Segunda-feira, 18 de março de 2024
Por Redação O Sul | 9 de dezembro de 2016
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Convidado, formalmente, via México, viajei a Havana num Ilyushin (avião Russo mal tratado) operado pelas Linhas Aéreas Cubanas. Colocaram-me na primeira fila, separado dos demais passageiros por uma cortina escura.
Recebido pelo Ministro da Educação, fui conduzido a um palacete que fora residência de um mega produtor açucareiro, desapropriada sem pagamento de indenização, por “la Revolucion”. Nesse ínterim, já acompanhado por seguranças cordiais que controlavam meus passos.
Não havia telefone no andar superior que me foi reservado. As ligações passavam por uma centralzinha operada pelos meus “controladores”.
O Ministro da Educação levou-me à periferia da capital. Passamos por áreas de pobreza, mas não de miséria, até chegar a uma Escola Fundamental. A criançada esperava a visita. Havia um piano na sala onde um professor tocava trechos da Aquarela do Brasil e os alunos cantavam em Português.
O Ministro contou para os pequenos que o Brasil era um país amigo, até parecido com Cuba, só que maior. Despedi-me de “los muchachos” , ao som de uma “salsa” que, além de dançar, cantavam em altos brados.
Quando falei de visitar a Universidade, vi que a ideia não agradara o Ministro que desconversou. Apesar de reiterar sua formação revolucionária, sua admiração por Fidel, não ocultou que era necessária a renovação de lideranças: inclusive, ao não ocorrer, prejudicava a sistemática do ensino: estamos atrasados no uso de tecnologia, me confidenciou.
O Ministro da Cultura me fez assistir ao ensaio de uma peça, que contava a vida heroica de um revolucionário. Destacou que havia muito a fazer, dada a riqueza cultural do país mas tinha limitações face a precariedade orçamentária.
O Ministro dos Esportes ex-atleta, inicialmente me fez saber de suas medalhas, ganhas em Jogos Panamericanos, e também em Olimpíadas. Contou que o governo investia nos esportes. Programou um encontro com o peso pesado Stevenson (três ou quatro medalhas olímpicas de ouro) e que, se dizia, “por amor a Cuba”, nunca aceitara o convite de profissionalizar-se e ir para os Estados Unidos onde teria bolsas de milhões de dólares.
Insistiram que eu fosse a um macro laboratório de pesquisas, onde o Diretor disse-me que há 80 dias tinha pronto um remédio que fora aprovado em todos os testes. Perguntei: e por que não libera? Respondeu, com um ar “blasé”: “estamos esperando que o Comandante (Fidel) marque sua visita. Ele fará o anuncio”.
O Ministro da Educação convidou-me a acompanha-lo a um evento de repercussão. E era de fato. No maior Auditório de Havana, aconteceria a formatura de quase três mil normalistas. Detalhe importante: as formandas recebiam, no ato, com o diploma de formatura, o contrato para lecionar. Foi um verdadeiro comício.
Além da representante das formandas, que agradeceu “al Comandante” pelo diploma, discursaram um porta voz “veterano” da UNE la deles, o Ministro da Juventude (com idade demais), o Ministro da Cultura (que se disse inspirado em Garcia Marquez) e o Ministro da Educação (prometendo uma festa maior para o ano seguinte).
Ao concluir, sem aviso-prévio, passou-me a palavra. Falando em espanhol, ganhei estimulantes palmas. Não passei de 7 a 8 minutos, nos quais lembrei a frase de um Presidente argentino: “todo nos une, y nada nos separa”, para destacar os esforços comuns que fazíamos pela Educação. Aproveitando-me do pensamento do inspirado poeta, me permiti adata-lo: “Caminante, no hay camino; el camino para el saber se hace al andar”.
Só me apercebi que a plateia aplaudia de pé (desconfio que estava tudo programado) quando o Ministro da Educação deu-me um abraço reforçado e anunciou o final do evento. Era, então, início da tarde. Acreditei que o programa cubano fora cumprido. Corrido. Tivera coisas importantes e outras, propagandísticas. Enquanto arquitetava algum programa pessoal, os “meus vigilantes” me diziam que havia um convite para ir a Varadero, a mais famosa praia cubana.
Em menos de 30 minutos chegávamos ao turístico destino à beira do Caribe. De novo, ofereceram-me bela casa de praia (desapropriada pelo Governo) para usa-la na minha rápida estada. Aproveitava a água tépida (depois de uma caminhada pela costa) tendo por perto os “dois assessores”, quando um terceiro (o motorista) comunicou que eu precisava retornar a Havana.
Perguntei-lhe: para que? Não sabia mas era importante e oficial, explicou-me. Ao chegar no limite da zona urbana, trocamos de carro. Agora, um veículo flagrantemente oficial. O outro servia de escolta. Surpreendi-me com a presença do Ministro da Educação. Foi ele que acabou com o mistério: eu ia ser recebido por Fidel. Daí, rumo ao Palácio. Eu ia falar com “DEUS”!
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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