Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2017
Neymar tornou-se mais que o jogador de futebol mais caro do mundo com sua transferência do Barcelona para o Paris Saint-Germain por 222 milhões de euros, colocando o futebol-espetáculo em outra dimensão. Pelos próximos anos, o atacante brasileiro deverá se tornar também uma espécie de embaixador esportivo do Catar, que tem a terceira maior reserva de gás do mundo e é importante produtor de petróleo.
Este pequeno emirado árabe é dono do PSG e vai sediar a Copa do Mundo de 2022, graças, suspeita-se, a alguns votos comprados. As cifras mirabolantes envolvendo a transferência do atacante brasileiro exigiram uma complexa operação financeira que é considerada uma “obra de arte” pelo jornal esportivo Sport, de Barcelona. Estava em jogo a regra do fair-play financeiro, imposto pela Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) em 2011, para impedir os clubes disputando competições internacionais de utilizar seus tesouros sem refletir e acumular somas gigantescas depois cobertas por acionistas. Pela regra, um clube não pode gastar mais do que ganha.
O déficit autorizado é de no máximo 30 milhões de euros. Ocorre que o valor de Neymar equivale a 42% do último faturamento anual do PSG, de 520,9 milhões de euros, o sexto no ranking dos clubes que mais ganharam dinheiro na Europa. Para driblar uma sanção ao PSG por parte da UEFA, o Catar teria proposto a Neymar um contrato via um fundo de investimento do país, segundo alguns jornais europeus. E isso resultou num show de bola.
Graças a um contrato de prestação de serviços com o Catar para vender seu direito de imagem como embaixador da Copa do Mundo de Futebol de 2022, o atleta recebeu recursos para pagar os 222 milhões de euros ao Barcelona por sua liberação, poupando ao PSG o pagamento direto e, por tabela, de pagar alguns tributos na França que poderiam desencorajar o negócio. A manobra também evitaria uma investigação por parte da Uefa.
Por essa “operação diabólica”, que provocou a cólera do Barcelona e da Federação Espanhola de Futebol, Neymar chegou a Paris como um jogador livre. E, teoricamente, o PSG se comprometeria com o salário anual de 30 milhões de euros líquidos por ano. Neymar fez um excelente negócio com este salário, que o coloca como o segundo futebolista mais bem pago do planeta, só atrás do argentino Carlos Tevez, que embolsa 38 milhões de euros por ano no Xangai Shenhua, da China.
“Fazer para seu clube a maior transferência do século no futebol foi a melhor coisa que o Catar poderia fazer na situação atual”, disse, na televisão francesa, Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, em Paris, referindo-se ao valor de marketing do jogador brasileiro como representante de interesses do país.
Para Arsene Wenger, técnico do Arsenal, de Londres, fica difícil competir com o time de futebol de um país bilionário e “que pode ter interesses bem além do futebol”. O fair-play esportivo vira pó diante de uma operação financeira criativa e de um país com uma fonte inesgotável de dinheiro.
O Catar tem enormes recursos, mas certamente não quer jogar dinheiro fora. E sabe que Neymar pode render lucros, com a atração maior que o PSG passa a ser, atraindo mais publicidade, vendendo mais camisas etc. Quanto ao Barcelona, a soma que recebeu pela perda de Neymar representa a metade do valor que todas as equipes profissionais espanholas receberam, até agora, com as vendas recentes de jogadores. E isso o deixa com um caixa robusto para comprar outros jogadores importantes.
A transferência de Neymar é recorde, superando em 105 milhões de euros o montante pago pelo Manchester United pelo jogador francês Paylo Pogba para o Juventus de Turin no ano passado. Para analistas, o jogador brasileiro simboliza uma nova dimensão do futebol-espetáculo. Maradona, considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, foi transferido para o Nápoles em 1984 por 6 milhões de dólares.
A avaliação é que tudo se acelerou no fim dos anos 1990, quando o futebol começou a se transformar em uma “indústria do espetáculo”. Os direitos de transmissão dos jogos pela TV ficaram mais caros, o merchandising se desenvolveu, as entradas para os jogos passaram a custar bem mais. Equipes como Real Madrid, Barcelona, Manchester United têm hoje torcidas espalhadas ao redor do mundo. O PSG também quer se transformar em marca planetária e evidentemente faturar o suficiente para compensar o custo de Neymar.