Sábado, 20 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 7 de março de 2019
Em discurso de cinco minutos nessa quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que a democracia e a liberdade só existem quando as Forças Armadas “assim o querem”. A declaração foi feita na sede da Marinha, no Rio de Janeiro, durante a cerimônia comemorativa dos 211 anos do Corpo de Fuzileiros Navais, na sede da Marinha.
“A missão será cumprida ao lado das pessoas de bem do nosso Brasil, daqueles que amam a pátria, daqueles que respeitam a família, daqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhantes à nossa, daqueles que amam a democracia e a liberdade. E isso, democracia e liberdade, só existe quando a sua respectiva Força Armada assim o quer”, discursou.
Bolsonaro também voltou a garantir que os militares serão incluídos no projeto de reforma da Previdência apresentado pelo seu governo ao Congresso Nacional. “O que eu quero aos senhores é sacrifício, também. Entraremos em uma nova Previdência, que atingirá os militares, mas não esqueceremos das especificidades do Exército, Marinha e Aeronáutica”, frisou.
Na proposta enviada ao Legislativo no dia 20 de fevereiro, consta uma proposta geral de reforma das regras do setor, sem incluir os militares. Na ocasião, o secretário de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, disse que em até 30 dias o governo apresentaria um projeto com tópicos específicos para os militares.
Já o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) só deve votar a constitucionalidade da reforma da Previdência após o governo apresentar as regras para os militares.
“Retaguarda jurídica”
O presidente também disse que quer fazer do Brasil um país de primeiro mundo e que reconhecerá os militares neste contexto. Prometeu, ainda, debater uma nova “retaguarda jurídica” para os militares, sem entrar em detalhes sobre o que isso significa:
“Temos uma missão de mudar o Brasil. Esse foi nosso propósito, essa foi nossa bandeira ao longo de quatro anos andando por todo Brasil. Sou do Exército brasileiro mas tenho uma formação muito semelhante à de vocês, meus irmãos militares. A minha última unidade foi a Brigada de Infantaria Paraquedista. Eu quero vocês conversando, ouvindo, debatendo uma retaguarda jurídica para que vocês possam exercer seus trabalhos, em especial nas missões extraordinárias da tropa”.
Repercussão
A fala de Jair Bolsonaro sobre Forças Armadas e democracia gerou polêmica entre aliados e oposicionistas. Na tentativa de conter o mal-estar provocado pela declaração do presidente, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, deram declarações na tarde desta quinta-feira minimizando a fala de Bolsonaro. Os dois são generais da reserva.
Para Mourão, o presidente foi “mal interpretado” ao declarar que “democracia e liberdade só existem” quando as Forças Armadas desejam. Mourão diz que Bolsonaro foi mal interpretado:
“O que que o presidente quis dizer? Está sendo mal interpretado. O presidente falou que onde as Forças Armadas não estão comprometidas com democracia e liberdade, esses valores morrem. É o que acontece na Venezuela. Lá, infelizmente, as Forças Armadas venezuelanas rasgaram isso aí. Foi isso que ele [Bolsonaro] quis dizer”, argumentou Mourão.
Um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro, Heleno também minimizou a declaração do presidente da República. Ele afirmou que não viu “nada demais” na fala do chefe do Executivo federal. De acordo com o ministro, “todo mundo sabe” que as Forças Armadas são o “baluarte da democracia e da liberdade”.
“Não achei polêmica. Não vejo nada de mais na declaração. Ele [Bolsonaro] estava fazendo um discurso para comemoração dos 111 anos do Corpo de Fuzileiros Navais e ele falou o que todo mundo sabe: as Forças Armadas são o baluarte da democracia e da liberdade. Historicamente, em todos os países do mundo”, enfatizou.
No início da noite, o próprio Bolsonaro voltou a falar da declaração polêmica em uma transmissão ao vivo por meio de uma rede social. Ele reforçou na internet a manifestação que havia feito mais cedo, afirmando que, no Brasil, “devemos às Forças Armadas a nossa democracia:
“Hoje de manhã nós estivemos no Corpo de Fuzileiros Navais do Rio de Janeiro, estava comemorando o seu 211º aniversário. Usei da palavra e, para variar, vai dar polêmica em dado momento quando eu falei que no Brasil nós devemos às Forças Armadas a nossa democracia e a nossa liberdade. E assim é em todo lugar do mundo. E essa fala começou a levar para o lado das mais variadas interpretações possíveis”.