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Brasil “Ele dizia que era um homem enviado por Deus, que tinha o poder de dar vida”, afirma vítima de médico estuprador

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O ex-médico Roger Abdelmassih ao ser preso no Paraguai. (Foto: Secretaria Nacional De Antidrogas do Paraguai)

Uma das vítimas do médico Roger Abdelmassih é anfitriã de um evento que pretende debater o abuso sexual e a violência contra as mulheres.  Ela afirmou que ele dizia que era um homem enviado por Deus, que tinha o poder de dar vida. As informações são do jornal O Globo.

Vergonha e culpa são sentimentos com frequência descritos por mulheres que sofrem violência. Por causa deles, muitas se mantêm em silêncio e nunca chegam a denunciar as agressões. Foi dessa percepção que nasceu a ideia do evento “Eu não vou me calar”, que acontece nos dias 30 e 31 de outubro no Vivo Rio, no Rio de Janeiro.

Serão dois dias de discussões com especialistas brasileiros e estrangeiros sobre temas como saúde mental, direitos humanos, assédio e estupro, além de palestras sobre empreendedorismo feminino após a vivência de traumas e o papel da sociedade. Também haverá espaço para exposições e shows, segundo os organizadores.

“O evento é um grito de desespero e socorro. Não podemos cruzar os braços diante do descaso. Os números mostram que mais da metade das mulheres não vão à Justiça, não têm voz e sofrem caladas. É preciso chamar a atenção da sociedade”, diz a empresária Ivani Serebrenic, anfitriã do evento.

Ivani tem uma motivação pessoal na organização do fórum. Há quase 20 anos, ela foi vítima do médico Roger Abdelmassih, especialista em fertilização e que acabou desmascarado quando veio à tona uma série de denúncias de abusos cometidos contra pacientes. Em 2010, Abdelmassih foi condenado a 181 anos de prisão por 48 estupros em 37 pacientes em sua clínica de reprodução assistida.

Ivani tinha 34 anos quando chegou com o marido no consultório do médico em São Paulo. Ser mãe era um sonho.

“Eu era recém-casada, vivia um momento sagrado da vida. Eu e meu marido sonhávamos com os nomes, simulávamos conversas com o neném, eu materializava a maternidade. Até fraldas comprava, mesmo antes de ficar grávida. E aí, nesse processo, fui estuprada. O sonho desabou”, conta.

Ivani diz que descobriu o abuso quando acordava de uma sedação, na segunda tentativa de engravidar. Na hora, diz, ficou desorientada, sem entender o que tinha acontecido. Só contou para o marido um mês depois, quando o exame de gravidez deu negativo e ele sugeriu que voltassem ao consultório. Eles já tinham pago por uma terceira tentativa. Mas Ivani diz que não podia nem imaginar retornar.

“Tive total apoio do meu marido. Mas eu sentia muita culpa. Roger dizia que era um homem enviado por Deus, que tinha o poder de dar vida. Fez minha consulta o tempo todo com um terço na mão”, lembra Ivani.

Ainda demorou para que ela tomasse coragem e denunciasse. Dois anos depois da tentativa com Abdelmassih, foi a uma consulta com outro médico — por insistência do marido, que ainda sonhava com os bebês.

“Por muito tempo, não podia nem ver criança. Fiquei muito revoltada com a vida, desafiei minha fé. Só fui na consulta com outro médico por causa do meu marido. Achei que ia passar de novo por tudo aquilo. Mas foi nesse médico que eu soube que não era a única. Ele tinha sido estagiário do Roger, e sabia de tudo que acontecia lá. Tirei um peso enorme das costas”, conta.

Aos poucos, diz, ela se convenceu a fazer um novo tratamento. Engravidou na primeira tentativa. Hoje, é mãe de trigêmeos adolescentes. Foi uma gestação complicada, conta, com nascimento prematuro dos bebês. Quando o estado de saúde deles estabilizou, nasceu também uma outra Ivani. Ela passou a se dedicar a outros casos de abusos, com foco na violência contra a mulher.

“Quando percebi que eles estavam fora de perigo, comecei a tomar consciência de que nada daquilo tinha acontecido por acaso. E pensei que precisava fazer algo. O Roger continuava aparecendo na TV, fazendo sucesso. Temos deveres perante a sociedade. Eu não tinha sido a primeira, não seria a última. E resolvi buscar as autoridades para denunciar. Foi meu ponto de virada”, diz.

No ano passado, conta, foi reconhecida como “chanceler da paz” pelo Comitê Internacional dos Direitos Humanos do Equador. Também foi condecorada no México e convidada a encontros sobre o tema na Colômbia, Costa Rica, Argentina e no Panamá. Divide a causa com a gestão de uma consultoria que administra cartão de crédito.

“Se eu tivesse cruzado os braços e ficado calada, não teria condições de fazer o que tenho feito, de criar mecanismos de unir as pessoas e tentar dar voz a elas”, diz. “Meu objetivo é que nesses dois dias de fórum possamos discutir experiências daqui e de fora, e que mostremos um caminho para as mulheres saírem dessa. Quando quem passou por uma situação de violência conhece alguém com quem identifica sua dor, já é boa parte do caminho andado”, afirma.

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