Terça-feira, 23 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 11 de maio de 2018
A inspeção de segurança a um ministro canadense, a quem pediram que retirasse o turbante em um aeroporto dos Estados Unidos em 2017, levou Ottawa a apresentar um protesto diplomático a Washington, informou na quinta-feira (10) o gabinete do funcionário.
O ministro de Inovação, Ciência e Desenvolvimento Econômico, Navdeep Bains, é um devoto sikh e quando partia de volta para o Canadá de Detroit, em abril de 2017, após reuniões oficiais, agentes de segurança do aeroporto insistiram que tirasse o seu turbante para a inspeção.
O responsável canadense já havia passado sem problemas pelo detector de metais, havia sido submetido a um segundo teste e estava prestes a embarcar.
Pedir para que tire o turbante é “como pedir para tirar a minha roupa”, assinalou o funcionário canadense a “La Presse”, descrevendo os agentes como “muito insistentes e muito difíceis”.
O porta-voz de Bains, Karl Sasseville, explicou à AFP que, inicialmente, o funcionário não disse que era ministro canadense para ver como funcionava o sistema para qualquer pessoa, mas, diante da insistência, tirou seu passaporte diplomático e deixaram que ele embarcasse.
Ottawa apresentou um protesto verbal a Washington pelo caso e recebeu um pedido de desculpas.
A agência americana de Segurança no Transporte Aéreo introduziu novas regulamentações em 2007 que permitem aos sikh ficar com o turbante durante os processo de verificação de segurança nos aeroportos.
Choque após assassinatos em mesquita islâmica
Quando Alexandre Bissonnette soube do tweet de Justin Trudeau dando aos refugiados boas-vindas ao Canadá, o desmazelado estudante de ciência política de 28 anos ficou furioso, segundo ele próprio disse à polícia.
Apenas algumas horas depois de assistir a uma reportagem na TV sugerindo que o Canadá aceitaria imigrantes rejeitados pelo presidente Donald J. Trump, Bissonnette carregou um fuzil e uma pistola Glock, pegou uma garrafa de Smirnoff Ice e caminhou pelas ruas cheias de neve de Quebec até o Centro Cultural Islâmico que ficava perto de sua casa.
Enquanto 53 homens encerravam as orações da noite, ele disparou 48 vezes. Seis pessoas foram mortas – várias por tiros na cabeça – e 19 ficaram feridas, uma paralisada pelo resto da vida.
Bissonnette pode pegar até 150 anos de prisão após se declarar culpado de seis acusações de homicídio em primeiro grau; a sentença sairá nos próximos meses. Sua audiência de condenação, que terminou no mês passado, foi um lembrete sombrio: mais de um ano depois do massacre de 29 de janeiro de 2017, o Canadá continua lutando contra o crime. O fato adverte sobre os perigos dos avanços da islamofobia e da extrema-direita em um país que se orgulha de seu multiculturalismo e tolerância.
Herman Deparice-Okomba, diretor do Centro para a Prevenção da Radicalização que Leva à Violência, com sede em Montreal, disse que a absoluta obscenidade de alguém atirando contra pessoas em um local de culto destruiu a imagem do Canadá como uma nação aberta e humanista.
“O Canadá se vê como um país de imigrantes, e as pessoas pensavam que uma coisa dessas fosse impossível por aqui”, disse Deparice-Okomba. “O crime de Bissonnette não foi apenas contra uma comunidade. Foi contra a visão coletiva que o Canadá tinha sobre si mesmo. Estamos todos feridos”.
Durante as audiências, especialistas, sobreviventes e pessoas que conheciam Bissonnette pintaram o retrato de um homem tímido e socialmente isolado, mas inteligente, que desenvolveu uma obsessão pela extrema-direita, pelos assassinos em massa, por Donald Trump e contra os muçulmanos.
Alguns sobreviventes testemunharam que estavam com muito medo de voltar à mesquita. Em uma província secular, que recentemente aprovou uma lei que proíbe que pessoas usando véus prestem ou recebam serviços públicos, a corte permitiu que as testemunhas muçulmanas fizessem sobre o Alcorão o juramento de dizer a verdade em juízo.
Agindo sozinho, Bissonnette também levantou uma questão difícil: como um estudante de família de classe média, tímido e obcecado por xadrez, se tornou um assassino?
Bissonnette disse aos investigadores que gostaria de ter matado mais pessoas e que queria proteger sua família dos terroristas islâmicos.
Durante a audiência, Bissonnette ficou impassível quando Megda Belkacemi, filha de 29 anos de uma das vítimas, o professor universitário Khaled Belkacemi, deu testemunho sobre como foi ver seu pai com um buraco no lugar onde deveria estar um de seus olhos.
Os pais de Bissonnette, Manon Marchand e Raymond Bissonnette, funcionária do setor público e advogado, ficaram sentados estoicamente na frente do tribunal repleto de familiares das vítimas. Em certo momento, o casal consolou uma mulher que usava um lenço na cabeça.