Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Porto Alegre

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Colunistas Diálogos com o mestre VII – o trabalho

Compartilhe esta notícia:

Arte: Marcos Cunha/O Sul

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

(Continuo a transcrever anotações de minhas conversas com J. entre 1982 e 1990:)

“Você tem procurado me fazer entender que é preciso prestar atenção à vida, às pessoas, a tudo que acontece a nossa volta. E eu tenho a sensação de que tudo que você faz é trabalhar” (nesta época, J. era executivo de uma multinacional holandesa).

“Ao invés de responder diretamente a sua pergunta, prefiro citar um trecho do poeta indiano Rabinranath Tagore: ‘Eu dormi e achei que a vida era Alegria/ Acordei e descobri que a vida era Dever/ Cumpri meu dever e descobri que ele era Alegria’. Na verdade, através do meu trabalho eu descubro a vida, as pessoas, e tudo que acontece à nossa volta.

A única armadilha que preciso me dar conta é não achar que um dia é igual ao outro. Na verdade, toda manhã traz em si um milagre escondido, e precisamos prestar atenção a este milagre.”

“O que é o dever?”

“Uma palavra misteriosa, que pode ter dois significados opostos: a ausência de entusiasmo, ou a compreensão de que precisamos dividir nosso amor com mais de uma pessoa. No primeiro caso, estamos sempre dando uma desculpa para não aceitar nossa responsabilidade; no segundo caso, o dever transforma-se em uma espécie de devoção, de amor irrestrito pela condição humana, e passamos a lutar por aquilo que queremos que aconteça.

Isso eu procuro através do meu trabalho: dividir meu amor. O amor é também uma coisa misteriosa: quanto mais dividimos, mais se multiplica.”

“Mas o trabalho, na Bíblia, é considerado como uma espécie de maldição que Deus joga no ser humano. Quando Adão comete o pecado original, escuta do Todo Poderoso: ‘em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. No suor do teu rosto comerás o teu pão’.”

“Neste momento, Deus está colocando o Universo em movimento. Até então, tudo é lindo, paradisíaco – mas nada evolui, e, como acabamos de conversar, Adão passa a crer que um dia é igual ao outro. A partir daí, ele perde o sentido do milagre de sua própria existência; então o Senhor, olhando sua criação, entende que é preciso ajudá-lo a reconquistar este sentido.

É necessário ler esta frase de maneira positiva: o cansaço virará o sustento, o suor será o tempero do pão. E assim, tudo irá convergir de volta à perfeição, mas antes Adão, e os seres humanos, precisam percorrer o caminho da compreensão mútua.”

“Por que um dos grandes sonhos do ser humano é poder, um dia, deixar de trabalhar?”

“Porque não sabe o que é ficar meses, anos sem fazer nada. Ou porque não ama o que faz; ninguém deseja separar-se de uma mulher que ama, ninguém quer parar de fazer aquilo que gosta. Ou então porque carece de dignidade quando se propõe a fazer algo – esqueceu que o trabalho foi criado para ajudar o homem, e não para humilhá-lo.

A esse respeito, há uma interessante história no livro ‘As 1001 Noites’: o califa Alrum Al-Rachid resolveu construir um palácio que marcasse a grandeza de seu reino. Reuniu as melhores obras de arte, desenhou os jardins, selecionou pessoalmente o mármore e os tapetes.

Ao lado do terreno escolhido, havia uma choupana. Al-Rachid pediu ao seu ministro que convencesse o dono – um velho tecelão – a vendê-la, para ser demolida.

O ministro tentou, sem êxito; o velho disse que não queria desfazer-se dela.

Ao saber da decisão do velho, o Conselho da Corte sugeriu que simplesmente o expulsassem do lugar.

‘Não’, respondeu Al-Rachid. “Ela passará a fazer parte do meu legado ao meu povo. Quando virem o palácio, eles dirão: ele foi um homem que trabalhou para mostrar a beleza de nossa cultura.

E, quando virem a choupana, dirão: ele foi justo, porque respeitou o trabalho dos outros.”

(continua na próxima semana)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Maledicências da República
Padilha: “A oposição é quem tem de colocar quórum para votar”
https://www.osul.com.br/dialogos-com-o-mestre-vii-o-trabalho/ Diálogos com o mestre VII – o trabalho 2015-05-17
Deixe seu comentário
Pode te interessar