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Brasil “A prisão foi violenta, e ele buscou morte violenta também”, disse o filho de ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina ao transcorrer dois anos da morte do pai

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TCU descartou qualquer irregularidade cometida pelo educador em 2017. (Foto: Reprodução)

Na segunda quinzena de setembro de 2017, o professor universitário Mikhail Vieira de Lorenzi Cancellier, então com 30 anos, chegou ao apartamento do pai levando a tese sobre o direito à privacidade que ele defendera no ano anterior ao se tornar doutor em direito pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Luiz Carlos Cancellier de Olivo estava com tempo livre para reler o trabalho acadêmico do filho. No dia 14 daquele mês, ele havia sido preso e afastado do cargo de reitor da UFSC, acusado pela PF (Polícia Federal) de obstruir a investigação que teria descoberto um esquema milionário de desvio de verbas da universidade.

Solto no dia seguinte, ele se trancou em casa e evitava o assédio da imprensa. A monografia do filho foi a última que o reitor leu.

Nesta quarta-feira (2) completaram-se dois anos da morte de Cancellier, que se atirou do último andar de um shopping center de Florianópolis. No bolso, trazia um bilhete: “Minha morte foi decretada quando fui banido da universidade”.

Mikhail, o filho, falou pela primeira vez sobre o caso em entrevista à Folha de S.Paulo, no escritório do seu advogado, Edward Carvalho, em Curitiba (PR). Ele diz que teme ser preso pela Operação Ouvidos Moucos, a mesma que teve o seu pai como alvo. No dia 21 de junho, Mikhail foi denunciado pelo procurador da República André Stefani Bertuol sob acusação de desvio de dinheiro público.

“Quando tu recebe um indiciamento e, sobretudo, uma denúncia, por maior que seja a evidência da inocência diante disso, você sempre tem medo do que pode acontecer”, diz Mikhail. “Bom, eu sou inocente, né? Mas é um julgamento, todo processo, que eventualmente tem uma metodologia que é diferente. Então é difícil não sentir medo.”

Mikhail foi denunciado por causa de três depósitos bancários feitos em sua conta em 2013 e que somam pouco mais de R$ 7.000. O dinheiro veio de Gilberto Moritz, professor da UFSC, amigo de Cancellier. Na ocasião, o filho do reitor tinha 25 anos e estudava em São Paulo. Vivia com mesada do pai.

A acusação diz que aquele dinheiro tinha origem em um esquema que desviava verbas de bolsa de estudo. Moritz e Cancellier teriam simulado a participação em atividades acadêmicas, e Mikhail seria beneficiário da fraude.
Ele diz que só soube dos repasses de Moritz em março de 2018, quando foi chamado a depor pelo delegado Nelson Napp, responsável pela Ouvidos Moucos. Questionado sobre as três transações bancárias, Mikhail não soube explicar.

“Eu tinha incapacidade verdadeira de explicar o depósito, porque eu morava em São Paulo, eu ganhava em torno de R$ 2.400 por mês [num escritório de advocacia], tinha aluguel, tinha todas as minhas contas. Meu pai me ajudava financeiramente”, disse.

“Se meu pai falasse: hoje vai ser depositado R$ 1.600 na sua conta, eu não ia atrás de saber, a princípio, se foi feito ou não foi feito exatamente por aquela conta”, disse. “Estava dentro do padrão do que eu recebia na época.”
O delegado concluiu que o fato de os três depósitos para Mikhail terem sido feitos após Moritz receber pelo projeto acadêmico evidenciava um esquema entre os professores, em que o filho de Cancellier era beneficiário.

Um ano e dois meses após o relatório policial, sem nenhuma nova prova, a Procuradoria endossou os argumentos dos policiais e denunciou Moritz e Mikhail por desvio de dinheiro público.

Em agosto, após a denúncia, a defesa de Gilberto Moritz protocolou sua justificativa para os repasses.

A manifestação diz que Moritz “nunca teve nenhuma relação comercial com ele [Mikhail], contudo a transferência bancária realizada no pequeno valor se deveu a um pedido de empréstimo do Prof. Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que provia seu filho naquela época em que era estudante”. O documento não diz se o empréstimo foi pago por Cancellier.

Mikhail também julga que a morte do pai serviu para jogar luz no processo, que ele considera violento e injusto. “Se por um lado ele fazer o que fez era um pensamento de resolução dele com essas questões, ao mesmo tempo [era] de uma mensagem e de algum tipo de efeito público, sem dúvida nenhuma. Por causa da forma como foi feito, inclusive. Num local extremamente público, de uma forma extremamente violenta. Isso causa muito impacto, isso chama muita atenção, mais atenção ainda para o caso em si”, diz.

“Foi tudo muito violento. A prisão foi violenta, foi um mês de muita violência. Ele buscou uma morte violenta também. Ele responde violentamente a uma violência que ele sofreu.”

Ao final da conversa, Mikhail diz que pretende retomar a vida. “Que isso termine. Que eu consiga voltar para a minha vida com preocupações normais que um cara de 32 anos tem que ter. Sem ficar me preocupando com esse tipo de coisa. Mas tem uma sequela pessoal que vai fazer parte de mim, e essa eu acho mais difícil de terminar.”

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