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Por Redação O Sul | 1 de outubro de 2017
Na manhã de quinta-feira (28), o detento Antônio Palocci Filho retomou as conversas com os advogados para montagem dos anexos de sua delação premiada, que é negociada com a força-tarefa da Operação Lava-Jato. Foi quando recebeu pela primeira vez notícias da repercussão da bomba relógio colocada no colo do ex-presidente Lula: sua carta ao PT de desfiliação. Um artefato que atinge o coração do partido, criado pelos dois há 36 anos, que enfrenta sua pior crise.
A carta ao PT foi redigida por Palocci, de próprio punho, da cadeia e entregue aos advogados para ser digitada e impressa. O garrancho de médico virou três páginas e meia de um documento assinado por ele na terça-feira (26). Explosivas, as palavras do ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff foram endereçadas à presidente nacional do partido, a senadora Gleisi Hoffmann, no dia seguinte, a simbólica data de 26 de outubro, quando completou um ano de prisão.
Cirurgicamente montada e retocada, a carta coloca o PT e Lula contra a parede, ao reconhecer que seus dois governos e de sua sucessora foram corrompidos pelo “tudo pode”, pelos “petrodolares”, defende um acordo de leniência para o partido e diz que ele acredita que o ex-presidente, um dia, fará o mesmo.
Uma das preocupações era não revelar fatos além dos que havia confesso 20 dias antes, diante do juiz federal Sérgio Moro, no processo em que é réu com Lula no caso do terreno do Instituto Lula e do apartamento de São Bernardo, que ocultariam propinas da Odebrecht. Qualquer revelação pode comprometer as negociações de delação com a Lava-Jato.
No dia 6, Palocci confessou negociar propinas com a Odebrecht e incriminou Lula ao revelar um suposto “pacto de sangue” entre o ex-presidente e o empresário Emílio Odebrecht, em 2010, em que foi acertado R$ 300 milhões em corrupção ao PT.
Condenado a 12 anos de prisão em outro processo da Lava Jato, a estratégia foi buscar como colaborador da Justiça uma via alternativa para buscar uma redução – ou um limitar – da pena diretamente com o juiz federal Sérgio Moro, paralelamente às tratativas da delação.
Desde então, Palocci passou de quadro histórico do PT e um dos mentores da Carta ao Povo Brasileira, a inimigo número 1 do partido.
Mãe
Em seu ponto mais delicado para Lula, Palocci questiona a estratégia de defesa do ex-companheiro de atribuir à ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em fevereiro) as responsabilidades pelo sítio de Atibaia (SP), pelo triplex do Guarujá, o apartamento 121 do Hill House em São Bernardo e o imóvel para o Instituto Lula.
Acusado de ser frio e mentiroso por Lula, no depoimento a Moro, no dia 13, foi a menção à mãe, Antônia de Castro Palocci, que mais irritou Palocci sobre as respostas do ex-presidente, após ele confessar seus crimes e sugerir que o ex-companheiro fizesse o mesmo.
Diante de Moro, como réu, Lula disse que gostou “muito do Palocci”. “Tive boa relação com Palocci, acho que o Brasil deve ao Palocci, mas lamentavelmente o Palocci se prestou a um serviço pequeno, porque inventar inverdades para tentar criminalizar uma pessoa que ele sabe que não cometeu os crimes que ele alegou é muito desagradável.”
“Eu fico pensando como é que está pensando a mãe dele agora que é militante do PT e fundadora do PT. Eu fico imaginando como estão as pessoas que militavam com ele no PT. É lamentável. Eu, sinceramente, não tenho raiva do Palocci. Não leve essa imagem que eu tenho raiva do Palocci. Eu tenho pena dele ter terminado uma carreira tão brilhante da forma como ele terminou.”
A menção fez Palocci questionar Lula em sua carta de desfiliação a estratégia de imputar à Dona Marisa responsabilidade sobre os “presentes” recebidos do esquema de corrupção nos governos petistas. A interlocutores, o ex-ministro revelou preocupação, ao redigir a carta, que o documento não soasse como um “recado” aos ex-companheiros.
Cárcere
Na cadeia, Palocci virou “atleta”, título que divide com o presidente afastado da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht que está preso desde junho de 2015. Ele fechou acordo de delação premiada em dezembro de 2016 e aguarda até início de 2018 para progredir para a prisão domiciliar. Os dois estão em alas separadas da custódia da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Detido na mesma cela que o lobista o operador de propinas Adir Assad, Palocci lê muito, escreve, mas principalmente se dedica a caminhar no exíguo espaço do cárcere.