Brasil A CPI do BNDES recua e desiste de chamar Lula para depor. Mas as convocações do ex-ministro Guido Mantega e de um ex-presidente do Banco estão mantidas
Por Redação O Sul | 12 de setembro de 2017
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) criada no Senado para apurar empréstimos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) voltou atrás e não vai mais chamar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para prestar depoimento. O colegiado, no entanto, decidiu manter a convocação dos ex-presidentes do banco de fomento Luciano Coutinho (2007-2016) e Guido Mantega (2004-2006), também ex-ministro da Fazenda.
A convocação de Lula havia sido aprovada após um “cochilo” de senadores petistas, que não estavam durante a primeira votação da medida na CPI. Após diversos apelos desses parlamentares – principalmente de Lindbergh Farias (RJ), no entanto, o presidente da comissão, Davi Alcolumbre (DEM-AP), desistiu de convocar o ex-presidente.
A CPI do BNDES tem como foco denúncias de irregularidades em financiamentos concedidos pela instituição no âmbito do programa de globalização das companhias nacionais. De acordo com o relator, senador Roberto Rocha (PSB-MA), essa investigação dará especial atenção a informações sobre a linha de crédito para a internacionalização de empresas, iniciativa que começou a ser disponibilizada em 2007.
O colegiado foi criado na esteira da crise da delação dos executivos do conglomerado empresarial JBS/Friboi, em maio, e tem na mira contratos do frigorífico e de outras empresas com o banco de fomento. Paralelamente, o Senado realiza uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para apurar contratos e a atuação da empresa.
Conflito
O impasse começou quando senadores da base de apoio ao governo aproveitaram a ausência de parlamentares de oposição para apresentar os requerimentos que previam a convocação de Lula, que não estavam previstos inicialmente na pauta da CPI.
Ao saberem que a convocação de Lula estava em discussão, Lindbergh Farias e Paulo Rocha compareceram à sessão, dando início a um bate-boca no plenário. “Isso é sorrateiro”, criticaram ambos, em pé e com o dedo em riste na direção da presidência da Comissão.
“Lula não merece”, argumentou Lindbergh ao presidente do colegiado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). “Não é muito pedir que a gente vote isso às claras! A convocação dele não estava na pauta!”. Alcolumbre concordou, então, em colocar um outro requerimento em votação e Lula foi dispensado de prestar esclarecimentos.
Ainda segundo o senador do PT e autor do segundo requerimento, uma reunião que é chamada para ser de audiência pública não pode virar deliberativa. “Foi um atropelo ao regimento”, apontou. Ele já adiantou que a oposição também apresentará questão-de-ordem no plenário do Senado para derrubar as convocações de Mantega e Coutinho, mas considerou uma “vitória importante” a dispensa de Lula.
O petista acusou ainda os membros governistas da CPI de quererem criar um ‘fato político’ às vésperas do depoimento do ex-presidente ao juiz federal Sérgio Moro em Curitiba (PR). “Isso é um factoide, um factoide!”, vociferou. Alcolumbre rebateu o petista e, de forma irônica, questionou a postura dos parlamentares oposicionistas. “Eles estão fazendo isso a vida toda, a palavra ‘golpe’ na boca deles é doce’, declarou à imprensa, após o fim da reunião.
De acordo com ele, os requerimentos foram votados de maneira legal em relação ao regimento. “O presidente da Comissão tem a prerrogativa de fazer votações extra-pauta”, assegurou.
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