Terça-feira, 19 de março de 2024
Por Redação O Sul | 17 de setembro de 2016
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O caso Collor
Cometeu um erro primário: desconsiderou os políticos, especialmente os parlamentares. Alertado seguidas vezes de que existiam Três Poderes e, como ensinavam, há tanto tempo, os enciclopedistas franceses, eram interdependentes.
No mínimo, mostrou-se desatento, para não dizer soberbo. Vindo de uma sequência de vitórias pelo voto, julgou-se (isso acontece muitas vezes com muita gente) senhor absoluto dos fatos, encantando-se – lamentavelmente – consigo mesmo. Fui seu Ministro e nunca vi qualquer comportamento (muito menos comandos) de sua parte amorais ou imorais, no contexto administrativo.
No entanto, sua mocidade, seu êxito eleitoral, que ele acreditava o imunizara contra a mobilização – as vezes furiosa – de uma esquerda , ambicionando uma revanche, além do fato de cercar-se de alguns parceiros – aparentemente íntimos – pouco recomendáveis, foram desconstruindo sua imagem e, em certos casos, prejudicando as suas decisões.
A mídia, ele não a cortejava. Por isso, e também por razões ideólogicas minimizou suas qualidades (que não eram tão poucas) e fez parecer superlativas as suas falhas (que, se comparadas com as catastróficas dos “Tempos de Cólera” de Lula/Dilma) talvez fossem equiparadas ( demasia ou pequenez?) à ética de inocentes textos das fábulas de Esopo.
O certo é que Collor pagou pelo que fez e pelo que não fez. Incompreensivelmente, a Lei do Impeachment que, em 1988, Inocêncio de Oliveira (Deputado de Serra Talhada/PE) considerou revogada ( e salvou Sarney) estranhamente – verdadeiro “milagre” de renascimento ou reencarnação – foi usada, vivinha da silva, funcionando no impeachment que “não foi” já que, no último momento, Collor renunciou.
Assim, formal e objetivamente, o impeachment de Collor – o mais ruidoso e mobilizador: caras pintadas etc – face a renúncia, não aconteceu. Impicha-lo, nessas circunstâncias seria uma impossibilidade e contrassenso: um enterro sem morto. Mas, como na Política, vale mais a versão do que o fato, ficou o dito pelo não dito.
E, Collor Senador, sem memória, fez caprichoso discurso, passados mais de vinte anos, informando ao Congresso que apoiaria as propostas e projetos encaminhados pelo Presidente Lula e imediatamente o ex-sindicalista “em retribuição”, abriu a guarda, afirmando que Collor tinha garantido, por sua atuação, destacado lugar na história do País.
Que pena do Brasil me da tudo isso. A pressão bilateral do poder, sedutor e quase afrodisíaco, abala estruturas de personalidade frágeis, que, não estando vacinadas contra o narcisismo e a prepotência, só veem o seu rosto refletido nas águas do lago.
Duas figuras que, com ideologia opostas, significaram tanto de esperança, na encruzilhada que leva ou à rota que conduz à forja de estadistas ou à periculosidade expressa, atraente e sedutora por doença crônica e que termina na rodoviária do populismo, com riscos de envolvimento no mundo de baixa ética por doença que pode ser terminal ou seja, de criminosa corrupção desmoralizante.
Abala-se um povo generoso de um país, que sem presente, mas ainda com futuro. Infelizmente pecaram (venal ou mortalmente?) e muito. Não sei se andando pelo mesmo caminho, que não preciso dizer ao eleitor qual foi. Repito: Que pena do Brasil; que pena para o Brasil… Quase esqueci: quatro ou cinco anos depois, o Supremo absolveu Collor por falta de provas. Durma-se com um barulho desses…
PS.: Na próxima, impeachment da Dilma.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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