Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 29 de julho de 2018
Depois de passar quase oito meses na cadeia em Israel, a adolescente Ahed Tamimi foi libertada na manhã deste domingo. Considerada por muitos como um ícone da resistência palestina contra a ocupação israelense, a garota de 17 anos havia sido presa em dezembro do ano passado, após enfrentar soldados israelenses no pátio de sua casa, na Cisjordânia.
A mãe de Ahed, igualmente detida ao se envolver no confronto (as imagens viralizaram na internet em diversos países), foi beneficiada com a mesma medida e deixou a prisão Sharon, em Israel, também nas primeiras horas deste domingo. Elas encontraram familiares na cidade de Nabi Saleh, Cisjordânia, onde residem.
Emocionada, ao chegar ao local a adolescente abraçou integrantes de sua família e foi seguida no caminho até a sua casa por uma multidão. “Queremos viver livres!”, gritavam manifestantes. A garota, por sua vez, agradeceu o apoio e conversou com jornalistas, em meio a dezenas de câmeras. “A resistência continua até que a ocupação termine”, declarou.
Ahed também reencontrou amigos que perderam familiares em confrontos com soldados israelenses e, na sequência, digiriu-se à cidade de Ramallah, onde depositou flores no túmulo do ex-presidente palestino Yasser Arafat (1929-2004). Na sede da ANP (Autoridade Nacional Palestina), ela foi recebida pelo presidente Mahmoud Abbas.
Confronto
Ahed Tamimi ficou conhecida mundialmente em dezembro, depois de que um vídeo em que ela e uma prima, Nour, enfrentam na frente de casa dois soldados israelenses. Na ocasião, ela desferiu um tapa no rosto de um soldado israelense. A mãe filmou a cena, transmitida ao vivo na internet.
As imagens mostram três mulheres palestinas e dois soldados israelenses armados. Ahed parte para cima de um deles e o agride com empurrão, chute e tapa, exigindo que eles saiam dali. Os soldados não reagem.
Mãe e filha foram detidas dias depois. Ahed foi presa em operação das forças de segurança israelense durante uma madrugada e a mãe recebeu voz de prisão na delegacia onde buscava informações sobre a filha. Ambas foram condenadas por agressão, incitamento à violência e crime contra a segurança nacional.
Quando tinha 11 anos, Ahed já havia sido filmada ameaçando socar um soldado depois que o irmão mais velho dela foi preso. E dois anos atrás, ela bateu em um soldado que tentava deter o irmão mais novo. O pai dela, Bassem Tamimi, também é um ativista que já foi preso mais de uma vez por forças israelenses. Uma de suas detenções, no início do ano, foi motivada por manifestações ilegais e jogar pedras.
Para seus correligionários, a jovem é considerada o símbolo da luta contra a ocupação israelense em territórios palestinos. No entanto, muitos israelenses afirmam que a garota é instrumentalizada politicamente por sua família e já havia se envolvido em outros incidentes violentos com soldados judeus.
Já para os defensores dos direitos humanos, o caso de Ahed Tamimi ajudou a destacar irregularidades dos tribunais militares israelenses, que na supostamente estaria condenando apenas palestinos envolvidos em incidentes.
“Prender uma criança durante oito meses, por convocar protestos e dar tapas em um soldado, reflete uma discriminação endêmica, a ausência de um procedimento oficial e um tratamento doentio às crianças”, frisou em mensagem no Twitter o diretor da Ong Human Rigts Watch em Israel, Omar Shakir. “Ahed Tamimi agora está livre, mas centenas de crianças palestinas continuam presas e com pouca atenção para os seus casos.”
Um recente levantamento realizado pela organização não governamental de direitos humanos B’Tesselem aponta que cerca de 300 crianças e adolescentes estavam detidos em prisões israelenses.