Terça-feira, 19 de março de 2024
Por Redação O Sul | 15 de julho de 2018
A candidatura do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) ganhou mais um problema em São Paulo. O discurso do tucano de gestor preparado, que deixou em dia as contas do Estado na crise econômica, está a perigo devido à disputa entre os pré-candidatos a governador João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB).
A gestão fiscal em São Paulo é usada pelo presidenciável como seu “cartão de visita” na eleição. Por onde anda, ele carrega em uma pasta dois gráficos que comparam a evolução dos gastos públicos dos governos paulista e federal. O tucano explica que, apesar da recessão econômica, seu governo fez a lição de casa, cortou gastos e fechou as contas sem déficit, ao contrário do governo federal.
“As contas estão rigorosamente em dia”, repete Alckmin, na pré-campanha. Uma semana antes de deixar o cargo, em abril, Alckmin enviou um projeto de lei com poder de injetar R$ 1,5 bilhão no caixa do governo paulista ainda este ano. O dinheiro é uma poupança de contribuintes do antigo Ipesp (Instituto de Previdência do Estado de São Paulo), que seria extinto, e os recursos passariam para o cofre estadual. E esse é o centro da discórdia.
Deputados tucanos, aliados de João Doria, mostravam, na semana passada, a intenção de votar a proposta somente após a eleição, para não favorecer a administração de França.
Sem divulgar em sua agenda, Alckmin esteve na Assembleia Legislativa de São Paulo na última semana de junho, onde o PSDB dificulta a votação do texto. Encontrou-se com o presidente, Cauê Macris (PSDB), responsável por pautar o projeto.
Macris negou que o motivo da visita fosse o projeto, mas a campanha de Alckmin confirmou que o pré-candidato tem feito esforços para a aprovação do texto. “O ex-governador é totalmente favorável a que o projeto seja aprovado. Nesse sentido, estamos ajudando, pois é de interesse público e necessário”, informou a campanha, em nota ao jornal O Globo.
Nos gabinetes da Assembleia os relatos são de que Alckmin está preocupado. Ele procurou também o ex-líder de governo, deputado Barros Munhoz, hoje no PSB. O tucano quer afastar qualquer chance de dificuldades para as contas que venham gerar divulgações de dados negativos sobre sua vitrine durante a campanha.
“Quero fazer esse apelo. É o mesmo apelo que recebi do governador Geraldo Alckmin. Vamos votar esse projeto. Tem muita gente agoniada”, afirmou Munhoz, na sessão do último dia 4.
Mas a votação não aconteceu. Aliados de França acusam tucanos de obstruírem o processo por interesses eleitorais.
“Quem fez o orçamento foi a equipe do Alckmin. Ele pode ser o grande prejudicado se isso continuar”, disse um deputado do PSB.
Gastos após posse
Por enquanto, os números divulgados até abril não apontam para uma situação de desequilíbrio. Deputados do PSDB acusam França de ter aumentado os gastos para crescer nas pesquisas a partir de maio. A Associação de Gestores Públicos de São Paulo avaliou que, se o atual governador mantiver os patamares da despesa e da receita registrados até abril, é factível o fechamento das contas com saldo positivo. No ano passado, Alckmin fechou o ano com superávit primário de R$ 5 bilhões. Para este ano, a meta é de R$ 506 milhões.
Alguns fatores, entretanto, têm levado a uma avaliação menos otimista no Legislativo. Deputados do PSDB e do PSB afirmam que há risco de dificuldades financeiras se receitas previstas no orçamento não se confirmarem. Uma delas é o caixa do Ipesp. Outra é a privatização da Companhia Energética de São Paulo, que reforçaria em mais R$ 1 bilhão o cofre estadual. O leilão para a venda da empresa foi marcado para 2 de outubro, mas pode ser adiado. Ainda houve a greve dos caminhoneiros, que puxou para baixo a arrecadação do Estado em maio.
O cancelamento em junho dos restos a pagar de 2018 por França é outro ponto considerado na Assembleia como sinal de finanças apertadas.
O governo disse que a medida era uma recomendação do Tribunal de Contas. “O governo esclarece que sua situação fiscal está equilibrada e que não depende desse aporte extra para manter as contas em dia. Ressalta ainda que é a favor da aprovação do projeto pelo seu relevante interesse público”, informou em nota.
O líder do PSDB, Marcos Vinholi, negou o cunho eleitoral do embate:
“O PSDB é favorável ao projeto, e vamos votar nas próximas semanas.”