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Por Redação O Sul | 24 de março de 2019
Parlamentares de diferentes partidos afirmam que a postura de setores do Palácio do Planalto e, principalmente, da bancada do PSL de “demonizar” a atuação política tem dificultado a construção de uma base aliada ao governo Jair Bolsonaro no Congresso. As críticas, que já eram intensas nos bastidores, se ampliaram na semana passada. As informações são do jornal O Globo.
Essas reclamações encontram ressonância até dentro do governo. Um ministro classificou os ataques a potenciais aliados como uma “imaturidade amplificada pela internet” que precisa ser consertada.
O descontentamento com essas atitudes está presente em vários partidos. As principais queixas estão relacionadas a discursos dos aliados de Bolsonaro nas bases parlamentares, que procuram capitalizar a popularidade do presidente e carimbar o selo de “velha política” nos deputados de outras siglas, mesmo sendo estes aliados necessários para o Planalto.
Um vice-líder do governo afirma que o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) tem buscado atuar para reduzir os danos. O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), por exemplo, já procurou alguns deputados pedindo desculpas por ataques. Há preocupação, porém, com a postura dos filhos do presidente, pois, nesse caso, caberia a Bolsonaro colocar um freio. Até agora, isso não ocorreu.
Em uma reunião da bancada do PSDB, ocorrida na última quarta-feira, diversos deputados fizeram relatos de agressão em suas bases. Um episódio ocorrido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na semana passada deixou os tucanos especialmente irritados.
O deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) chamou repetidamente o presidente do PSDB, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, de “assassino de policiais”. E, mesmo depois que um tucano pediu a retirada das palavras dos anais da Câmara, Tadeu repetiu o ataque. O líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), protocolou uma representação contra Coronel Tadeu no Conselho de Ética.
Os ataques ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que vieram até de um dos filhos de Bolsonaro, e as comemorações de parlamentares do PSL pela prisão do ex-presidente Michel Temer geraram ainda mais irritação em deputados que tendem a apoiar o governo.
Uma liderança da bancada ruralista chega a dizer que não haverá base aliada enquanto o governo não interferir para controlar os ânimos.
Velhas práticas
Apesar do discurso da bancada do PSL, um dos vice-líderes do governo diz que a renovação da Câmara não mudou os hábitos, pois os parlamentares novatos estariam ávidos por cargos e verbas para sua base eleitoral — as moedas tradicionais da política e desprezadas pelo governo. O deputado Julian Lemos (PSL-PB), por exemplo, foi flagrado em um áudio, revelado pelo jornal O Globo, defendendo, em uma conversa telefônica, a troca de cargos por votos.
A queda de popularidade de Bolsonaro na pesquisa Ibope divulgada na semana passada foi comemorada por parlamentares na Câmara. Eles acreditam que isso pode fazer com que o governo busque construir sua base da maneira tradicional, e não por pressão de redes sociais. O governo precisará do apoio de três quintos da Câmara e do Senado, em votação em dois turnos em cada Casa, para aprovar a Reforma da Previdência, prioridade da gestão Bolsonaro neste primeiro ano.