Quinta-feira, 28 de março de 2024
Por Redação O Sul | 3 de junho de 2018
Durante uma missa celebrada ao ar livre nesse domingo em Ostia, cidade litorânea da Itália, o papa Francisco dedicou parte de sua homilia aos cidadãos atormentados pelas máfias. O pontífice pediu que eles ajam de acordo com a lei e sejam corajosos.
“Derrubem as paredes da omertá”, preconizou o líder da Igreja Católica, referindo-se a uma espécie de código de ética que desencoraja as pessoas a denunciar líderes e integrantes de organizações criminosas. “Libertem-se do medo e da opressão.”
Em 2015, a administração municipal de Ostia chegou a sofrer a intervenção do governo italiano por causa da infiltração de clãs locais do crime. Eles são acusados de assassinatos, extorsão, tráfico de drogas e agiotagem.
O papa de origem argentina lembrou, ainda, as ameaças à integridade física de jornalistas que produziram matérias sobre os mafiosos de Ostia e outras cidades. Francisco também condenou o abuso de poder e a arrogância, ressaltando que as pessoas “devem abraçar a justiça, o decoro e a legalidade”.
Abusos
No sábado, o papa Francisco recebeu um grupo de cinco sacerdotes chilenos vítimas de abusos do padre Fernando Karadima. De acordo com o Vaticano, oficialmente o objetivo do encontro foi “aprofundar a realidade vivida por parte dos fiéis e do clero chileno”.
“Com a ajuda destes cinco religiosos, o papa busca solucionar a ruptura interna da comunidade”, sublinhou a instituição por meio de um comunicado. “Assim, poderá começar a reconstrução de uma relação saudável entre os fiéis e seus pastores, uma vez que todos tiverem consciência de suas próprias feridas.”
Há mais de uma semana, uma mensagem do Vaticano havia antecipado que o pontífice quer demonstrar a sua proximidade aos sacerdotes vítimas de abuso, acompanhá-los em seu sofrimento e ouvir as suas opiniões, a fim de melhorar as atuais medidas preventivas e a luta contra os abusos dentro da própria Igreja”.
Recentemente, o líder da Igreja recebeu outras três vítimas do padre Karadima. A aproximação de Francisco com vítimas de abusos sexuais no Chile acontece após ele ser duramente criticado pela postura aparentemente neutra sobre o assunto.
Pressionado, desde então o Vaticano interviu na cúpula da Igreja chilena. Anunciou “mudanças” a curto, médio e longo prazo para “restabelecer a justiça” no seio da Igreja Católica no Chile, após ter lido conclusões de uma investigação sobre abusos sexuais contra menores cometidos pelo clero.
Em uma carta dirigida aos jovens católicos chilenos, o papa acabou reconhecendo que o Vaticano não soube “escutar e reagir a tempo” rente aos escândalos de pedofilia. No dia 18 de maio, os bispos chilenos renunciaram em bloco, em um gesto sem precedentes na história recente da Igreja Católica. O movimento incluiu pedidos públicos de desculpa feitos por Francisco.
O escândalo começou durante visita do papa ao Chile, em janeiro deste ano. Em meio às pressões da imprensa e da opinião pública, Francisco fez uma forte defesa do bispo Juan Barros, acusado por vítimas de ter testemunhado e acobertado abusos cometidos por Karadima. O papa qualificou as acusações contra Barros como “calúnias”, dizendo não ter conhecimento das vítimas.
Mas membros da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores confirmaram que, em abril de 2015, uma delegação foi enviada a Roma especificamente para entregar um relato sobre Barros sobre Juan Carlos Cruz, uma das vítimas de Karadima. A carta descrevia os abusos cometidos pelo reverendo e acusava Barros e outras pessoas de terem presenciado a violência sem nada fazer.