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Colunistas A placa do elevador

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Recado

“Não há nada pior do que dar longas pernas para pequenas ideias.” — Machado de Assis

Sabia? Os olhos funcionam como câmeras. Fotografam tudo que veem. Nada escapa. Nem as palavras. Os ouvidos têm outros interesses. Eles não estão nem aí pras imagens. Só querem saber de sons. Como esponjas, absorvem o que ouvem.

Resultado: a gente vê ou ouve mensagens de certas placas, certos avisos, certas propagandas pela primeira vez. Acha-as esquisitas. Mas depois, tantas vezes repetidos, os textos parecem naturais. Mas não são. É o caso da placa que vem afixada ao lado de todos os elevadores.

Aviso aos passageiros

Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.

O texto é a receita do cruz-credo. Sem cerimônia, exibe cinco erros – propriedade vocabular, colocação do pronome átono, pontuação, emprego do demonstrativo mesmo e estrutura da frase. Você consegue identificá-los?

Palavra adequada

Vamos combinar? Ônibus, avião, trem, bonde, navio, táxi & cia. transportam passageiros. O elevador sobe e desce com usuários.

Fortões e fracotes

O pronome átono se chama átono porque é fraquiiiiiiinho. Há palavras fortonas que o atraem e o obrigam a ficar antes do verbo. Uma delas é a conjunção subordinativa (que, se, porque). No aviso, aparece “verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.

Viu? A conjunção se (verifique se) lá está. Chama o fracote. Ele tem de obedecer: … verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.

Pra lá e pra cá

As orações adverbiais são passeadeiras. Não param quietas. Parece que têm asas nos pés. Ora aparecem no começo do período, ora no meio, ora no fim. Mas elas têm lugar fixo. É no fim. Quando se deslocam, a vírgula denuncia a escapadinha. Compare:

Não dirija se beber.

Se beber, não dirija.

*

Vou à Rússia quando a Copa acabar.

Quando a Copa acabar, ou à Rússia.

Voltemos ao aviso. O texto exibido de Norte a Sul do País tem uma oração deslocada. Cadê a vírgula? O gato comeu. Que tal devolvê-la? Assim: Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.

Etiqueta pega bem

O pronome mesmo exerce vários papéis. E o faz com dignidade e espírito de colaboração. Ele ajuda o autor a reforçar a declaração ou a dar mais precisão a termos que precisam de destaque. Com funções tão importantes, é natural que tenha exigências. Não são muitas, mas convém conhecê-las para tirar as vantagens que o dissílabo oferece.

1. Às vezes, o pronome aparece antes do substantivo. No caso, tem o sentido de “igual”. Concorda, então, com o substantivo a que se refere: Tite fez o mesmo discurso nas duas ocasiões. Tite fez os mesmos discursos nas duas ocasiões.

2. Outras vezes, o danadinho vem depois do nome ou do pronome para reforçá-los. Aí concorda com o termo a que se refere. Compare:

Eu assisti ao jogo. Eu mesma assisti ao jogo. Eu mesmo assisti ao jogo. Nós mesmos assistimos ao jogo. Nós mesmas assistimos ao jogo. Foi Neymar mesmo quem pediu pra sair.

3. O pronome também pode significar “realmente”. Aí, mantém-se invariável – sem feminino e sem plural: Os torcedores saíram mesmo às 18h. Foi bobeira mesmo do jogador.

Nada mais

Viu? O pronome dá destaque e reforço. Mas não ocupa o lugar do substantivo ou do pronome. É proibido usá-lo em frases como estas: Falei com o médico. O mesmo disse que estava de férias. Xô, coisa feia! Vem, belezura: Falei com o médico. Ele disse que estava de férias.

Eureca

Agora está moleza encontrar o erro no aviso do elevador. O dissílabo está usurpando o lugar do pronome ele: Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar.

Retoques

Que tal dar uns retoques na frase? A forma nota 10 pode ser esta:

Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar.

Melhor ainda:

Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar.

Leitor pergunta

Repetir de novo é redundância? (Carlos Moura, Brasília)

Depende. Repetir é dizer outra vez. Você repetiu só uma vez? Não use de novo. Mais de uma vez? Ufa! É de novo.

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/a-placa-do-elevador/ A placa do elevador 2018-06-23
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