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Por Redação O Sul | 8 de agosto de 2017
Enquanto se esgota a capacidade de regeneração da Terra, cientistas cada vez mais discutem a possibilidade de se encontrar um novo lar para a humanidade. Mesmo a uma distância média de 220 milhões de quilômetros, com temperaturas de até 140 graus negativos em um imenso deserto, Marte é candidatíssimo à terraformação, a transformação de um astro com a nossa atual moradia. O astrofísico Alberto Alves, da Universidade do Vale do Paraíba, avalia as possibilidades e os riscos de um dia morarmos no Planeta Vermelho.
“A terraformação é uma proposta que os cientistas estão fazendo para tentar tornar Marte um planeta habitável. Para que tenha, ao menos, as condições mínimas necessárias à vida humana. É o princípio que eles estão utilizando para colonização de Marte”, observa o astrofísico.
Segundo a Global Footprint Network, a humanidade atingiu a capacidade de regeneração da Terra este ano em 2 de agosto, seis dias mais cedo que ano passado. Significa que o consumo dos recursos é mais voraz. A organização internacional de pesquisa ambiental calcula que seria necessário ter quase duas Terras – 1,7 vezes, pra ser mais exato – para suportar o atual nível de produção e consumo médio da população.
Alves aponta as principais razões para a colonização do nosso vizinho, quase a metade do tamanho da Terra. O diâmetro equatorial marciano é de 6.792,4 quilômetros, contra 12.756,2 quilômetros do terráqueo. Por que gastar recursos gigantescos para tentar colonizar aquela região? Cientistas estimam que a vida na Terra acabará devido ao aumento da temperatura do Sol para níveis intoleráveis. Embora isso só deva começar daqui a cerca de 1,75 bilhão de anos, Alberto lembra o risco de uma catástrofe acontecer bem antes, como a colisão da Terra com um grande asteroide.
“A necessidade de sair do planeta existe. A questão agora é: isto deve acontecer agora? Temos condições para fazer isso?”, questiona o astrofísico.
A pergunta é controversa. Alguns defendem agir agora como forma de incentivar avanços tecnológicos. Os custos estratosféricos, porém, levam à reflexão. “Vai valer a pena destinar esses recursos para este tipo de coisa em vez de tentar conservar o nosso planeta?”, avalia Alberto. Em teoria, temos recursos para colonizar Marte. Os desafios são enormes.
“A atmosfera de Marte é muito rarefeita, a pressão, muito baixa, e a temperatura, extremamente baixa. A temperatura chega a ser parecida com a da Terra, aproximadamente 23 graus no período mais quente e cai para 140 graus negativos. Então, manter uma temperatura razoavelmente constante, ou pelo menos num limite tolerável para o ser humano, é uma necessidade que precisa ser resolvida.”
A primeira medida, segundo o astrofísico, é manter o efeito estufa. Determinados gases da atmosfera retém a radiação solar e aquecem o planeta. O problema é que, como a atmosfera é rarefeita, a maior parte da radiação é perdida para o espaço.
A primeira meta é fortalecer a atmosfera de Marte, lançando gases que ampliam o efeito estufa e partículas que aumentem a sua densidade. A temperatura e a densidade controladas permitem que a água se estabeleça em estado líquido.
“Como fazer isso? Existem várias maneiras. Uma delas é capturar asteroides, de preferência aqueles ricos em gases de efeito estufa que ficam aprisionados em seu interior, e rebocá-los até o planeta. O foguete se acopla ao asteroide, joga pedaços dele para um lado e em seguida, pela terceira lei de Newton, ele vai para o outro lado. É assim que funciona. Bem simples.”
O asteroide colidirá com a superfície marciana, que também é rica em gases de efeito estufa, mas que estão congelados dentro de rochas na superfície. O choque causará um súbito aquecimento no local do impacto, pulverizando tudo em sua volta, e liberará esses gases que, em seguida, provocarão o efeito estufa.
“O problema é que, quando você faz isso com asteroides muito grandes, os choques tornarão a atmosfera bem obscurecida por centenas de anos. Isso inviabilizaria a vida lá dentro. Uma alternativa seria lançar asteroides pequenos. Estes irão levantar uma quantidade menor de poeira, e você iria manter, entre aspas, um certo controle desse processo. O problema é que isso leva muitos anos. Muito mais do que 100, 200, 300 anos”, explica.
Outra proposta é instalar segmentos industriais e lançar poluentes na superfície. A poluição contribuiria para manter a atmosfera mais densa. A densidade do ar e a temperatura se elevariam, e a água fluiria na forma líquida na superfície. O segundo desafio é injetar os primeiros organismos vivos no planeta.
Todas essas intervenções podem, em tese, criar as condições necessárias para os organismos realizarem a fotossíntese (algas, plantas), sobreviver e gerar o oxigênio na atmosfera de Marte. (AG)