Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 13 de outubro de 2018
Manifestantes de toda a Alemanha marcharam em Berlim neste sábado (13) contra a xenofobia e a extrema direita em um dos maiores protestos do país nos últimos anos. Os organizadores estimaram mais de 150 mil pessoas na manifestação, que seguiu protestos contra a imigração em várias cidades do Leste e um aumento no apoio ao partido de extrema-direita AfD (Alternativa para a Alemanha) antes das eleições estaduais no domingo (14).
“Unidos contra o racismo”
Um porta-voz da polícia se recusou a estimar o tamanho da multidão no protesto, que foi organizado por grupos de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional. Os manifestantes carregavam cartazes em que diziam “Construa pontes, não paredes”, “Unidos contra o racismo” e “Somos indivisíveis – por uma sociedade aberta e livre”. Alguns dançavam música pop em um dia quente de outono.
A chegada de mais de um milhão de migrantes, muitos de zonas de guerra no Oriente Médio, aumentou o apoio à AfD. Estima-se que a legenda se saia bem na eleição na Bavária, há muito uma fortaleza da conservadora União Social Cristã, que integra o governo de coalizão federal da chanceler Angela Merkel.
Ataques contra estrangeiros
Em agosto, grupos de extrema-direita na cidade de Chemnitz, no Leste do país, entraram em confronto com a polícia e perseguiram pessoas que acreditavam ser estrangeiras após o esfaqueamento fatal de um alemão ter sido atribuído a dois migrantes.
Protestos semelhantes ocorreram em Dresden, Koethen e outras cidades do Leste. No entanto, o número de ataques violentos contra refugiados e contra abrigos na Alemanha caiu drasticamente no primeiro semestre deste ano.
“Gentalha globalizada”
O líder do partido de extrema-direita alemão AfD, Alexander Gauland, foi acusado por renomados historiadores de ter parafraseado um discurso de Adolf Hitler em 1933 para denunciar a “gentalha globalizada” em um artigo de opinião.
Em um editorial sobre o populismo publicado em 6 de outubro no jornal “Frankfurter Allgemeine”, Gauland, que também codirige o grupo parlamentar do AfD, critica a “gentalha globalizada” que dirige empresas internacionais, organizações como a ONU (Organização das Nações Unidas), ou seja, a imprensa, empresas emergentes, ONGs, e que controla a informação e marca as opiniões políticas e culturais”.
“Seus membros vivem quase que exclusivamente nas grandes cidades, e quando se mudam de Berlim para Londres ou Singapura para trocar de emprego, encontram os mesmos apartamentos, casas, restaurantes, escolas particulares”, escreveu Gauland.
Dois historiadores especialistas em nazismo e antissemitismo, Wolfgang Benz e Michael Wolffsohn, afirmam que o político de 77 anos, que já foi acusado de relativizar a era nazista, foi inspirado por um discurso do Führer no final de 1933 feito ante trabalhadores em Berlim.
Em novembro de 1933, Hitler denunciou a “pequena gentalha globalizada internacional, sem raízes, que alimenta o ódio entre os povos (…) que vivem hoje em Berlim e amanhã em Bruxelas ou Paris (…) e que sentem-se em casa em todas as partes”. O ditador estava aludindo aos aos judeus.
Este artigo “é igual de forma ostensiva (ao discurso) de Hitler”, afirmou o historiador Wolfgang Benz, ao jornal “Tagesspiegel”. Gauland negou estas acusações no jornal “Tagesspiegel”. “Não conheço frases de Adolf Hitler”, alegou.