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Brasil Em áudio, políticos falam em “ditadura da Justiça” e discutem saída de Dilma

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Gravações inéditas mostram conversas entre Machado, Sarney (foto) e Jucá. Sérgio Machado gravou conversas e fechou acordo de delação premiada. (Foto: Antonio Cruz/ABr)

Áudios inéditos mostram que o ex-senador e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que teve acordo de delação premiada homologado pela Justiça nesta quarta-feira (25), manteve conversas com políticos do PMDB na qual especulam sobre o até então possível afastamento da presidenta Dilma Rousseff.

Em dezembro do ano passado, Machado foi alvo de buscas na operação Lava-Jato. Ele confessou aos investigadores que, depois disso, teve medo de se tornar alvo de delatores e revelou que tinha medo de ser preso. A essa altura, o Supremo Tribunal Federal já havia autorizado prisões de pessoas condenadas em segunda instância, e Machado decidiu gravar conversas com políticos importantes.

Machado começou, então, a marcar encontros – um deles com o ex-presidente da República e ex-senador José Sarney (PMDB-AP), que estava em recuperação depois de ter levado uma queda.

A Sarney, Machado afirmou que a única solução para a crise política era Dilma sair do poder. Os dois também falaram sobre a possível saída do atual presidente em exercício Michel Temer.

No diálogo, eles chegam a especular nome que poderia vencer eleições presidenciais e criticam as nomeações feitas pelo governo de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava-Jato na Justiça Federal do Paraná.

As gravações contêm, ainda, conversa de Machado com o senador Romero Jucá (PMDB-RR), na qual o parlamentar fala sobre o posicionamento do PSDB em relação ao processo de impeachment de Dilma.

Neste trecho gravado entre fevereiro e março, os dois especulam sobre política e dizem que Dilma Rousseff vai acabar caindo, especialmente depois de o seu marqueteiro, João Santana, ter sido preso. Eles dizem acreditar que Michel Temer também.

MACHADO – Estamos num momento, numa quadra, presidente, complicadíssima.

SARNEY – Eu não vejo solução nenhuma.

MACHADO – Só tem uma solução, presidente:é ela sair.

SARNEY – Ah! Sim.

MACHADO – A única solução que existe. E ela vai sair por bem ou por mal porque economia nenhuma não vai aguentar.

SARNEY – Não. Ela vai sair de qualquer jeito.

MACHADO – Qualquer jeito.

SARNEY – Agora não tem jeito. Depois desse negócio do Santana não tem jeito.

MACHADO – Vai sair do Michel, o que é o pior.

SARNEY – Michel vai sair também.

A conversa continua com especulações sobre quem venceria uma eventual eleição. Eles dizem que no final quem vai assumir a presidência será o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mostrando que os dois não tinham ideia do que estava prestes a ocorrer na política.

A conversa foi em março. Cunha teve o afastamento determinado pelo Supremo Tribunal Federal antes mesmo de Dilma ser afastada com o processo de impeachment.

MACHADO – Saindo o Michel, e aí como é que fica? Quem assume?

SARNEY – […] Eleição. E vai ter muito, um Joaquim Barbosa desses da vida.

MACHADO – Ou um Moro… O Aécio pensa que vai ser ele, não vai ser não.

SARNEY – Não, não vai ser ele, de jeito nenhum!

MACHADO – E quem que assume a presidência, se não tem ninguém?

SARNEY – O Eduardo Cunha.

MACHADO – E ele não vai abrir mão de assumir, não.

SARNEY – Não… No Supremo não tem. Não tem ninguém que tenha competência pra tirá-lo. Só se cassarem o mandato dele. Fora daí, não tem. Como é que o Supremo vai tirar o presidente da Casa?

Possíveis eleições

Em uma conversa entre Machado e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), o agora ex-ministro do Planejamento relata como teria convencido o PSDB a aderir ao impeachment.

Até então, o partido era favorável a esperar decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que julga as irreguilaridades nas contas de campanha de Dilma e Temer.

Se a chapa for condenada, haveria novas eleições. Na época, esta era vista pelos tucanos como a melhor saída para a crise. Jucá disse que alertou que ninguém conseguiria ganhar eleição defendendo reformas necessárias mas impopulares para sair da crise econômica.

JUCÁ – Falar com o Tasso, na casa do Tasso. Eunício, o Tasso, o Aécio, o Serra, o Aloysio, o Cássio, o Ricardo Ferraço, que agora virou psdbista histórico. Aí, conversando lá, que é que a gente combinou? Nós temos que estar junto para dar uma saída pro Brasil (inaudível). E, se não estiver, eu disse lá, todo mundo, todos os políticos (inaudível), tão f***, entendeu? Porque (inaudível) disse : ‘Não, TSE, se cassar…’. Eu disse : ‘Aécio, deixa eu te falar uma coisa: se cassar e tiver outra eleição, nem Serra, nenhum político tradicional ganha essa eleição, não. (inaudível), Lula, Joaquim Barbosa… (inaudível) Porque na hora dos debates, vão perguntar: ‘Você vai fazer reforma da previdência?’ O que que que tu vai responder? Que vou! Tu acha que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas? Quem vai ganhar é quem fizer maior bravata. E depois, não governa, porque a bravata, vai ficar refém da bravata, nunca vai ter base partidária…’ (inaudível) Esqueça!

