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Por Redação O Sul | 1 de agosto de 2018
Era para ser um legado, mas a expansão do número de hotéis no Rio de Janeiro para a Olimpíada de 2016 se transformou em um pesadelo para as grandes redes que apostaram na cidade. Passada a euforia dos Jogos, o setor hoje tem mais quartos do que turistas interessados em ocupá-los.
O resultado do desequilíbrio na equação é uma crise sem precedentes, que já levou ao fechamento, desde o final de 2016, de 13 hotéis. Outros três empreendimentos também cerraram as portas, alegando reformas. A perda mais recente é a do Mercure Barra. Inaugurado em 2014, na Avenida do Pepê, na Barra da Tijuca, ele encerrou de vez as atividades nessa quarta-feira.
Juntos, os 16 hotéis que deixaram de funcionar nos últimos dois anos tinham 2.828 quartos, segundo dados da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis). Quatro deles ficavam no Centro – não houve burburinho da Lapa ou renovação do Porto que ajudasse os negócios a deslanchar.
A ocupação média na área, no mês de julho, normalmente um bom período por causa das férias escolares, foi de apenas 23,4%, quase metade da média da cidade, de 42,60%. Na Barra e em São Conrado, que perderam três empreendimentos, entre desistências e obras, a ocupação, no mesmo período, foi de 37,80%, diz a entidade.
A queda na atividade turística da Cidade Maravilhosa vem ocorrendo no mesmo ritmo frenético da expansão que o setor experimentou no período pré-olímpico. Impulsionados pela esperança de que o Rio seria a “capital da vez”, e também por uma linha de crédito especial do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), os empresários hoteleiros ergueram milhares de quartos.
Em 2016, os turistas tinham à disposição 58.983 leitos, um aumento de 64,3% em relação aos 35.899 existentes em 2012, de acordo com dados do Ministério do Turismo. “Chegamos a quase 60 mil quartos no mercado. Para piorar, a maioria dos hotéis foi feita na Barra, que tinha mais espaço, mas é um bairro desconhecido dos turistas internacionalmente, diz o presidente da ABIH no Rio de Janeiro, Alfredo Lopes.
Ele aponta a falta de investimentos, até mais do que a violência, como a principal culpada pela crise: “Depois das Olimpíadas, não tivemos nenhuma propaganda para atrair o consumidor final, vender o Rio em todo País e no mundo”.
Ainda segundo ele, hotéis que anunciam reformas também podem estar em dificuldades: “É praxe no mercado suspender as atividades e anunciar obras ou retrofits para reabrir num momento de recuperação da atividade econômica”.
Pior resultado
O reflexo disso, porém, é a alta no desemprego. Um estudo publicado pela CNC (Confederação Nacional de Comércio, Bens, Serviços e Turismo) mostra que o Rio perdeu 2.244 vagas no setor turístico em junho. O economista Antonio Everton diz que o resultado é o pior do País, que no total teve queda de 7.743 vagas.
Para ele, a crise financeira do Estado também é culpada, pois leva a uma redução no turismo corporativo. “O Rio de Janeiro deixa de recepcionar eventos corporativos por causa da crise”, acrescenta. “Há também o impacto da violência, que não é desprezível.”
Com tantos empecilhos, os empreendimentos que resistem têm adotado estratégias para se manter – e a redução no valor das diárias é uma delas. No réveillon, por exemplo, o setor alcançou quase 100% da capacidade, mas isso porque reduziu o preço da hospedagem em até 35%.
O presidente da Riotur, Marcelo Alves, está esperançoso de que a situação mude. Ele diz não ter recursos para aplicar na promoção da cidade no exterior, mas garante que captará verbas, ano que vem, por meio de parcerias. E estima que obterá R$ 30 milhões, três vezes mais do que o valor de que dispõe hoje.
A paralisação ou o fechamento definitivo das atividades abrange os seguintes estabelecimentos: Marina Palace, Gran Meliá Hotel Nacional, Sofitel Copacabana, Pullman, Rios Nice e Ipanema Plaza.