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Colunistas Engodos e aparências (2)

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

No decurso das últimas semanas, pude ver espetáculos de desordem, anarquia e desrespeito com a cidadania produzidos por parlamentares brasileiros. Estariam discutindo projetos referentes à erroneamente chamada de reforma política mas que, na prática, não passa de um desordenado esforço dos deputados para, de qualquer jeito, conseguir reeleger-se.

Estão vivendo momentos em que não há remédio ansiolítico que lhes reponha os nervos no lugar. Aterrorizados (lógico que preservo aqueles que se mantem numa postura ética – e não são tão poucos – mas muitos deles contribuem, com seu silêncio envergonhado, para que os “mercadores” apavorados ante a rejeição da cidadania possam ser enquadrados na dura síntese: metade, capaz de tudo; metade, capaz de nada.

Por quase 15 anos, estive na Câmara e no Senado. Vivi as agruras de um início de mandato de estreante, não faz mais de três décadas e pouco. Participei de sessões (por exemplo, uma em que atravessamos a madrugada discutindo, no Senado, a lei orçamentária) intermináveis e cansativas). As vezes, um que outro, enamorado de sua oratória – que, na prática, era pura verborragia – cometia um deslize no trato com um colega com o qual debatia.

Era isso e não mais. Não tínhamos a placidez da Câmara dos Lordes mas estávamos apenas um degrau abaixo da também disciplinada Câmara dos Comuns. Na Constituinte, houve momentos de radicalização ideológica, que ficaram nisso mesmo: em parte, pelo respeito à instituição; em parte, pela competência jeitosa do Presidente Ulysses Guimarães que mantinha a ordem sem perder a ternura. Deixemos, porém, o passado e, atentos ao presente,  pensemos no e projetemos o futuro, pois, como já se disse, é nele que vamos viver o resto de nossas vidas.

Voltando ao tema central, é impossível dispor sobre as competências dos partidos – pilares de uma necessária estrutura sólida numa democracia representativa – sem antes saneá-los – expurgando o aproveitamento indevido de meia dúzia de dirigentes perpetuados no poder que só representam, a si mesmos.

Para isso, indispensável aprovar a clausula de desempenho eleitoral mínimo, fazendo com que o partido passe pela prova de suficiência do voto – verdadeira certidão múltipla com fé pública – e diga (e possa dizer) que representa tantos ou quantos milhões de eleitores e, em seu nome, legitimamente está propondo, ou aprovando, ou rejeitando um projeto de lei ou uma emenda constitucional.

Partidos que defendam, assumidamente, uma ideologia. Partidos que, no seu nome, já digam à sociedade o que propõem: uma linha clara, conscientemente adotada, pelos seus integrantes. Não essa farsa de 35 partidos, sem lenço nem documento, criados para apropriar-se (posseiros invasores) de espaços de rádio e televisão que, a peso de muito dinheiro, cederão aos grandes partidos.

Partidos comprometidos com o que propõem. Na analise do espectro político é fácil concluir que, com 5 partidos, desde que autênticos, estariam representadas as diferentes linhas ideológicas e programáticas: direita, centro direita, centro, centro esquerda, esquerda.

Partidos que só terão preservados o seu espaço se tiverem uma vivência própria de respeito face as divergências internas. Só poderá ser porta voz que mereça ser ouvido, não apenas aquele que defender a democracia para a sociedade como um todo mas que a pratique no seu dia-a-dia. É o velho, amoral e sempre renovado jargão: faça o que eu digo e não faça o que eu faço.

Já disse que (ingênua ou dolosamente) muitos – nem tantos – acreditam ou querem fazer que outros acreditem que, se houver troca do nome partidário, modelagem importada açodadamente da Europa, onde, parcialmente e em diferentes circunstâncias, talvez num momento de transição ocorre, sem ressaltar a sua não comprovação efetiva do êxito. Aqui há quem pense resolver tudo com uma passada de borracha na página suja ou vazia da vida gremial; como se o novo batismo ensejasse um milagre de renascimento sedutor e probo. Pelo jeito, só por falso milagre, a mudança do mero adjetivo estaria curando o doentio substantivo: um contrassenso.

Partido é algo concreto, mesmo tendo – ou devendo ter – no seu âmago a capacidade de não perder o abstrato. Tratá-lo como se a sua missão se esgotasse na periodicidade casual e de resultado as vezes esdrúxulo de uma eleição (momento importante, mas não razão da sua vida) é trata-lo como se fosse algo safrista. Muito pouco, quase nada, do que deve ser um partido COM LETRA MAIÚSCULA.

Voltando à ideia inicial – do caos em nosso Congresso onde se tem a impressão do cada um por si, do salve-se quem puder – esquecendo o caráter representativo de nossa democracia, parece adequado lembrar o cínico provérbio italiano: “para que serve o poder se não se pode abusar dele?”

Por isso, se não sanearmos para valer os partidos, teremos uma falsa democracia, erguida sobre areia movediça.

É imprescindível que, sobretudo no plano ético, como no sutil provérbio sueco, no Congresso brasileiro haja mais pessoas do que gente.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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