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Por Redação O Sul | 7 de novembro de 2017
Um documento interno do Ministério da Justiça indica que o deputado federal Francisco Floriano (DEM-RJ), responsável por levar, em julho, mulheres de traficantes a uma audiência com o titular da pasta, Torquato Jardim, não falou a verdade ao justificar o pedido de reunião. Ele argumentou que trataria de “obras sociais para as famílias de presos”. Mas, no encontro, segundo o relatório, o parlamentar defendeu a retomada das visitas íntimas nas cadeias, “especialmente em relação às famílias dos presos Marcinho VP e Elias Maluco”.
Chamado oficialmente de “memória de reunião”, o documento assinala a discrepância entre o tema apresentado pelo deputado no pedido de audiência e o que foi realmente abordado no encontro: “A pauta não condiz com o assunto tratado”. Os nomes das mulheres levadas pelo deputado não estão ata: consta apenas “esposas/familiares de presos”.
Procurado para comentar as informações do relatório, Floriano tentou justificar a presença da mulher do traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, na comitiva que foi ao Ministério da Justiça. O criminoso torturou e matou o jornalista Tim Lopes.
“Hoje (segunda-feira) estou tomando ciência que estava presente a esposa desse tal Elias Maluco, que eu nem sei quem é. Hoje que fiquei sabendo disso”, disse o deputado. “Sou da imprensa. Fiz declaração a favor de Tim Lopes, jamais iria tocar nisso.”
A presença da mulher de Elias Maluco no encontro não era conhecida até então. No sábado (4), o jornal “O Globo” revelou que o deputado foi ao ministério acompanhado por quatro mulheres, inclusive Márcia Gama dos Santos e Silvana Santos da Silva, respectivamente esposa e irmã de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que está numa prisão federal em Mossoró (RN). Um filho do traficante também participou da reunião.
Na última sexta-feira (3), o deputado confirmou o encontro, mas garantiu ter avisado ao Ministério da Justiça que o tema seria a proibição das visitas íntimas em presídios federais. Ao ser questionado sobre o documento oficial que aponta o desencontro entre o assunto tratado e a pauta informada previamente, Floriano mudou a versão. Ele disse que foi pego de surpresa quando um jovem tocou no tema:
“O pedido de audiência foi para obras sociais. No momento da reunião, quando já estava aquele tumulto de greve para tudo quanto é lado do País, de presídio, que proibiram (visitas), levantou-se um jovem e falou do assunto. Não deu nem tempo (de tratar das obras sociais) porque o ministro se chateou.”
A suposta chateação de Torquato é outra informação contraditória dada pelo deputado, que havia dito, na última semana, que o ministro não demonstrou incômodo quando as mulheres dos presos se apresentaram. Floriano reafirmou que a reunião não durou “mais que quatro minutos”. No documento interno do ministério, porém, consta que a audiência, no dia 4 de julho, foi realizada das 16h às 16h40m. Floriano contestou a informação de que intercedeu pela família de Elias Maluco, conforme registrado na ata: “É mentira”. O deputado já havia admitido que levou Márcia, mulher de VP, para reivindicar o direito de fazer visitas íntimas. Ela foi presa em 2010 por ocultação e lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Foi solta no ano seguinte.