Terça-feira, 23 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 18 de julho de 2017
A Justiça espanhola teria emitido uma ordem internacional de busca e captura contra o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira. A informação está sendo revelada pelo site espanhol de notícias Cronica Global. O motivo seria a participação do ex-dirigente no esquema montado por Sandro Rosell para desviar milhões de dólares em jogos amistosos da seleção.
De acordo com a imprensa espanhola, a ordem teria partido da juíza Carmen Lamela, da Audiência Nacional. “Teixeira obteve, de forma indireta, mediante a um emaranhado societário que se nutria da renda do acordo da ISE para a Uptrend, grande parte dos 8,3 milhões de euros que a ISE transferiu para a Uptrend pela suposta intermediação desta última”, afirmou. A decisão da juíza seria do dia 12 de junho.
Conforme revelado ainda em 2013, acordos secretos permitiram que a renda dos jogos da seleção fosse desviada para uma empresa em nome de Sandro Rosell, aliado de Teixeira e ex-presidente do Barcelona.
No mês passado, Rosell foi preso e a Justiça espanhola apontou que parte do dinheiro que ia para sua empresa, a Uptrend, terminava com o próprio Teixeira. “Durante 2010, Teixeira e sua mulher eram detentores de dois cartões Visa Platinum, com contas da Uptrend em Andbank”, apontou.
“Resulta da investigação que, de sua posição de presidente a CBF, (Teixeira) influenciou na concessão de direitos audiovisuais aos jogos da seleção, e, enquanto isso, por trás e para o prejuízo da CBF, Rosell negociava um contrato de intermediação”, apontou o documento do processo do caso do ex-dirigente catalão.
Os investigadores concluem, portanto, que “parte dos fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao próprio Teixeira”. De acordo com a Audiência Nacional, os fatos apurados levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o “destinatário do dinheiro, e não a Confederação (CBF)”.
As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de que o delito de Teixeira foi “a apropriação por parte do presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados pela seleção brasileira”.
Desde a prisão de Rosell, a defesa de Ricardo Teixeira tem negado qualquer a culpa em qualquer tipo de irregularidade.
Percurso do dinheiro
A transformação dos jogos da seleção em uma máquina de fazer dinheiro teria começado na Argentina, com o presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino), Julio Grondona, adotando o modelo. A CBF obteve uma cópia dos acordos que a seleção argentina fechou e tentou adotar o mesmo esquema para o Brasil. Ao lado de Rosell, a CBF saiu em busca de parceiros que pudessem fechar um acordo mais amplo para promover os jogos da seleção pelo mundo. Rosell e Teixeira mantiveram por anos uma amizade e teriam fecharado acordos comerciais, principalmente quando o catalão era o representante da Nike no Brasil.
Os direitos sobre os jogos da seleção acabariam sendo adquiridos por um grupo de investidores árabes da ISE, a empresa com base nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal. Logo depois, um acordo entre a ISE e Kentaro acabou permitindo que a empresa suíça realizasse a operação dos amistosos.
O presidente do Barça chegou a ser investigado no Brasil por conta de um amistoso entre Brasil e Portugal, em Brasília.
Também já havia sido revelado o envolvimento de Rosell na tentativa de Teixeira em obter residência em Andorra, o que acabou ocorrendo em 2012. Entre os operadores que tramitaram o pedido de residência estava Joan Besoli, também preso na última terça-feira.
Investigações conjuntas entre a Suíça e Andorra também levaram à identificação de 4,9 milhões de euros (quase R$ 18 milhões) em uma conta no principado e usando a Banca Privada d’Andorra. A instituição era presidida por Ramón Cierco Noguer, outro diretor do Barça. (AE)