Sábado, 20 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 12 de agosto de 2017
Gina Martin, de 25 anos, se divertia em um festival de música quando um homem levantou sua saia e fotografou suas partes íntimas sem o seu consentimento. A prática é conhecida como “upskirting” e tem crescido a ponto de algumas fotos serem comercializadas ilegalmente em sites pornográficos.
Gina denunciou o assédio às autoridades, mas os agressores continuam impunes. Sua indignação a levou a criar uma campanha online para criminalizar o “upskirting” na Inglaterra (a prática já é crime na Escócia).
A petição recebeu mais de 58 mil assinaturas e o apoio do Partido Trabalhista britânico.
Segundo a polícia londrina, acusações de “voyeurismo” como essa são “levadas muito a sério” porque a prática é “abusiva e angustiante para as vítimas”. A corporação chegou a encerrar o caso de Gina mas reabriu-o após a pressão público. As investigações estão “em andamento”.
Depoimento
Em depoimento à rede BBC a britânica relatou que em 8 de julho estava na plateia do festival de música British Summer Time, no Hyde Park, em Londres com a irmã mais velha e esperando a banda The Killers subir no palco. “Dois homens que estavam ao nosso lado nos oferecerem batatas fritas (que eu aceitei), e a partir daí começaram a ficar cada vez mais sinistros”, relatou.
“Um deles, de cabelo escuro, era ainda pior que seu amigo loiro. Ficava me fazendo perguntas, me olhava de cima a baixo e fazia piadas sobre mim com seu amigo. Daí ele se encostou em mim e acho que foi aí que aconteceu.” Segundo Gina, ele colocou seu celular entre as pernas dela, virou a câmera por baixo da saia e tirou fotos das suas partes íntimas , em plena luz do dia.
“Na época, eu não fazia ideia do que ele tinha feito. Minha irmã e eu estávamos empolgadas em assistir à banda que amamos desde a adolescência. Mas, esperando o show, notei pelo canto do olho que o cara loiro estava olhando para seu celular e dando risada. Era a foto da minha virilha coberta por uma tira de roupa de baixo. Mesmo sendo uma foto pequena, eu reconheci na hora que era eu”, contou a britânica.
Gina conta que arrancou o telefone de mão do homem e começou a gritar que ele havia tirado uma foto por debaixo da sua saia. “Ele gritou de volta – apontando o dedo para mim – que era uma foto do palco. Depois, me segurou pelos ombros e me empurrou, exigindo que eu devolvesse o celular. Como não conseguia me soltar, comecei a gritar por socorro e buscar o olhar do máximo de pessoas que pude”, disse.
“Passei o celular para a mão de uma menina do meu lado, com quem eu havia conversado minutos antes. Ele avançou contra ela agressivamente. ‘Devolva meu telefone’, ele exigiu. Ela recusou. Uma pessoa ao meu lado me disse ‘Corra!’ e eu saí correndo, pegando o telefone dele de novo e chorando para a multidão me deixar passar”, relatou Gina.
A seguir a britânica conseguiu alcançar seguranças e esperaram a polícia chegar. Segundo Gina, eles foram gentis e solidários, observando que deveria poder ir a um show no calor que estava usando uma saia sem precisar se preocupar com isso. Mas, após olhar a foto, o policial disse que embora ela fosse mais reveladora do que ela gostaria, não era explícita, e que não haveria muito o que pudessem fazer. A foto acabou deletada. Gina acabou não fazendo boletim de ocorrência.
Dias após o fato, Gina viu que os homens apareciam em fotos do show, e resolveu publicar nas redes sociais o ocorrido. “Minha postagem viralizou no Twitter e no Facebook. Outras mulheres contaram histórias parecidas, e foi aí que eu percebi que se trata de um problema maior”, contou a britânica. Mensagens contra e a favor começaram a surgir, mais e mais.
Gina acabou conseguindo reabrir o caso e agora espera que as leis possam ser revistas. No Brasil, diversos casos semelhantes aos da britânica foram registrados, por exemplo, no transporte público. Perpetradores podem, dependendo do caso, ser acusados de crimes como abuso ou assédio sexual, uso indevido de imagem, constrangimento ilegal e, se as vítimas forem menores de idade, pedofilia. (Com AG)