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Geral Autoras de vídeos científicos no YouTube sofrem comentários hostis

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Imagem de um vídeo do canal em inglês The Brain Scoop, da divulgadora científica Emily Graslie. (Foto: Reprodução/Youtube)

“Compreensão científica, robôs e singularidade” é o título do vídeo em que uma mulher e um homem discutem ciência. “Será que ele catou???”, diz um dos comentários, que ressoa em outro: “fiquei vendo a blusa dela… cara, a imaginação”. Ciência, tecnologia, engenharia e matemática são assuntos populares no YouTube. Alguns canais que veiculam vídeos sobre esses temas têm milhões de assinantes. A maioria deles é operada por homens. As mulheres, geralmente, sofrem hostilidades.

“Existe muita discussão sobre o YouTube ser um ambiente desagradável para as mulheres que criam vídeos”, disse Inoka Amarasekara, pesquisadora australiana de comunicação científica. “Eu queria ver se isso afetava a comunicação científica no YouTube e se era possível corroborar essa tendência”. E sim, era possível.

“Ela é tão feia que quase vomitei. Eca”. “Eu estava olhando para os seus sssei… quero dizer, olhos”. “Volte para a cozinha e me faça um sanduba”. Esses são alguns dos 23.005 comentários no YouTube que formam a base de estudo conduzido por Amarasekara e Will Grant, da Universidade Nacional Australiana, e publicado na revista acadêmica Public Understanding of Science.

Amarasekara não confiava que uma análise automática de sentimentos fosse capaz de capturar o sentido das mensagens e, por isso, separou manualmente os milhares de comentários em seis categorias: positivos; negativos ou críticos; hostis; sexistas ou sexuais; relativos à aparência; e neutros ou genéricos.

“Quando terminei, estava desapontada. Deu para entender o motivo de as pessoas não quererem usar o YouTube.” Os pesquisadores descobriram que cerca de 14% dos comentários sobre mulheres que apareciam diante das câmeras eram críticos, ante 6% para os homens.

Também constataram que as mulheres que apresentavam vídeos registravam proporção muito maior de comentários sobre sua aparência (4,5% para as mulheres ante 1,4% para os homens), e de comentários sexistas ou sexuais (quase 3% para as mulheres ante cerca de 0,25% para os homens).

Julia Jaccoud, de 24 anos, do canal A Matemaníaca (45 mil inscritos), diz que, mesmo não sendo constante, ainda se depara com comentários como “que linda” ou “nossa, se eu tivesse uma professora assim eu prestaria atenção na aula”.

“São comentários que me magoam. Eu estou lá para falar sobre matemática”, diz. “Receber esse tipo de comentário é um tanto desestimulante.” O mesmo tipo de problema é enfrentado por Camila Laranjeira, de 25, do canal Peixe Babel (47 mil inscritos) focado em inteligência artificial. “Eu tenho um trabalho absurdo para escrever roteiro e fazer os vídeos. Quando recebia comentários nada a ver com o que estava falando, eu ficava bem chateada. Mas fui me acostumando.”

As duas divulgadoras científicas perceberam que dentro de seus canais esse tipo de comportamento é mais raro, possivelmente pelos conteúdos de nicho que abordam. Mas, fora dali, a hostilidade cresce.

No primeiro vídeo de Camila com o também divulgador Pirula (mais de 680 mil inscritos), o apresentador pediu para ela não ler os comentários – dois deles abrem esse texto. “Havia muitos de baixo calão, de falar dos meus peitos, do que queria fazer comigo. Isso porque o Pirula já tinha apagado alguns”, diz a youtuber.

Os pesquisadores também descobriram aspectos favoráveis às mulheres. Quando uma mulher apresenta o vídeo, a proporção de comentários, likes e assinaturas por visita é mais alta do que para os homens. O mesmo vale para comentários positivos. Em um vídeo para um canal mais amplo (o BláBláLogia, com mais de 145 mil inscritos), uma parte visível do sutiã levou um espectador a desqualificar as informações passadas por Julia, que tinha o costume de responder os comentários de seus vídeos. “Eu não abro mais os comentários nesse canal”, diz a matemaníaca. “Fiz isso duas ou três vezes. Eram horríveis.”

Amarasekara encontrou um obstáculo imediato ao estudo, iniciado em 2015 como parte de sua tese de mestrado. A falta de canais científicos operados por mulheres. Depois de obter listas com os 370 canais mais populares do YouTube sobre ciência, tecnologia, engenharia e matemática ela descobriu que apenas 32 deles eram apresentados por mulheres. A fim de completar o estudo, ela acrescentou 21 canais apresentados por mulheres que encontrou em uma lista compilada por Emily Graslie, apresentadora do The Brain Scoop, um dos canais de ciência mais populares do YouTube.

Graslie diz que a comunidade de seu canal se tornou mais positiva com o tempo, mas ela fica frustrada com a tibieza da discussão sobre mulheres no YouTube. Questiona se o YouTube não deveria fazer mais para apoiar as mulheres em sua plataforma.

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