Brasil Especialistas preveem desgaste político entre Brasil e Venezuela

Os integrantes da comissão antes do embarque em ônibus que foi bloqueado por manifestantes. (Foto: Reprodução)

As relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela saem arranhadas após o episódio quando senadores brasileiros foram impedidos de visitar presos políticos em cadeias venezuelanas e acabaram hostilizados por simpatizantes do governo do presidente Nicolás Maduro – o ônibus com os parlamentares teve de voltar ao aeroporto de Caracas e eles retornaram ao Brasil.

“É um incidente diplomático lamentável que ocorre em uma situação limite de conflito político e social pela qual passa a Venezuela”, declarou o professor Paulo Pereira, do Departamento de Relações Internacionais da Pucsp (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). “Mas era previsível que isso fosse acontecer na situação conflituosa que se estabeleceu”, completou o docente.

Já a pesquisadora Carolina Silva Pedroso, do Instituto de Estudos Econômicos  Internacionais da Unesp (Universidade Estadual Paulista), acredita que o episódio internacional terá consequências políticas apenas, mas não comerciais. “Os interesses econômicos são muito grandes”, disse. “Mas esse episódio é bastante complicado pela situação de polarização política que vive tanto a Venezuela quanto o Brasil”, afirmou.

Desde que o PT chegou ao poder, o comércio bilateral entre Brasil e Venezuela registrou um aumento médio próximo de 10% ao ano. Saiu dos 880 milhões de dólares, em 2003, para 6 bilhões de dólares em 2009. Somente no ano de 2007, os investimentos brasileiros na Venezuela atingiram a cifra de 3 bilhões de dólares.

Mensagem

O mal-estar diplomático iniciado na semana passada continuou na sexta-feira (19), quando veio a público uma mensagem de celular enviada pelo vice-presidente venezuelano, Jorge Arreaza, para Lilian Tintori, mulher do líder oposicionista Leopoldo López, na qual ele debochou da comissão de senadores brasileiros. “Se os senadores estão aqui, é porque não têm muito trabalho por lá, no Brasil. Assim, umas horas a mais ou a menos, dá no mesmo”, dizia o texto.

A comitiva formada pelos senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO), Aécio Neves (PSDB-M), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), José Medeiros (PPS-MT), Agripino Maia (DEM-RN), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Ricardo Ferraço (PMDB-ES) viajou à Venezuela para verificar a situação de violação dos direitos humanos no país. A intenção era interceder por políticos opositores ao governo Nicolás Maduro que estão detidos, pedindo a libertação de Leopoldo López, Antonio Ledezma e Daniel Ceballos.

Os senadores acusaram o governo Maduro de descumprir as cláusulas democráticas e pediram a exclusão do país do Mercosul. “Vamos atuar junto aos órgãos do Mercosul para a exclusão da Venezuela”, afirmou Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Conluio

Senadores integrantes da comitiva disseram que houve uma ação deliberada dos governos brasileiro e venezuelano para que os parlamentares não tivessem acompanhamento diplomático e fossem abandonados.

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), pediu o depoimento do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no Senado para dar explicações.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), acusou diretamente a presidenta Dilma Rousseff de ter dado a ordem para que representantes do Itamaraty não acompanhassem a comitiva.

Segundo ele, o embaixador do Brasil na Venezuela, Rui Pereira, havia prometido acompanhá-los durante toda a viagem, mas não o fez. A explicação dada é que ele recebeu ordens neste sentido. O diplomata esteve apenas no aeroporto de Caracas.

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