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Colunistas Diálogos com o mestre – VI: O tédio.

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Arte: Marcos Cunha/O Sul

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Durante certo período de minha vida – notadamente entre os anos de 1982 e 1990 – mantive um caderno onde anotava minhas conversas com J., pessoa a quem considero acima de tudo um amigo, mas que me ensinou muito da linguagem simbólica do mundo. Continuo aqui – e pelas próximas quatro colunas – a relatar alguns trechos destas anotações:

“No fundo, as pessoas reclamam, mas adoram a rotina”, eu disse.

“Claro, e a razão é muito simples: a rotina lhes dá a falsa sensação de que estão seguros. Assim, o dia de hoje será exatamente igual ao dia de ontem, e o amanhã não trará surpresas. Quando a noite chega, parte da alma reclama que nada de diferente foi vivido, mas a outra parte fica contente – paradoxalmente, pela mesma razão.

Evidente que esta segurança é totalmente falsa; ninguém pode controlar nada, e uma mudança aparece justamente no momento mais inesperado, pegando a pessoa sem condições de reagir ou lutar.”

“Se somos livres para decidir que queremos uma vida igual, porque Deus nos força a mudá-la?” 

“O que é a realidade? É a maneira como a imaginamos que seja. Se muita gente ‘pensa’ que o mundo é de tal e qual maneira, as coisas à nossa volta se cristalizam, e nada muda por algum tempo. Entretanto, a vida é uma evolução constante – social, política, espiritual, seja lá em que nível for. Para que as coisas evoluam, é necessário que as pessoas mudem. Como estamos todos interligados, às vezes o destino dá um empurrão naqueles que estão impedindo a evolução.”

“Geralmente sob a forma de tragédia…” 

“A tragédia depende do modo que você a vê. Se escolher ser uma vítima do mundo, qualquer coisa que lhe acontecer vai alimentar aquele lado negro de sua alma, onde você se considera injustiçado, sofredor, culpado e merecedor de castigo. Se escolher ser um aventureiro, as mudanças – mesmo as perdas inevitáveis, já que tudo neste mundo se transforma – podem causar alguma dor, mas logo vão lhe empurrar adiante, obrigando-o a reagir.

Em muitas das tradições orais, a sabedoria é representada por um templo, com duas colunas na porta: estas duas colunas sempre têm nomes de coisas opostas entre si, mas para exemplificar o que quero dizer, chamaremos uma de Medo, outra de Desejo. Quando o homem está diante desta porta, ele olha para a coluna do Medo e pensa: ‘meu Deus, o que vou encontrar adiante?’ Em seguida, olha para a coluna do Desejo e pensa: ‘Meu Deus, já estou tão acostumado com o que tenho, desejo continuar vivendo como sempre vivi’. E fica ali parado. Isso chamamos de tédio.”

“O tédio é…” 

“O movimento que cessa. Instintivamente, sabemos que está errado, e nos revoltamos. Nos queixamos com nossos maridos, esposas, filhos, vizinhos. Mas, por outro lado, sabemos que o tédio e a rotina são portos seguros.”

“Uma pessoa pode passar a vida inteira nesta situação? Ela pode levar o empurrão da vida, mas resistir e continuar ali, sempre reclamando – e seu sofrimento foi inútil, não lhe ensinou nada.” 

“Sim, uma pessoa pode continuar o resto dos seus dias diante de uma das muitas portas que deve ultrapassar, mas ela precisa entender que só viveu mesmo até aquele ponto. Pode continuar respirando, andando, dormindo, comendo – mas cada vez com menos prazer, porque já está morta espiritualmente e não sabe.

Até que um dia, além da morte espiritual, aparece a morte física. Neste momento, Deus perguntará: ‘o que você fez com a sua vida?’ Todos nós temos que responder esta pergunta, e ai de quem disser: ‘fiquei parado diante de uma porta’.”

(continua na próxima semana)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/dialogos-com-o-mestre-vi-o-tedio/ Diálogos com o mestre – VI: O tédio. 2015-05-10
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