivam de equivocada negação da ordem mundial vigente.

Potência cultural, os EUA disseminaram o gramofone e popularizaram até instrumentos como o saxofone. “Como qualquer música popular no séc. 20, ela foi influenciada por toda a sonoridade americana, não pelo jazz”, diz. O escritor e colunista da Folha de S.Paulo ressalta ainda que o fato de o samba assimilar tão bem outras influências abriu margem para leituras equivocadas de um estrangeirismo da bossa. “’Aquarela do Brasil’ (1939) já tinha big band no fundo, e ninguém se sente agredido.”

Crítico de música erudita da Folha de S.Paulo, Sidney Molina reforça a memória de que o contato do som brasileiro com o americano precede Gilberto-Jobim. “Os arranjadores brasileiros pré-bossa, como Radamés Gnattali, sabiam como funcionavam as big bands dos EUA, e Carmen Miranda já levara ao país violonistas como Garoto.” Para ele, “não há purismo nacional nem gringo na bossa, ela é fusão; algum problema?”. Além de negar o furto de atributos do jazz, Ruy Castro diz que foram erradas tanto a leitura de que o estilo teria rompido com o samba-canção quanto a de que seria uma síntese ideal da música brasileira, análise embebida no ufanismo do país sob Juscelino Kubitschek (1902-1976). “A bossa nova não veio de nada nem de ninguém, ela veio de si mesma; sua origem está na rica variedade da música brasileira.”

O jeito de cantar e tocar de João foi fruto, diz, da vontade de interpretar a seu modo suas canções preferidas: os sambas feitos a partir de “Jura”, tema escrito por Sinhô e gravado em 1928 por Mário Reis. Para demonstrá-lo, o escritor incluiu na quarta edição de seu livro “Chega de Saudade – a História e as Histórias da Bossa Nova” (Companhia das Letras, 1990), em 2016, um levantamento com mais de 600 canções desde os anos 1920.

Autor de livros como “Copacabana – a Trajetória do Samba-Canção” (editora 34, 2017), o jornalista Zuza Homem de Mello também nega a ruptura. “A bossa veio como um sucessor do samba-canção. Foi a solução encontrada pelo João para fazer o violão soar diferente dos outros violonistas.” Uma evolução natural, portanto, que “simplificou o ritmo e incrementou a harmonia”, na síntese de Alessandro Borges Cordeiro, professor da Universidade de Brasília. Autor do ensaio “Balanço da Bossa Nova” (1969), Julio Medaglia ressalta, por fim, que o nascimento da bossa conectava-se à arte da época. “A economia de elementos lembrava a nouvelle vague: poucos atores, falas, ações. Ecoava Niemeyer: branco, simples, poucas linhas. E a poesia concreta: duas ou três palavras num poema.” Ele remonta o que sentiu ao ouvir “Chega de Saudade”. “Eu me lembro até da rua em que estava quando senti o impacto desse bandido na minha alma. Uma implosão silenciosa.”

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