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Por Redação O Sul | 17 de março de 2018
Carta inédita, com os momentos finais do imperador Pedro II – e do império – no Rio, antes de partir para o exílio em Lisboa, será leiloada nesta terça-feira (20) pela casa carioca Soraia Cals.
Escrito por seu neto, dom Pedro Augusto, a um amigo do Brasil, o texto revela, entre outras, que o ultimato dos líderes republicanos chegou ao palácio à meia-noite do dia 14 de novembro (em 1889), mas o imperador só a teve em mãos… às 9h da manhã seguinte.
“Quem foi o culpado?”, pergunta ele na carta. “Com certeza ninguém, e eu ainda menos.”
‘A pobre imperatriz, gritando muito…’
Desconhecido por historiadores até recentemente, o documento registra detalhes dramáticos da partida da família real rumo a Portugal. Por exemplo, em um dos trechos dom Pedro Augusto, misturando desgosto e ironia, escreve: “Afinal e a noite, já seguidos pelo ‘Alagoas’, às escuras fomos levados em escaler, e a pobre imperatriz gritando muito e carregada, içada em cadeira, tudo isso muito confortável e muito amável”.
Período conturbado
A elevação de Pedro II ao trono imperial em 1831 levou a um período de crises, o mais conturbado da história do Brasil. Uma regência foi criada para governar em seu lugar até que atingisse a maioridade. Disputas entre facções políticas resultaram em diversas rebeliões e levaram a uma situação instável, quase anárquica, sob os regentes.
A possibilidade de diminuir a idade em que o jovem imperador seria considerado maior de idade, em vez de esperar até que completasse 18 anos de idade em 2 de dezembro de 1843, era levada em consideração desde 1835. A ideia era apoiada, de certa forma, pelos dois principais partidos políticos. Acreditava-se que aqueles que o auxiliassem a tomar as rédeas do poder estariam em posição para manipular o jovem inexperiente. Aqueles políticos que haviam surgido na década de 1830 haviam se tornado familiares aos perigos de governar. De acordo com o historiador Roderick J. Barman, “eles haviam perdido toda a fé em sua habilidade para governar o país por si só. Eles aceitaram Pedro II como uma figura de autoridade cuja presença era indispensável a sobrevivência do país.O povo brasileiro também apoiava a diminuição da maioridade, e consideravam Pedro II “o símbolo vivo da união da pátria”; esta posição “deu a ele, aos olhos do público, uma autoridade maior do que a de qualquer regente”.
Aqueles que defendiam a imediata declaração de maioridade de Pedro II passaram uma moção requisitando ao imperador que assumisse poderes plenos. Uma delegação foi enviada a São Cristóvão para perguntar se Pedro II aceitaria ou rejeitaria a declaração antecipada de sua maioridade.Ele respondeu timidamente que “sim” quando perguntado se desejaria que a maioridade fosse diminuída, e “já” quando indagado se desejaria que viesse a ter efeito naquele momento ou preferiria esperar até o seu aniversário em dezembro.No dia seguinte, em 23 de julho de 1840, a Assembleia Geral (o parlamento brasileiro) declarou formalmente Pedro II maior aos 14 anos de idade. Lá, a tarde, o jovem imperador prestou o juramento de ascensão. Foi aclamado, coroado e consagrado em 18 de julho de 1841.