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Brasil “Entrei na faculdade para roubar melhor”, diz o ladrão da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro

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Laéssio Rodrigues de Oliveira é um ladrão com formação universitária. (Foto: Reprodução/YouTube)

Laéssio Rodrigues de Oliveira é um ladrão com formação universitária. “Entrei na faculdade de biblioteconomia para saber como me portar no meio dos bibliotecários, apenas para roubar melhor”, conta ele, que cursou três anos na Fesp, na Vila Buarque, em São Paulo. “Faltou um para me formar.”

Furtando em todo o Brasil há mais de duas décadas, Oliveira estima já ter subtraído 60 mil itens das diversas instituições que visitou, uma expressiva maioria deles composta por revistas. “Só roubo revistas do século 19 e até 1960”, explica. Quanto a fotografias, foram umas 10 mil. “Duas mil do Itamaraty, mil da Biblioteca Nacional e umas 500 do MIS em São Paulo”, contabiliza.

Do Museu Nacional, que pegou fogo há três meses, ele diz ter furtado 3.000 gravuras, algumas revistas e 28 livros. “Salvei essas peças, não é mesmo? Ou hoje seriam cinzas”, diverte-se o homem de 45 anos.

Oliveira já roubou de todo jeito: “No começo, era tão fácil que eu chegava com duas malas enormes, vazias, dizendo que eu estava a caminho da rodoviária. Os funcionários não desconfiavam nos anos 1990. Saía com as malas destrambelhadas de tão cheias”, gargalha.

Depois, passou a entrar com mochilas, enrolava gravuras nas pernas, escondia nos banheiros, jogava pela janela etc. “Roubei umas mil revistas históricas da ECA-USP jogando pela janela da biblioteca.”

Após ser objeto do documentário “Cartas para um Ladrão de Livros”, de Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini, que estreou no início deste ano, Laéssio agora se prepara para voo mais alto. Vai virar filme de ficção, com direção de Mauro Lima, de “Meu Nome Não É Johnny”.

“Ele é um criminoso, então vai ser um filme de anti-herói, mas é uma história eletrizante, na qual o espectador acaba torcendo por ele. Como tantos filmes de trapaceiros e vigaristas”, afirma Lima.

A obra, que deve chamar “Ladrão de Livros”, está no primeiro tratamento de roteiro e, se tudo andar como deve, será filmada em 2019 e estreará em 2020. O filme e o documentário têm produção da Boutique Filmes, responsável pela série “3%”, da Netflix.

Oliveira, que já esteve cinco vezes na prisão, atualmente vive em liberdade. Apesar de ter meia dúzia de processos correndo contra ele. Não sente nenhum arrependimento e, pior, com o passar do tempo deixou de sentir excitação com os roubos. “Acabou a adrenalina, o savoir-faire”, diz, pela primeira vez visivelmente triste na entrevista.

Documentário

“Tirar coisas do Estado, eu acho de bom grado”, declara, sem disfarçar certo orgulho, Laéssio Rodrigues de Oliveira, o maior ladrão de obras raras da história recente do Brasil.

Ele se justifica: “A gente tem um Estado tão desmoralizado, que não cuida de acervo, educação ou cultura, que eu sinto é prazer em tirar essas coisas dos ambientes públicos. O governo depois que se vire pra explicar”.

Se é difícil discordar da avaliação, também o é tomá-la como justificativa para o crime. É neste fio da navalha, entre simpatia e repulsa, que se equilibra o documentário “Cartas para um Ladrão de Livros”, dos jornalistas-cineastas Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini.

A produção foi criticada ainda nas filmagens pela possível a glamorização de um fora da lei. Investir em Laéssio foi aposta alta. Pobre e ambicioso, inteligente e autodidata, divertido, vaidoso e amoral, ao aceitar ser objeto de um filme, ele se lança na empreitada de narrar furtos como feitos para construir uma espécie de legado.

No filme, Laéssio conta a história do balconista de padaria que entra no mercado ilícito de obras raras a partir da paixão por Carmem Miranda, que o teria levado a feiras de antiguidades, bibliotecas, museus e arquivos públicos na busca por itens para colecionar.

O documentário acompanha entradas e saídas da prisão de 2012 a 2017, pontuadas pela conversas entre ele e um dos diretores —o que contorna maniqueísmos e agrega camada de conflitos ao binômio crime e castigo.

Se na exposição da banalidade de um ladrão confesso está um dos méritos da obra, outro está em tudo aquilo que não é dito ou censurado no filme.

O longa evidencia o que se chama de seletividade do sistema de justiça do País: ele já foi preso e condenado ao menos quatro vezes, mas a apuração nunca atingiu colecionadores que receptavam obras.

O uso de tarjas pretas para cobrir os lábios do protagonista na única ocasião em que cita um cliente e para censurar trechos de um telegrama que ameaça os diretores de processo caso certo colecionador tenha o nome citado dão ideia do tamanho da encrenca.

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