Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Colunistas E a campanha?

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Os votos nulos, por sua vez, cresceram de 5,8% para 6,1%. (Foto: Agência Brasil)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

No mercado livre das lembranças, recordo, um domingo de sol, em Paris, há quantos anos não sei exatamente – mas não há dúvida que há muitos – intrometi-me no eleitorado “gaullista” que ocuparia todas as instalações de um grande auditório – três mil lugares – e vibrava, com bandeiras e cartazes, no apoio do candidato George Pompidou, que, pouco depois seria vitorioso na eleição presencial. Havia cores e cânticos. Vibração espontânea que se eletrificou quando o candidato, na hora prevista, subiu ao palanque. Era apenas a confirmação de que eleição na Europa tinha cara e jeito de eleição, principalmente quando, após o discurso, entremeado de vivas e palmas, o candidato descia da tribuna e vinha abraçar e apertar mãos de vibrantes correligionários que, pelo jeito, era aquilo mesmo que esperavam.

Na Espanha, na primeira ou segunda eleição parlamentar pós-Franco, o desfrute de uma democracia conquistada fazia do pleito instrumento vivo da liberdade que alguns haviam perdido e muitos nunca haviam exercitado: um momento radioso dessa nova sociedade que surgia. Em Madri, nas Cercanias de Arguelles, pude incorporar-me na passeata numerosa, rumo a Plaza de Espanha, onde já estavam outros milhares de correligionários, também chegados dessas verdadeiras “procissões do encontro”. Era a consagração popular do “cérebro” do Pacto da Mocloa, o líder centrista e equilibrado Adolfo Suarez. Jovens e velhos, com camisas coloridas, levavam pancartas – era assim que se chamavam – e repetiam, em uníssono, palavras de ordem. Num palanque armado na Praça, Suarez, empolgado e empolgante, falou vinte minutos e levou o dobro do tempo para “safar-se” do contato individual com incontáveis partidários (Centro Democrático) que o ajudaram a vencer a eleição e fazer-se primeiro Ministro. E a campanha eleitoral, antevéspera de eleição, era para todos, vibração, engajamento e convicção animadora – as vezes até inexplicável – de vitória.

Voltando, como de rotina, da Universidade de Roma, onde fazia pós-graduação, acomodado, sem muito conforto, no ônibus 63, horário das cinco da tarde, deparei-me com uma passeata do Partido Comunista que, em plena democracia italiana parlamentarista, era a segunda força política, amparada pela maior Central Sindical (CGIL). Desfilavam – e deviam ser milhares – animados, mas ordeiros, ocupando uma das pistas da avenida, de modo que o trafego continuasse a fluir. Notava-se a influência da disciplina sindical nos alinhamentos e temas dos cartazes (ficava claro que eram comunistas mas não alinhados com a Rússia), que até podia ser a saída de macro assembleia classista. Curioso, organizei-me para assistir, dois dias depois, similar espetáculo, atravessando a via de la consolazione – causal trajeto, pareceu-me – que é o caminho mais direto para o Vaticano. Era a passeata da Democracia Cristã que, na época e por muito mais tempo, majoritária, governou a Itália, com respaldo da CISL, a segunda maior central sindical do país. E, para ser breve, lembro de padres (relembrando o engajado e, à época, popular Dom Camilo) e freirinhas entusiasmadas no desfile, onde se misturavam fanáticos e tranquilos adeptos, todos, naquela ocasião, vivendo a emoção do pleito que, sem ela, seria um corpo intato, sem vida, mantido no formol.

Aqui e agora, estamos a seis semanas do pleito, aproximadamente.

Eleição que envolvera disputa para a Assembleia Legislativa (55 vagas), Câmara Federal (31 vagas), Senado da República (2 vagas), Governador do Estado e vice, Presidente da República e vice. Caminhava-se pelas ruas e não se enxergava uma janela era o plástico de um misero candidato (há tantos, podia até ser um vizinho) a deputado estadual, por exemplo.

Os automóveis estão com seus vidros impecavelmente invictos, numa declaração muda de que não se teve qualquer envolvimento com o chamado, pomposamente, de evento cívico que deveria – e deve – por direito e por dever, envolver a todos.

Lembrando, tempos passados, na Europa, movida a eleições participativas ou, por exemplo, do pleito recente – até demasiadamente disputado do que se alega – nos Estados Unidos (Trump x Hilary: espionagem, comícios, denuncias, vitória legal de quem teve menos votos), a campanha é vitamina insubstituível para um pleito que não seja apenas legal – e isto é impactante – mas legitimo, sobretudo, legitimado, por quem tem competência exclusiva de fazê-lo representativa.

O que aconteceu e porque não acontece, aqui e agora, uma verdadeira e necessariamente popular a campanha? Quais seriam os motivos: Antecedentes que desestimulam, pretensos líderes em conflitos afastados – até presos – partidos que nada significam, candidatos que não empolgam, mudança que se quer ou que se teme?

O que está faltando mesmo nessa estranha campanha eleitoral brasileira é o povo, parece que eleição não tem nada a ver com ele.

O assunto é importante e complexo. Voltaremos a ele!

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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