Quinta-feira, 18 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 10 de março de 2018
Pela primeira vez em seu longo histórico de conflito, a Colômbia elegerá neste domingo um novo Congresso, sem a ameaça das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e sob a trégua do ELN (Exército de Libertação Nacional), as guerrilhas que sempre sabotaram as eleições do país.
Nessas eleições estão em jogo 108 cadeiras do Senado e 172 na Câmara, sendo que cinco cadeiras de cada casa serão para candidatos das Farc, como foi estabelecido no acordo de paz assinado com o governo.
Além disso, os eleitores poderão votar em pré-candidatos presidenciais, pelas coalizões de esquerda e de direita, e assim definir aqueles que irão concorrer à presidência. As eleições presidenciais serão no dia 27 de maio.
Agora, as Farc são um partido, o Força Alternativa Revolucionária do Comum. Para trás fica meio século de luta frustrada pelo poder, graças ao histórico acordo de 2016, que terminou com aquele que foi o grupo rebelde mais poderoso da América.
E, com o ELN, o governo de Juan Manuel Santos, que deixará o poder em 7 de agosto, tenta um acordo similar. Embora os diálogos estejam congelados pelo recrudescimento das ações militares, o ELN anunciou uma trégua para a jornada eleitoral.
Em um país onde a abstenção beira os 60%, essas eleições serão determinantes para a paz e para a sobrevivência da esquerda. Também podem ser, segundo as pesquisas eleitorais, a antessala do retorno ao poder de uma direita dura que quer meter medo, diante da crise na Venezuela, além de modificar o que foi acertado com o agora partido Farc.
A ex-guerrilha estreia nas urnas como uma força de esquerda que ainda precisa confessar seus crimes e indenizar as vítimas.
O pacto, que estabelece um sistema especial de justiça que deverá entrar em operação este ano, garante-lhe 10 das 280 cadeiras que serão eleitas para o próximo Congresso. Nenhuma pesquisa prevê uma votação suficiente para aumentar essa representação.
“Apesar de, muito certamente, não conseguirem ter a votação que esperam, o que está em jogo para a Farc é o posicionamento e a possibilidade de ser considerada, de olho em seu verdadeiro interesse político: as eleições para prefeitos e governadores em 2020”, disse à AFP Carlos Arias Orjuela, consultor político da Universidade Externado.
Além disso, a Farc cedeu mais espaço ao se retirar da campanha presidencial na quinta-feira, devido à situação de seu líder e candidato, Rodrigo Londoño (Timochenko), internado em uma clínica em Bogotá por problemas coronarianos.
Depois de oito anos de um governo e de um Congresso que firmaram um acordo de paz com a outrora guerrilha comunista, a direita mais contrária ao pacto poderia tomar o controle absoluto do Parlamento.
Tudo aponta que “a direita forte” será maioria, corrobora Ariel Ávila, da Fundación Paz y Reconciliación, que monitora o processo eleitoral.
A direita é a mais cotada para ocupar o espaço que será deixado pelo partido de La U, que apoiou Santos e foi maioria durante esses anos. A força governista caiu em desgraça por casos de corrupção e se absteve de apresentar candidato para a disputa de maio.
Se as pesquisas estiverem corretas, o Congresso ficaria sob controle do Centro Democrático, liderado por Uribe, e do partido Cambio Radical, que apoia Germán Vargas Lleras, ex-vice de Santos que se afastou do governo com críticas ao acordo de paz para se lançar à Presidência.
A esquerda chega fragmentada às legislativas e evitando alianças com a Farc. Seu objetivo consiste basicamente em obter o voto suficiente para salvar sua minoritária representação.