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Brasil Em meio a onda de crimes sexuais em ambientes públicos, crescem as vendas de equipamentos de defesa pessoal para mulheres

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Um aparelho que dá choque e tem a cara de um celular. (Foto: Freepik)

Samanta Aziz, 28, não costuma postar muitos stories no Instagram. Mas publicou quatro no último dia 29 de tão indignada. A coordenadora de marketing digital queria mostrar aos amigos o que precisou comprar para se defender de ataques de homens que se masturbam em lugares públicos em São Paulo: um aparelho que dá choque e que tem a cara de um iPhone.

Quatro dias antes, três rapazes foram presos na capital paulista e na região metropolitana por terem ejaculado em mulheres. Em um desses casos, um foi solto após determinação de um juiz. “Decidi comprar por revolta, desânimo e a sensação de que nada, nem a lei, é capaz de me defender do assédio do dia a dia”, disse ela à Folha de S. Paulo.

O uso desse tipo de aparelho de proteção pessoal é proibido –embora possa ser justificável no caso de legítima defesa, segundo advogados. Nos vídeos que postou, Samanta apresentava o equipamento aos amigos. Primeiro, mostrava a semelhança do dispositivo com um celular.

“Olha, gente, vem até dentro de uma caixinha, igualzinha a de um iPhone”, disse na gravação. E justificou a compra. “É uma atitude extrema. Nunca me imaginaria comprando algo assim. Foi uma medida drástica para tempos drásticos. Não dá para viver sob constante ameaça.”

Samanta disse que já teria utilizado o aparelho, por exemplo, se tivesse o dispositivo na época em que foi abusada por um rapaz dentro do trem, às 7h, em 2008. Nesse dia, ela estava com sua mãe. “Só descobri o que estava acontecendo quando o abusador sussurrou alguma coisa no meu ouvido. Aí olhei, assustada, pra ver o que estava acontecendo, e ele estava se masturbando ao meu lado”, afirmou. “Minha primeira reação foi empurrá-lo e mandar ele sair dali.”

Foi pela internet que a marqueteira Samanta comprou seu dispositivo disfarçado de iPhone. Ao entrar no site, o cliente se depara com outras versões do aparelho de choque: um maço de cigarros, uma lanterna e também os que imitam outros modelos de celulares. O que tem a cara de iPhone custa 159 reais. “Depois dessa onda de violência, posso garantir que houve aumento de pelo menos 15% na procura e, sim, vinculado à defesa da mulher. Algumas vezes é a própria mulher que compra. Mas muitas outras são os homens que compram para as mulheres que conhecem”, afirmou Anderson Costa, gerente da loja on-line Falcon Armas, com sede em Curitiba.

Quem comprou o aparelho de choque da jornalista Priscila Souza, 28, não foi ela. Foi o irmão mais velho. “Ele veio com a caixinha de um iPhone e contou que era um aparelho de choque. Disse que, como a gente tinha vendido o carro e eu estava andando muito com motorista de aplicativo, seria importante andar com aquilo”, afirmou.

“Confesso que é estranho ter que andar com isso. Não acho bacana ter. Mas é uma segurança a mais, porque a gente vê muitos casos de mulher sendo abusada, e a gente nunca acha que isso vai acontecer com nós mesmas”.

A lei 13.060, de 22 de dezembro de 2014, permite que apenas agentes de segurança pública e privada utilizem “instrumentos de menor potencial ofensivo” –categoria dentro da qual se enquadram o aparelho de choque e também o spray de pimenta. Além disso, a venda desse tipo de equipamento de segurança pessoal é restrita no Brasil. Fabricação, venda e uso desses dispositivos são controlados pelo Exército.

Quem comercializa esses produtos precisa ter a autorização desse órgão. Existe no Congresso um projeto de lei (7785/2014) que propõe a flexibilização do comércio e uso de parte desses equipamentos –no caso, do spray de pimenta. “O spray de pimenta há décadas é utilizado por forças de segurança de todo o mundo para controle de distúrbios civis, motins e revoltas, além de defesa
pessoal, e, em muitos países, é igualmente permitido a civis, especialmente mulheres, com a finalidade de autodefesa em casos de ataques”, diz a proposta do deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS). O texto está parado na Câmara dos Deputados desde 2015.

O criminalista Roberto Podval afirma que, apesar dessas restrições legais, o tema precisa ser reavaliado. “Acho que se uma mulher usar esse tipo de equipamento em legítima defesa é plausível considerar que ela agiu para se proteger. Seria ridículo interpretar de uma forma diferente”, diz. Com a onda de abusadores, a estudante Tassia Fernandes, 27, comprou o instrumento de choque e também o spray de pimenta. Ela conta que a insegurança é tanta que volta e meia deixa o equipamento em algum lugar de mais fácil acesso. “Sempre que pego um metrô ou um ônibus cheio, já tiro o spray da bolsa. Fico com ele na mão mesmo”, afirmou.

 

tags: segurança

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