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Por Redação O Sul | 4 de maio de 2018
As contratações de empréstimos via aplicativos de bancos no celular cresceram 141% em 2017, somando 225 milhões de transações, segundo pesquisa sobre tecnologia bancária divulgada pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) na quinta-feira (03). O aumento reflete principalmente uma mudança de comportamento do cliente, que busca mais comodidade e flexibilidade para fazer suas transações bancárias.
É também uma reação dos bancos ao surgimento de fintechs – empresas iniciantes do setor financeiro – e instituições que só operam no mundo digital. Isso tudo em um contexto de corte de custos que inclui o fechamento de agências.
As transações por celular ganham um espaço que antes era ocupado por essas agências e pelo computador. Os bancos começaram a disponibilizar mais transações, e o cliente começou a usar mais o mobile para fazer operações financeiras”, afirmou o diretor da Febraban Gustavo Fosse.
“Não é só o aumento de transações no canal mobile ou internet, é uma mudança de comportamento. O cliente quer fazer sua transferência de casa, busca cada vez mais conveniência, por isso os bancos investem mais em tecnologia”, disse ele.
O professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Fernando Meirelles afirmou que, para os jovens, ir ao banco está se tornando um castigo. “Quanto mais jovem o usuário, menos significativo é para ele aquilo que importa para os mais velhos, que é ter uma agência, saber onde o dinheiro está. Os mais jovens não são ligados nisso, contratam um empréstimo quase que pelo Facebook”, disse.
Para ele, o avanço dos bancos digitais criou alternativas menos burocráticas para a contratação de empréstimo, movimento que começa a ser seguido pelos grandes bancos. A perspectiva é de que essa tendência continue, na avaliação da professora de finanças do Insper Juliana Inhasz.
“Com o tempo, as agências vão diminuir cada vez mais, e as possibilidades digitais vão aumentar. Vamos ver a migração dos serviços bancários para essas plataformas”, destacou. “Hoje temos uma sociedade que vive 24 horas conectada. As pessoas usam o celular como um apoio, e os bancos se adequam a esse novo perfil.”
As instituições financeiras também saem ganhando porque atingem um cliente que, antes, ficava desconfortável em pedir empréstimo para o gerente, ressaltou Juliana. Mas, se para os bancos esse crescimento é motivo de celebração, para o consumidor pode ser uma armadilha.
A facilidade na ponta dos dedos pode levar à contratação de um empréstimo desnecessário, caro ou que eventualmente piore seu grau de endividamento. “O cliente corre alguns riscos. As pessoas não necessariamente estão recebendo a melhor proposta de empréstimo no aplicativo”, afirmou a professora do Insper.
Para ela, sem conhecimento das condições do crédito, o consumidor pode ficar inclusive com uma dívida que pode se tornar impagável. Há ainda o perigo de contratar um empréstimo só para consumo, em vez de adquirir o hábito de se planejar para comprar um bem. “Ele pode ver que tem dinheiro disponível pelo aplicativo e usar o empréstimo para comprar algo que não precisava naquela hora”, salientou Juliana.
Meirelles pondera que o empréstimo por aplicativo beneficia quem está acostumado a fazer operações financeiras. Já clientes que precisam de mais informações podem se beneficiar de uma visita à agência.
No Banco do Brasil, as contratações de empréstimo pelo celular representavam 16% do valor total liberado em abril de 2017, percentual que subiu para 24% em abril deste ano. Segundo o BB, o aplicativo tem 16,5 milhões de usuários e responde por 57% das transações realizadas no banco.
O Bradesco viu as contratações de empréstimos via celular crescerem 110% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2017. As operações no mobile já representam 13% de todas as transações de crédito realizadas por pessoas físicas no banco. O Bradesco diz que busca oferecer crédito no momento mais conveniente para os clientes. Também dá controle no celular permitindo fazer simulações de taxas e prazos.