Quinta-feira, 18 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 5 de janeiro de 2018
Empresas dos Estados Unidos que comercializam derivados de maconha disseram estar se preparando para uma queda nos investimentos, devido a uma diretiva emitida pelo Departamento de Justiça, na quinta-feira, que permitirá a aplicação de leis federais contra a erva em Estados que legalizaram a droga.
O secretário de Justiça norte-americano, Jeff Sessions, anunciou que o departamento está revogando uma política da época do ex-presidente Barack Obama que abrandou o cumprimento de leis federais contra a maconha em meio a uma onda de legalizações em Estados como Alasca e Pensilvânia.
“No curto prazo, esta notícia afugentará ainda mais os investidores, o que, por sua vez, freará o empreendedorismo de cannabis”, disse Nicolas Ruiz, cofundador da Cloudponics, uma startup de San Francisco que cria tecnologias que podem ser usadas no cultivo da maconha.
A legalização da maconha deu ensejo a novos negócios, que vão de plantadores a varejistas, serviços de entrega, fornecedores de suprimentos e startups de tecnologias que servem à indústria.
Os parlamentares de Estados norte-americanos que legalizaram a planta, entre eles Califórnia e Colorado, criticaram a diretiva, prometendo aplicar suas próprias leis e proteger a florescente indústria de cannabis.
“Na Califórnia, decidimos que era melhor regulamentar, não criminalizar, a cannabis”, disse o procurador-geral estadual, Xavier Becerra. “Ao contrário de outros, nós acolhemos, não tememos, a mudança”.
Mudanças
A mudança na política surge meros três dias depois de a Califórnia inaugurar o maior mercado comercial regulamentado para a maconha com fins recreativos.O financiamento para startups de maconha disparou desde a legalização do uso de maconha recreativa no Colorado em 2014.
Desde então, a indústria recebeu quase 1,3 bilhão de dólares em financiamento, mais de 600 milhões de dólares apenas no ano passado, de acordo com o instituto de pesquisas CB Insights. “Embora não esteja claro se esta diretiva impactará diretamente o próprio financiamento de cannabis, demonstra que o espaço ainda é muito incerto do ponto de vista regulatório”, explicou Nikhil Krishnan, analista sênior de inteligência da CB Insights.
“Só esta incerteza já deixa muitos investidores desconfiados, e pode prejudicar uma empresa que opera nesse espaço”.Mas investidores e empreendedores apontam para o ímpeto atual da indústria como razão para continuarem otimistas a respeito das perspectivas do setor, e Jonathan Rubin, diretor-executivo da New Leaf Data Services de Stamford, no Connecticut, prevê uma reação de eleitores, pacientes e políticos.
Atualmente, o uso recreativo de maconha é permitido em oito Eestados norte-americanos: Alasca, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Nevada, Oregon e Washington, além do Distrito de Columbia. Já a utilização medicinal da planta também é autorizada em Arizona, Arkansas, Connecticut, Dakota do Norte, Delaware, Flórida, Geórgia, Havaí, Illinois, Louisiana, Maryland, Michigan, Minnesota, Montana, New Hampshire, Nova Jersey, Novo México, Ohio, Rhode Island, Vermont e Virgínia Ocidental.
Em um memorando de uma página divulgado na quinta-feira, Sessions diz que os procuradores federais devem decidir por conta própria se dedicam recursos a casos relacionados à maconha, baseados nas outras demandas de seus distritos. Segundo ele, os promotores devem seguir os “princípios bem estabelecidos de todos os processos federais”, ao considerar a gravidade do crime e seu impacto na comunidade. No entanto, ainda não está claro como a mudança pode afetar o mercado da cannabis nos Estados que a legalizaram.
A nova medida já é alvo de críticas, inclusive dentro do Partido Republicano. O senador conservador Cory Gardner, do Colorado, disse que o Departamento de Justiça “pisoteou” a vontade dos eleitores, já que a liberação do uso recreativo da erva foi aprovada pelo voto popular. Durante a “era Obama”, a estratégia da pasta era desencorajar ações que interferissem na venda de maconha nos estados onde ela foi liberada.