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Por Redação O Sul | 27 de fevereiro de 2016
De um astronauta abandonado a operadores de Wall Street cheios de testosterona, passando por repórteres obstinados e bandeirantes guiados pela vingança, o mundo é mais uma vez predominantemente masculino na corrida de favoritos pelo Oscar de melhor filme, cujo vencedor será conhecido domingo (28).
O fato é que a Academia não dá seu mais prestigiado prêmio para um filme protagonizado por mulher desde que “Garota de Ouro”, estrelado por Hillary Swank, venceu em 2005 – lá se vão 11 anos de predomínio masculino.
O debate só não teve maior destaque por conta de outro problema na Academia: a campanha #OscarsSoWhite, que criticava o fato de que, pelo segundo ano consecutivo, nenhum ator ou atriz negro foi indicado para as principais categorias da premiação. No entanto, a corrida dominada pelos homens é mais um indicativo da grande disparidade entre os sexos em Hollywood (EUA), dizem especialistas.
Estrelas masculinas como Leonardo DiCaprio, Christian Bale, Mark Ruffalo e Matt Damon encabeçam os principais concorrentes ao Oscar de melhor filme deste ano, por “O Regresso”, “A Grande Aposta”, “Spotlight: Segredos Revelados” e “Perdido em Marte”, respectivamente. Longas protagonizados por mulheres, como “Brooklyn” e “O Quarto de Jack”, também aparecem na lista de indicados, é bem verdade, mas nenhum deles chega com chances entre críticos e analistas.
“Um filme estrelado por uma mulher é sempre mais difícil de ser feito em um estúdio”, analisa a veterana produtora Lynda Obst. “Eles [os estúdios] nunca foram convencidos de que um mercado feminino realmente existe.”
Esse fenômeno ignora o fato de que, recentemente, filmes de grande orçamento protagonizados por mulheres mostraram ser sucessos comerciais, como é o caso da franquia “Jogos Vorazes”, com Jennifer Lawrence, a série “Divergente”, estrelada por Shailene Woodley, “Lucy”, de Scarlet Johansson, e a novata Daisy Ridley em “Star Wars: O Despertar da Força”.
“Executivos dos grandes estúdios, porém, atribuem o sucesso desses filmes à popularidade das atrizes, e não à força da audiência feminina”, opina Lynda, que produziu sucessos como “Sintonia de Amor” e “Interestelar”.
De acordo com um estudo publicado recentemente, mulheres fizeram apenas um terço dos personagens com fala em 414 filmes e séries televisivas de 2014. “Premiações apenas refletem o material apresentado em cinemas e na TV”, explica Katherine Phillips, professora de liderança e ética da Columbia Business School (EUA).
Modelos.
Grande parte do problema, segundo Katherine, está no fato de que estúdios preferem aderir a modelos de negócios que funcionaram no passado, levando “a história a se repetir constantemente”. Filmes com atores masculinos populares como protagonistas tendem a gerar bom resultado nas bilheterias, o que faz a fórmula ser replicada. “A indústria cinematográfica tem sido preguiçosa”, diz Katherine. “Você tem escolhas a fazer, e existe as fáceis, as mais preguiçosas e, às vezes, as mais difíceis que diversificam o que você está apresentando para o público.” (AG)