Terça-feira, 23 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 23 de agosto de 2017
A ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz, destituída do cargo pela Assembleia Constituinte daquele país no dia 5 de agosto, desembarcou em Brasília na madrugada desta quarta-feira (23).
Questionada sobre a existência de alguma relação entre o esquema de corrupção da Odebrecht com o governo de Nicolás Maduro, ela respondeu que “sim”, mas não deu mais detalhes.
Ortega Díaz veio à capital federal para participar de um evento promovido pela Procuradoria Geral da República.
Além de ter sido destituída do cargo, Díaz também perdeu o direito de exercer qualquer cargo público, teve os seus bens congelados e foi impedida de sair da Venezuela.
Ela, porém, fugiu do país com o marido e, segundo o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, está sob proteção do vizinho sul-americano.
No Brasil, a ex-procuradora da Venezuela foi convidada para participar de um evento com representantes dos Ministérios Públicos dos países do Mercosul – do qual participam Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname. O evento está marcado para asa 9h desta quarta.
Mais cedo, nesta quarta, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro,afirmou que pedirá à Interpol a prisão da ex-procuradora.
Após ser destituída, a ex-procuradora atribuiu a “perseguição sistemática” do governo Maduro a ela e aos funcionários do Ministério Público à investigação do escândalo de pagamento de propina da construtora Odebrecht em vários países da região.
Seu marido, Germán Ferrer, um deputado dissidente do chavismo, teve a prisão pedida por suspeita de integrar uma rede supostamente envolvida na extorsão de suspeitos de corrupção.
“A Venezuela solicitará à Interpol um código vermelho para essas pessoas envolvidas em crimes graves”, disse Maduro em uma coletiva de imprensa, referindo-se também ao cônjuge da ex-procuradora.
Estupro institucional
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, condenou nesta quarta-feira (23), de forma veemente, a destituição da ex-procuradora-geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz do cargo pela Assembleia Constituinte controlada pelo presidente Nicolás Maduro.
Janot deu a declaração ao lado de Ortega Díaz, que chegou a Brasília na noite desta terça (22).
“Assistimos a um estupro institucional do Ministério Público venezuelano”, disse Janot, em reunião com representantes dos Ministérios Públicos dos países do Mercosul – do qual participam Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Suriname.
Antes dos discursos, a ex-procuradora venezuelana recebeu cumprimentos de seus pares. Em sua fala, Janot disse que a autonomia do MP venezuelano foi “arruinada” com a “destituição ilegítima” de Díaz.
“Ato ilegal afetava de forma direta todos os habitantes daquele país, pois passaram a contar com uma instituição subjugada a um verdadeiro poder político ditatorial […]Sem independência, o Ministério Público do nosso vizinho ao norte não tem mais condições de defender os direitos fundamentais das vítimas e acusados, nem de conduzir com objetividade investigações criminais ou de atuar em juízo com isenção”, afirmou.
Janot informou que os MPs da região passaram a não reconhecer o órgão venezuelano pelo fato de passar a ser dirigido por pessoas designadas “ilegal e arbitrariamente” pela Assembleia Constituinte “ilegítima, ela mesma escolhida num processo eleitoral recheado de suspeitas de fraudes”. (AG)