Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 3 de setembro de 2015
A origem humilde não impediu que a estilista Lua Guirra, 35 anos, atingisse a alta costura no Distrito Federal: objetos que normalmente iriam para o lixo – como garrafas PET, fitas VHS, caixas de ovos, jornais e plásticos – ganham nova utilidade pelas mãos dela e se transformam em peças de até 2 mil reais. Entre as criações está um vestido de noiva feito com 30 rolos de papel higiênico e tiras de TNT.
“Faço aquele trabalho artesanal e fico feliz em criar coisas diferentes, únicas, que ninguém imaginava fazer com esse tipo de coisa. Já vi peças parecidas com as minhas com pano, mas não trazendo lixo. O bom que estou vendo nisso é fazer uma arte única”, conta.
As primeiras experiências no mundo da moda começaram na infância. Quando criança, Lua costurava roupas de bonecas. Na adolescência, não gostava de estar igual aos outros e decidiu fazer as próprias peças. Depois de adulta, se especializou em customizar e ajustar vestidos de noiva em ateliês de Brasília. Também já trabalhou como modelo em algumas ocasiões.
Mas o envolvimento mesmo com a profissão só aconteceu quando, a pedido de um dos nove irmãos, criou vestidos para um desfile beneficente de uma creche, em outubro de 2013. As peças dela chamaram a atenção, e Lua passou a ser convidada para eventos e fotos de revistas.
Desde então, a mulher conta ter feito 20 eventos e criado 30 peças. A matéria-prima vem de doações de amigos e vizinhos, além de fãs em redes sociais. Restos de bijuterias, copos descartáveis, cadernos, formas de brigadeiro, folhas de cajueiro e livros se juntam, no ateliê improvisado em casa.
O tempo de produção de cada peça varia entre uma semana e dois meses. Por causa do material, a estilista recomenda que as roupas sejam mantidas em ambientes secos e sem exposição ao sol. Os itens geralmente são feitos para eventos de empresa, e a estilista tem 16 modelos voluntárias para apresentá-los.
“Há pouca encomenda, porque ainda há muito preconceito em relação ao uso de material reciclável”, explica Lua. “Reciclagem aqui no Brasil é visto como lixo. Simples assim.”
Apesar da baixa procura de clientes, a mulher já recebeu convite para levar o trabalho para a Itália. Ela agora busca patrocínio para conseguir fazer a viagem e passar um ano em Milão estudando moda.
“O diferencial é o alerta ambiental e conscientização, além da arte de criar looks chamativos, que mexem com a imaginação do público”, avalia a estilista. “E o maior benefício é o prazer de ser reconhecida através da arte da reciclagem.” (AG)