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Cinema Os escândalos sexuais em Hollywood inspiram séries e filmes

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Em 'Glow', da Netflix, executivo de televisão marca um encontro particular com Ruth Wilder (Alison Brie), no qual inicia investidas sexuais. (Foto: Netflix/Divulgação)

Uma atriz é convidada para jantar com um importante produtor de televisão, mas a reunião, que acontece num quarto de hotel, descamba em investidas sexuais indesejadas. O incidente poderia ter saído do noticiário dos últimos 11 meses, pela semelhança com relatos das mulheres que acusaram Harvey Weinstein e outros poderosos de assédio. Mas é uma cena da segunda e atual temporada de “Glow” — uma das atrações de TV e cinema que estão fazendo referência direta ao maior escândalo sexual da história de Hollywood.

“Unbreakable Kimmy Schmidt” faz parecido, mas inverte os gêneros. Numa das primeiras cenas da nova temporada, a protagonista demite um funcionário após ele demonstrar desconforto com, digamos, toques físicos.

“O que mostramos foi o quão fácil uma mulher pode se encontrar numa ladeira escorregadia”, comparou a atriz Alison Brie, protagonista de “Glow”, em entrevista à “The Hollywood Reporter”. Os criadores das comédias, ambas da Netflix e indicadas ao Emmy, confirmaram ter sido influenciados pelos movimentos #MeToo e Time’s Up.

“A ficção ajuda a olhar a realidade de forma menos dura, e o público se envolve mais. Tanto Glow quanto Kimmy Schmidt são atrações sobre a opressão às mulheres, e, portanto, se apropriam do escândalo Weinstein com naturalidade”, avalia Pedro Curi, coordenador de Cinema e Audiovisual da ESPM.

Na segunda temporada de “One Mississippi”, da Amazon, um chefe se masturba diante de uma funcionária, numa reunião. A mulher congela, em pânico. Quando ele termina, age como se nada tivesse acontecido.

“O objetivo foi mostrar como você pode ser assediado sem sequer ser tocado”, explicou a comediante Tig Notaro, cocriadora e protagonista da série, cujo produtor era o humorista Louis C.K., acusado de fazer exatamente o mesmo diante de colegas de trabalho.

E essa onda de obras inspiradas na era #MeToo não deve quebrar tão cedo. Um dos reis da televisão, Ryan Murphy (de “Feud” e “American Crime Story”) já prepara uma série dramática com o sugestivo título “Consentimento”, baseada nos atos de Weinstein, Kevin Spacey, James Toback e outros nomes que caíram em desgraça por causa de atos reprováveis feitos em épocas nas quais mulheres e homens tinham menos voz. No cinema, Brian de Palma anunciou um filme de terror chamado… “Predador”. Será ambientado em Hollywood e terá um “magnata do cinema” no centro da trama.

Nem mesmo o teatro está imune. O roteiro de “Bitter Wheat”, um suspense sobre Harvey Weinstein escrito pelo vencedor do Pulitzer David Mamet, já foi concluído. O dramaturgo americano já havia tratado de assédio em sua peça “Oleanna”, de 1994. Mas dessa vez é diferente, como ele explicou ao jornal “Chicago Tribune”.

“Penso muito sobre isso agora. Tenho filhas e um filho pequeno. Toda sociedade precisa lidar com o gênio ingovernável da sexualidade, sem dar muito certo. Há grande dificuldade quando há mudança de comportamento, que é o que está acontecendo atualmente.”

“A realidade como fonte de inspiração para a ficção não é algo novo. O que mudou é a velocidade entre o fato e a fabulação”, exemplifica o roteirista George Moura, que lança nesta quinta-feira (2) “O nome da morte”, sobre a história real do matador de aluguel Júlio Santana.

Até mesmo filmes rodados antes do escândalo, mas lançados no contexto atual, estão sendo reinterpretados. “Vingança”, de Coralie Fargeat, que acaba de entrar nos serviços de VOD, coloca no centro da ação uma mulher em busca de retaliação contra os homens que a violentaram. Foi definido pelo “The Guardian” como “uma arma feminista para a era #MeToo.”

“A ficção é uma máquina de criação de empatia, às vezes mais potente que outros formatos, porque deixa de lado a imparcialidade. Colocar o espectador no olhar da vítima é útil porque há dificuldade de imaginar o que ela enfrenta”, aponta a roteirista Antonia Pellegrino, de “Bruna Surfistinha” (2011) e “Tim Maia” (2014).

Aos poucos deixando de ser um tabu, o tema assédio deverá surgir com mais frequência no audiovisual. É o que pensa Jennifer Fox, diretora de “The Tale”, que estreia na HBO dia 18. A história, baseada nas experiências da própria cineasta, fala de uma mulher forçada a reavaliar o abuso sexual sofrido na infância.

“Antes nós levávamos a culpa e éramos silenciadas pela cultura da vergonha, mas agora há menos medo de travar essas conversas”, ecoou a protagonista do longa, Laura Dern, numa coletiva em maio.

Para o cineasta e roteirista carioca Fellipe Barbosa, de “Casa Grande” (2014) e “Gabriel e a montanha” (2017), a ficção traz uma urgência particular. Ele resume:

“A encenação traz a história para o presente, como se os acontecimentos estivessem se desenrolando em tempo real. E isso traz verdades que às vezes se sobrepõem à memória e ao passado.”

 

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