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Por Redação O Sul | 5 de março de 2016
Somente no ano passado, foram registrados 98 ataques “não provocados” de tubarão (ataque provocado seria quando um mergulhador, por exemplo, é mordido ao interagir com um animal). Trata-se do maior número na História, segundo relatório do Arquivo Internacional de Ataques de Tubarão, do Museu de História Natural da Flórida, nos Estados Unidos. Com 30 ocorrências, a própria Flórida foi a região com mais episódios. No Brasil, foi registrado apenas o caso do turista paranaense que perdeu a mão e parte do antebraço direito ao ser mordido em Fernando de Noronha (PE), no último dia 27 de dezembro.
Histórico.
Ano após ano, o número de incidentes no mundo pode variar bastante. Em 2014, foram 72. Em 2013, 75. Com 88 casos, o ano de 2000 foi o segundo com mais registros. Entretanto, de acordo com o cientista George Burgess, há uma curva crescente na frequência de episódios nas últimas décadas. Isso não significa, diz ele, que a população de tubarões está aumentando. O que cresce é o número de seres humanos se aventurando no mar, assim como o tempo que as pessoas passam em águas salgadas.
Mudanças climáticas.
Burgess também acha que as mudanças climáticas podem estar contribuindo para essa curva ascendente de “encontros” entre pessoas e tubarões. De acordo com o pesquisador, a elevação de temperatura das águas pode causar o deslocamento de populações de tubarão. Espécies que se concentram perto da Linha do Equador, onde as águas são naturalmente quentes, podem “esticar” seu habitat até áreas mais ao sul ou ao norte. Um estudo de cientistas das universidades americanas de Princeton, Yale e Arizona já mostra uma tendência migratória dos peixes em geral em direção aos polos, seguindo o aquecimento dos mares.
Hoje, o Nordeste é a região brasileira com maior frequência de ataques, com uma concentração em Recife (PE), onde tubarões das espécies tigre e cabeça-chata fazem dezenas de vítimas desde os anos 1990. Seguindo a linha de raciocínio de Burgess, esses animais, que já são naturalmente encontrados no Sudeste, devem se tornar ainda mais comuns nessa região. “Mas não há motivo nenhum para pânico. Ataques de tubarão ainda são raros. Os grandes caçadores são mesmo os humanos. A pesca predatória mata mais de 30 milhões de tubarões todos os anos”, destaca.
Engano.
Dos 98 ataques de 2015, seis resultaram em morte das vítimas. O biólogo Marcelo Szpilman explica que 90% dos casos ocorrem devido a erros de identificação por parte do peixe, que confunde a pessoa com animais como focas e tartarugas, suas vítimas preferenciais. “A água turva confunde ainda mais o tubarão, que pode morder uma pessoa por engano e depois ir embora, ao perceber que não é uma de suas presas preferidas”, comenta Szpilman.
Apesar de a maioria dos episódios não deixar mortos, cada fatalidade gera grande repercussão. No oeste da Austrália, após dois óbitos em anos seguidos, o governo abriu uma temporada de caça, que matou 178 tubarões e só acabou devido a críticas de ambientalistas. “A pesca predatória de tubarões causa desequilíbrio em todo o ecossistema”, critica Szpilman. “Em Recife, as autoridades reduziram muito a frequência de ataques orientando a população sobre áreas que devem ser evitadas.” (AG)