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Por Redação O Sul | 10 de agosto de 2015
A perda de riqueza medida pelo PIB (Produto Interno Bruto) não é meramente contábil. Acontece na vida real. Está nos preços dos produtos. “O pior efeito da valorização do dólar aparece na inflação”, disse o coordenador de Economia Aplicada do (IBRE/FGV) Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, Armando Castelar Pinheiro.
A alta da moeda norte-americana não afeta apenas preços de serviços e mimos internacionais, como viagens a Disney, vinhos franceses e chocolates suíços. Nos últimos anos, uma ampla gama de produtos fabricados no País passou a depender, em maior ou menor grau, de insumos importados, segundo levantamentos feitos pela Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior) junto com a CNI (Confederação Nacional da Indústria).
No primeiro trimestre de 2010, 16 em cada 100 produtos vendidos no Brasil eram importados (total ou parcialmente). A relação passou de 23 para cada 100 no primeiro trimestre deste ano (último dado disponível). Até a agricultura é impactada. Quase metade dos insumos usados em produtos químicos, que incluem fertilizantes e defensivos, vem de fora do País.
Não tem jeito: a valorização do dólar é repassada em algum momento. “Como a economia está em recessão e a demanda em queda, é difícil repassar todo o aumento”, explicou o economista da CNI Marcelo Azevedo. “Mas eles ocorrem, mesmo em menor grau, fazendo com que o consumidor perca, ao menos em parte, o poder de compra”, completou.
Celulares
O estado de ânimo do mercado em relação aos efeitos do dólar sobre os preços pode ser medido pelo comportamento de consumidores e de lojistas no mercado de celulares mais sofisticados, os smartphones. Segundo Gisela Pougy, a diretora da GfK, uma das maiores empresas de pesquisa de mercado do mundo, os celulares estão entre os aparelhos que resistem à crise no Brasil. Ainda atraem consumidores.
Ocorre que celulares também estão entre os produtos com os maiores índice de componentes importados. Para aliviar o impacto do dólar, as lojas não estão repassando todo o efeito cambial. Resultado: desde junho do ano passado, o preço médio no segmento registrou alta de 19%, mas, ao mesmo tempo, o faturamento do varejo com os smartphones caiu 5%.
“O varejo não ganha tudo que poderia, mas não perde o cliente, que por sua vez, consegue um produto com preço melhor”, disse Gisela. Castelar, porém, vê um lado positivo na alta do dólar: “Pode ser chato descobrir que não se era tão rico quanto se pensava em dólar, mas a valorização do real era artificial. Agora, a realidade bateu à porta e vai ajustar a economia”. (AE)