Neste outro trecho, Sarney e Machado reclamam que Dilma insiste em permanecer no governo diante da crise política e econômica.

Sarney diz que não só empresários e políticos devem pagar pelos malfeitos na Petrobras, mas o governo também.

As gravações feitas por Sérgio Machado com o ex-presidente José Sarney, com o senador Romero Jucá e com o presidente do Senado Renan Calheiros conhecidas até agora são dominadas por um assunto: as tentativas de barrar a operação Lava-Jato e obstruir a Justiça.

Segundo investigadores, no entanto, o tema principal da delação premiada é outro: os desvios de dinheiro da Transpetro para políticos ao longo de mais de dez anos.

Isto será conhecido em detalhe à medida que forem divulgados os depoimentos de Sérgio Machado, quando ficará claro porque tanta preocupação com o que Machado tem a dizer.

SARNEY – Ela não sai.(…) Resiste… Diz que até a última bala.

MACHADO – Não tem rabo, não tem nada.

SARNEY – Acha que não tem rabo. Tudo isso foi … é o governo, meu Deus! Esse negócio da Petrobras. São os empresários que vão pagar, os políticos! E o governo que fez isso tudo?

MACHADO – Acabou o ‘Lula presidente’.

SARNEY – O Lula acabou. O Lula, coitado, ele está numa depressão tão grande.

MACHADO – O Lula. E não houve nenhuma solidariedade da parte dela.

Eles também criticam as nomeações feitas pelo governo de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava-Jato.

SARNEY – E com esse Moro perseguindo por besteira.

MACHADO – Presidente, esse homem tomou conta do Brasil. Inclusive, o Supremo fez porque é pedido dele. Como é que o Toffolil e o Gilmar fazem uma p*** dessa? Se os dois tivessem votado contra, não dava. Nomeou uns ministros de m*** com aquele modelo.

SARNEY – Todos.

A conversa continua e eles reclamam que ninguém se manifesta contra as decisões de Sérgio Moro, criticam as decisões da Justiça que estão combatendo a corrupção e classificam a situação como uma “ditadura da Justiça”.

MACHADO – Não teve um jurista que se manifestasse. E a mídia tá parcial assim. Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução […]. Não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá f***.

SARNEY – A ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas!

MACHADO – E eles vão querer tomar o poder. Pra poder acabar o trabalho.

Na conversa, Machado demonstra o grau de dissimulação a que estava disposto para conseguir que sua delação fosse aceita pelos procuradores. Ele, que estava grampeando a própria conversa com Sarney, pede que o ex-presidente marque um encontro com Renan em um lugar livre de grampos.

MACHADO – Faz uma ponte que eu possa, que é melhor porque tá tudo grampeado. Tudo, essas coisas. Isso é ruim.

Outro lado

A assessoria do ex-presidente José Sarney disse que, enquanto ele não tiver acesso às gravações, não vai poder falar especificamente de cada assunto. Em nota à imprensa, o ex-presidente disse que é amigo de Sérgio Machado há muitos anos, que as conversas foram marcadas pela solidariedade, e que usou palavras que pudessem ajudar Machado a superar as acusações que enfrentava.

Sarney também disse lamentar que as conversas privadas tenham se tornado públicas, porque os diálogos podem ferir outras pessoas.

O senador Romero Jucá disse que considera que apenas uma reformulação da política e a valorização de quem não tem crime poderá construir uma saída para o Brasil. Segundo ele, o país está vivendo uma crise de representatividade, e que era sobre isso que ele queria tratar na reunião referida nos diálogos.

Em relação ao ex-senador Delcídio, Renan disse que ele acelerou o processo de cassação, cujo desfecho é conhecido. O senador afirmou ainda que não pode ser responsabilizado por considerações de terceiros e que suas opiniões sobre aprimoramentos da legislação foram públicas.

A defesa de Sérgio Machado voltou a dizer que os autos são sigilosos e que, por isso, não pode se manifestar sobre o teor das gravações.

A defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff alegou que a petista jamais pediu qualquer tipo de favor que afrontasse o princípio da moralidade pública.

O Instituto Lula declarou que o diálogo citado é fruto de mais um vazamento ilegal, que confirma o clima de perseguição contra o ex-presidente. O Instituto afirmou ainda que a conversa não traz nada contra o ex-presidente, que Lula sempre agiu dentro da lei e que, por isso, não tem nada a temer. (AG)

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