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Mundo A divulgação de um dos segredos mais bem guardados de Hollywood detonou o movimento antiassédio sexual

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Weinstein escapou por décadas das consequências dos assédios. (Foto: Reprodução)

“Meu irmão é quem deveria pagar pelo que fez. E falo literalmente — criminalmente ou de outras formas —, eu vou apoiar tudo isso. Mas não acho que os empregados dessa empresa ou a empresa em si devam pagar pelo que ele fez.” A declaração de Bob Weinstein, 62 anos — irmão mais novo de Harvey, 65 — é legítima. Cofundador da Weinstein Company, produtora e distribuidora de uma lista respeitável de filmes, de “Pulp fiction” (1995), de Quentin Tarantino, a “O discurso do rei” (2010), de Tom Hooper, Bob procura manter seu patrimônio de pé. A afirmação, publicada no último sábado, dia 14, pelo “Hollywood Reporter”, é também um bocado fantasiosa.

A empresa e os seus empregados já estão pagando pelas atitudes de seu magnata, acusado por incontáveis mulheres — atrizes e funcionárias da produtora — de assédio sexual e estupro. Adepto da intimidação de suas subordinadas ou potenciais contratadas, numa indústria ainda comandada majoritariamente por homens, Harvey Weinstein conseguiu se safar por três décadas.

A técnica era simples: primeiro, ameaçava usar sua influência — que não era pouca — para acabar com a carreira de quem lhe desobedecesse. Apavoradas, as mulheres deixavam seu escritório ou quarto de hotel invariavelmente em silêncio. Por vezes, segundo os relatos que vieram à tona desde a publicação da reportagem do “New York Times”, no dia 5, as vítimas se sentiam culpadas e envergonhadas por terem “cedido” àquele homem imenso, forte, grosseiro, rico e poderoso.

Quando a estratégia da ameaça parecia falhar, Weinstein recorria à segunda solução: um polpudo acordo financeiro, alguns milhares de dólares aqui e ali, nada que afetasse a conta bancária de um Senhor de Hollywood. Entre uma coisa e outra, é justo inferir que um bom número de pessoas ficasse sabendo das atitudes do magnata. O próprio Bob, seu irmão e colega de trabalho, admitiu que sabia, ao menos, de seu comportamento “abusivo”, e que “por muitos anos” implorou a Harvey que procurasse ajuda. Nada foi feito.

Até que o segredo mais falado e mais bem guardado de Hollywood foi escancarado pelo trabalho obstinado de duas repórteres do “New York Times”, Jodi Kantor e Megan Twohey. Apoiadas pela decisão editorial do maior jornal dos EUA de dar espaço a casos de assédio sexual, as duas passaram quatro meses à caça do maior número possível de depoimentos e provas, de modo a evitar que, depois da publicação, Weinstein conseguisse usar mais uma vez seu poder para abafar as acusações.

Publicada a reportagem, foram poucos dias para que o mundo do empresário começasse a desmoronar. Perdeu o posto na empresa que fundou, sua mulher (Georgina Chapman, estilista da Marchesa, marca que o marido obrigava suas estrelas a usar no tapete vermelho) anunciou o divórcio, e ele foi suspenso da academia de cinema britânica e expulso da americana. Foi a primeira vez que os organizadores do Oscar votaram pela retirada de um de seus membros por acusações desse tipo; Bill Cosby e Roman Polanski continuam na nobre lista.

Agora, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou o fim da “era da cumplicidade vergonhosa diante do comportamento sexualmente predatório e do assédio em ambiente de trabalho na nossa indústria”. É uma declaração que ao mesmo tempo reconhece o caso atual como parte de uma “era”, admite a cumplicidade que inclui os próprios membros da instituição e promete acabar com o problema.

Ontem, o sindicato dos produtores (PGA) também anunciou o início do processo de expulsão de Weinstein, que deverá ser ouvido antes da conclusão do caso, no dia 6 de novembro. E divulgou a criação de uma força-tarefa antiassédio sexual, incumbida de “pesquisar e propor soluções efetivas e substanciais para o assédio sexual na indústria do entretenimento”.

No domingo, a atriz Alyssa Milano propôs que as vítimas de assédio viessem a público nas redes sociais sob a hashtag metoo (eu também). Até a tarde de segunda, meio milhão de mulheres se manifestaram.

São pequenos passos rumo a uma ação mais efetiva para o fim de uma “era” de intimidação feminina numa indústria dominada por homens. Porque jogar Harvey Weinstein para escanteio é fácil. Apesar de produtor e distribuidor genial, capaz de farejar primeiro um roteiro rentável, o magnata atuava nos bastidores, e sua condenação não causa comoção equivalente àquela que vemos em fãs de Woddy Allen e Roman Polanski, por exemplo.

Difícil será ver um sistema que ainda paga menos às mulheres do que aos homens trazer à tona outras histórias assombrosas envolvendo suas estrelas mais preciosas — e puni-las de fato, sem a condescendência do público.

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