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Por Redação O Sul | 5 de julho de 2018
Dois irmãos gêmeos que ainda nem nasceram foram os pioneiros em um procedimento cirúrgico realizado no Distrito Federal. Eles têm apenas 24 semanas de vida e foram os primeiros bebês a serem operados dentro da barriga da mãe. A fetoscopia era, segundo os médicos, necessária para salvar a vida das crianças.
Os irmãos, unidos pela mesma placenta, precisaram ser separados durante a formação porque estavam com o desenvolvimento comprometido. Um deles recebia mais sangue e, com isso, “corria risco de sobrecarga cardíaca”, explicou a médica obstetra Larah Santillo.
O outro bebê recebia os nutrientes em menor quantidade e “sofria com crescimento menor e possível anemia”, disse.
A cirurgia ocorreu no dia 29 no Hospital Santa Helena, da rede particular de saúde. O procedimento, apesar de delicado, foi considerado pelos médicos como “bem-sucedido”. A mãe, de 33 anos, e os filhos passam bem. Eles receberam alta e voltaram para casa no dia seguinte.
Cirurgia em fetos
A cirurgia fetal intrauterina é indicada para tratamento de fetos que sofrem com problemas congênitos complexos, como era o caso dos bebês. A Secretaria de Saúde informou que ainda não realiza o procedimento.
Devido ao pouco tempo de gestação (6 meses), os gêmeos que dividiam a mesma placenta passaram por uma intervenção delicada. A operação durou duas horas.
Para alcançar os bebês dentro do útero, os médicos utilizam a técnica de “laser terapia”. Nesses casos, é feito um furo na barriga da mãe e, a partir daí, é colocado um laser para acessar o canal de comunicação dos vasos sanguíneos dos bebês e separar as placentas.
O laser é feito de fibra flexível e possui 0,2 milímetro de espessura – uma grossura equivalente a três páginas de um caderno escolar.
Inovação
Para os médicos especialistas em medicina fetal, o ideal é que a cirurgia intrauterina seja realizada entre as 22 e 28 semanas de gestação, quando é possível identificar o problema e tratá-lo antes de “consequências irreparáveis”.
A mãe dos gêmeos em questão, que não teve o nome divulgado, estava na 24ª semana, tempo considerado adequado para o bom resultado da intervenção cirúrgica. Para o diretor da rede onde foi feito o procedimento, Hernandes Aguiar, “trata-se de um crescimento gigante na medicina”.
“Com a cirurgia, conseguimos tratar o bebê ainda em formação. Ele poderia ter sido condenado a óbito. Além disso, a taxa de sobrevida é incrível [80%]”, disse Aguiar.
Caso semelhante
Em junho, administradora de empresas Luciane Pinheiro, de 37 anos, corria contra o tempo para fazer com que o plano de saúde dela cumprisse uma decisão da Justiça. Na época, a mulher esperava a autorização para uma cirurgia no feto, ainda no útero da mãe.
A operação era planejada para conter os efeitos da mielomeningocele, uma malformação que deixa a medula espinhal exposta e permite que líquido suba para o cérebro, causando hidrocefalia. No dia seguinte à reportagem, o plano de saúde autorizou o procedimento e a cirurgia foi feita.
Como, na época, não havia a tecnologia necessária no DF, Luciane precisou fazer o procedimento em São Paulo. Na terça-feira (3), a administradora de empresas disse que está bem: “Em repouso absoluto para que Maria Alice possa nascer no tempo certo”. Ela está no sétimo mês de gravidez.