Quinta-feira, 28 de março de 2024
Por Redação O Sul | 18 de agosto de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
A língua aprende a lição do corpo. No corpo, tudo o que existe aos pares tem harmonia. Temos duas orelhas, dois olhos, duas narinas, dois braços e duas pernas. Uma orelha é igual à outra, um olho igual ao outro, uma perna igual à outra. Eles são iguais porque têm funções iguais. A dos olhos é enxergar; a dos ouvidos, ouvir; a das narinas, cheirar, a das pernas, andar; a dos braços, abraçar.
Na língua vigora a mesma ordem. Os termos e orações com funções iguais devem ter estruturas iguais. O que acontece quando as embaralhamos? O mesmo que com o corpo. Imagine um rosto com um olho grande e outro pequeno. Ou uma pessoa com a perna de um lado e o braço de outro. Ou um tronco com um peito no lugar dele e o outro no lugar do umbigo. A harmonia se vai.
Paralelismo
O lé com lé, cré com cré linguístico chama-se paralelismo. Termos e orações com funções iguais devem ter estruturas iguais. É o caso das enumerações. Se um item se inicia com verbo, os demais não têm saída. Vão atrás. Se por nome, idem. Veja:
São funções do Banco Central:
a. emitir moedas;
b. fiscalizar o sistema financeiro nacional; e
c. controlar a moeda e o crédito.
São funções do Banco Central:
a. a emissão de moedas;
b. a fiscalização do sistema financeiro; e
c. o controle da moeda.
Misturar estruturas? Valha-nos, Deus! É cruzar girafa com elefante. O resultado é este mostrengo:
São funções do Banco Central:
a. emitir moedas;
b. a fiscalização do sistema financeiro; e
c. controlar a moeda.
Xô!
Mais
Paralelismo não se observa só em enumerações. Ele pede passagem também em termos da oração. Se, por exemplo, um verbo tem dois objetos diretos, eles devem ter a mesma construção sintática. Misturar estruturas é pisar o paralelismo. Assim: Ele negou interesse no projeto e que o telefonema do deputado tivesse relação com as propostas nele apresentadas.
Ele negou dois fatos: a) interesse no projeto e b) que o telefonema do deputado tivesse relação com as propostas nele apresentadas. Os dois fatos, por serem objetos diretos do mesmo verbo (negou), deveriam ter a mesma estrutura: ou os dois nominais ou os dois verbais:
Ele negou interesse no projeto e a relação do telefonema do deputado com as propostas nele apresentadas.
Ou:
Ele negou que tivesse interesse no projeto e que o telefonema do deputado tivesse relação com as propostas nele apresentadas.
Olho vivíssimo
Cuidado com o e que. Só se pode empregar a duplinha quando houver o primeiro quê, claro ou subentendido: Ele negou que tivesse interesse no projeto e que o telefonema do deputado tivesse relação com as propostas nele apresentadas.
Na falta o primeiro quê, se aparecer e que, o paralelismo chora de dor:
As pesquisas revelam grande número de indecisos e que pode haver segundo turno no Distrito Federal (corrigindo: as pesquisas revelam grande número de indecisos e a possibilidade de segundo turno no Distrito Federal).
Os trabalhadores precisam assegurar o poder de compra dos salários e que seja mantida a garantia de emprego (corrigindo: os trabalhadores precisam garantir o poder de compra dos salários e manter a garantia do emprego).
É isso: lé com lé, cré com cré.
Leitor pergunta
Sempre que uso o verbo rir, paro e penso. Não raro me confundo. Acho certas pessoas e certos tempos esquisitos. Por favor, jogue uma luz na minha interrogação: como conjugar o monossílabo?
Rir se flexiona em todas as pessoas, tempos e modos. Veja: eu rio, ele ri, nós rimos, eles riem; ri, riu, rimos, riram; ria, ria, ríamos, riam; rirei, rirá, riremos, rirão; riria, riria, riríamos, ririam; que eu ria, ele ria, nós ríamos, eles riam; se eu rir, ele rir, nós rirmos, eles rirem; se eu risse, ele risse, nós ríssemos, eles rissem.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.