Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 20 de abril de 2019
Três anos depois de iniciar uma das maiores investigações de corrupção no País, o MP (Ministério Público) da Suíça revela que ainda mantém bloqueados cerca de R$ 2,8 bilhões relativos à Operação Lava-Jato. Desde o acordo de leniência da Odebrecht, em 2016, os suíços afirmam que receberam pedidos de cooperação de diversos países onde empresas brasileiras atuaram, e que atendem hoje a mais de 50 solicitações de troca de informações.
Os dados fazem parte do relatório anual do Escritório do Procurador-Geral da Suíça, divulgado na quinta-feira (18), que atualiza a dimensão do caso e deixa claro que o processo de investigação e de repatriação do dinheiro está longe de terminar. No documento, o MP suíço aponta que, até agora, destinou ao Brasil apenas 20% do valor congelado no âmbito da Lava-Jato.
“Mais de 1 bilhão de francos suíços [R$ 3,5 bilhões] foram congelados no curso dessa série de casos”, apontou o órgão. “É de especial preocupação do Escritório do Procurador-Geral que a Suíça repatrie ativos congelados a seus donos de direito. Até agora, mais de 200 milhões de francos [R$ 700 milhões] foram repatriados às autoridades brasileiras em relação aos casos Petrobras/Odebrecht”, afirma.
Os R$ 2,8 bilhões ainda congelados se referem a contas de operadores, políticos, empresas de diversos setores, doleiros e suspeitos identificados no Brasil, na Suíça ou em outros países onde empresas brasileiras possam ter atuado. O informe não dá detalhes sobre os donos das contas e nem qual seria a participação de empresas como Odebrecht nesse total. Depois de fechar seu acordo de leniência com Brasil, Suíça e EUA, a construtora ainda foi obrigada a pagar 200 milhões de francos aos suíços.
Ao destacar a criação de uma força-tarefa específica para o caso, os suíços afirmam que os inquéritos que derivaram da Lava-Jato se transformaram em um dos maiores casos da seção de crimes de colarinho branco de seu Ministério Público. Para efeito de comparação, o documento afirma que o valor congelado em ativos relacionados ao caso brasileiro superou os recursos bloqueados originalmente no processo que culminou na queda de Hosni Mubarak, no Egito – US$ 450 milhões. Para a Tunísia, outro País que viveu a Primavera Árabe, US$ 3,8 milhões foram repatriados pelos suíços.
Após o acordo de leniência da Odebrecht, os suíços ampliaram o caso e hoje atendem dezenas de solicitações de autoridades estrangeiras que acreditam terem sido lesadas pelas empresas implicadas na Lava-Jato. Os números oficiais do MP suíço indicam que ainda existem 45 processos criminais abertos relacionados à Lava-Jato – quase 10% de todos os inquéritos criminais abertos hoje na Suíça. “Atualmente, a força-tarefa está processando e implementando mais de 50 pedidos de assistência”, indicou o documento. Procuradores como os do Peru e Equador têm trabalhado em processos que envolveriam dados presentes nos arquivos suíços.
Outro foco da força-tarefa suíça tem sido o de investigar intermediários e operadores que tenham colaborado no País com o desvio dos mais de US$ 1 bilhão. “A força-tarefa está concentrada em pessoas e companhias envolvidas na Suíça”, disse. Um deles é Bernardo Freyburghaus, operador que, a partir do Rio de Janeiro, seria um dos responsáveis pela abertura de contas de vários suspeitos na Lava-Jato. Desde a eclosão do caso, porém, ele se mudou para a Suíça, onde também tem nacionalidade.