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Mundo O ecstasy e o LSD podem virar remédio contra distúrbios psíquicos

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MDMA tem virado a cabeça de veteranos de guerra, policiais e bombeiros dos EUA. (Foto: Reprodução)

Drogas que alteram a consciência voltam à bancada de cientistas em busca de terapias para distúrbios mentais. Ecstasy foi vedete de congresso nos Estados Unidos, pois se aproxima de última fase de testes contra estresse pós-traumático, mal que afeta veteranos de guerra e vítimas de violência urbana, entre outros.

Cerca de uma hora após as doses individuais de 120 miligramas de MDMA (metilenodioximetanfetamina), ou ecstasy, o grupo de dez pessoas deixa o hotel Courtyard Marriott. Uma camareira se espanta com a quantidade de gente que sai para o corredor e balança a cabeça. Passados seis dias de trabalhos, chegara o momento de comemorar o término do congresso Ciência Psicodélica 2017, que naquele final de abril reunira em Oakland, no Estado norte-americano da Califórnia, mais de 3 mil pessoas de 40 países.

O tom era de euforia com a chance de reabilitar como remédios psicoativos algumas drogas de fama duvidosa, do LSD à psilocibina. Guiado pelos pesquisadores Alberto, Timóteo, Ricardo e Aldo (nomes inventados), chego à rua convicto de que não me achava sob influência de uma substância controlada. Falo mais que o de costume, mas me dou conta disso e acho normal. Na esquina do hotel, um lounge improvisado serve de fumódromo para adeptos de maconha (cujo consumo é legal na Califórnia).

Enquanto discorro sobre afetos e netos para quase estranhos, nos quais, estranhamente, confio, consigo observar meu próprio comportamento e analisá-lo. Rio da preocupação emergente com o fato de minhas pernas parecerem incorpóreas, ao mesmo tempo em que percebo de modo intenso o impacto das passadas nas calçadas largas de Oakland. A camaradagem é notável. Em segundos, forma-se o consenso de que o clube noturno buscado, com seus seguranças corpulentos e uma fila comprida à porta, é o último dos lugares em que a turma de brasileiros se sentirá bem.

Após poucas deserções, batemos em retirada para o quarto acolhedor do hotel. Dias e semanas depois, ainda respirava o ar renovado e puro que a MDMA espalhara à minha volta. Mais de uma pessoa afligida por trauma, depressão ou vício já descreveu o efeito terapêutico de drogas psicodélicas como um botão de reset: limpa-se o hardware – o cérebro – dos resquícios que impedem de enxergar com clareza o núcleo das aflições. Com a experiência, fica mais fácil entender por que a MDMA tem virado a cabeça de veteranos de guerra, policiais e bombeiros dos EUA.

O ecstasy está prestes a enfrentar testes clínicos de fase 3 – barreira regulatória final da agência de fármacos americana – para tornar-se tratamento reconhecido contra estresse pós-traumático. Uma vez abertas as portas para a respeitabilidade, poderão passar também compostos psicodélicos problemáticos, por seus efeitos alucinogênicos e pelos efeitos colaterais físicos e mentais (como desencadear surtos psicóticos). Em vista estão novas terapias contra depressão, dependência química e outros sofrimentos resistentes ao atual arsenal farmacológico – e pesquisadores brasileiros podem ter papel de destaque na reabilitação dessas substâncias.

Serotonina

 Embora não engendre viagens como o LSD, o ecstasy se classifica como droga psicodélica porque atua sobre os receptores serotoninérgicos 5HT2A e 5HT2C, aumentando os níveis do neurotransmissor serotonina. O humor melhora, e diminuem ansiedade e depressão, com mudança na percepção do significado de experiências e sentimentos. Como sempre na sinfonia bioquímica cerebral, é mais complicado que isso.

A metilenodioximetanfetamina também modula outros neurotransmissores e substâncias reguladoras, como dopamina, norepinefrina, noradrenalina, oxitocina, prolactina e cortisol. O efeito concertado costuma ser redução do medo e aumento de empatia, confiança e intimidade (para não mencionar o risco de hipertermia, ou superaquecimento, que já vitimou vários frequentadores de “raves” que não se hidrataram ). “A MDMA é a droga do bonobo”, define o pesquisador Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Um dos brasileiros presentes ao congresso em Oakland, ele compara os efeitos do ecstasy com a suavidade dessa variedade menor de chimpanzés, mais propensa ao sexo e a carinhos. Estimulantes como a cocaína, em seu paralelo, seriam as drogas do chimpanzé comum, agressivo e encrenqueiro.

Assim como outros psicodélicos, a MDMA relaxa os controles da rede neural em modo padrão. Essa interação de regiões cerebrais como o córtex cingulado posterior, o córtex pré-frontal medial, o giro angular e o hipocampo, entre outras, entra em ação de forma automática quando a pessoa não está prestando atenção no mundo exterior. Acredita-se que essa rede seja a base do “self”. Ela se mostra mais ativa nos momentos de introspecção e quando se pensa noutras pessoas, no próprio passado ou no futuro.

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https://www.osul.com.br/ecstasy-e-lsd-podem-virar-remedio-contra-disturbios-psiquicos-em-breve/ O ecstasy e o LSD podem virar remédio contra distúrbios psíquicos 2017-06-12
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