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Por Redação O Sul | 16 de março de 2018
Comando do Exército autorizou, por meio de uma portaria publicada no dia 8 de agosto de 2017, que agentes de segurança no Brasil, como policiais civis e militares, comprem armas de calibre 9 mm para uso pessoal fora do trabalho. Foram projetis com essa característica que mataram a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu o motorista Anderson Gomes, no Rio Janeiro, na quarta-feira.
Forças de segurança (polícias estaduais, guardas municipais, entre outros) não podem utilizar armas deste calibre durante o serviço. Nas ruas, policiais militares usam pistolas calibre .40 como armas oficiais autorizadas.
Os agentes, porém, podem recorrer a armas de calibre 9 mm para segurança própria, fora do serviço. Com a portaria número 967, do ano passado, os agentes passaram a ter o direito de comprar para fins particulares até duas armas “da indústria nacional” com porte restrito. Além da 9 mm, foi liberada a aquisição de pistolas .357 Magnun, .40 S&W e .45 ACP.
Abrangência
As categorias que podem adquirir essas armas para uso particular são:
– Policiais rodoviários federais;
– Policiais ferroviários federais;
– Policiais civis
– Policiais Militares;
– Bombeiros militares;
– Integrantes das polícias legislativas do Congresso Nacional;
– Auditores da Receita Federal;
– Analistas tributários envolvidos na repressão de crimes.
A pistola 9 mm é adotada como arma-padrão por Exército, Marinha e Aeronáutica, as três Forças Armadas do Brasil. A PF (Polícia Federal), por sua vez, utiliza a pistola .45, da fabricante austríaca Glock, e pode contar com a autorização eventual do Exército para a compra e uso de armas 9 mm.
Mercado negro
Devido à versatilidade, facilidade de compra, e poder de perfuração, esse tipo de munição é usada também por criminosos.
A 9 mm é a munição mais usada pelos criminosos no País, de acordo com especialistas em armas, devido à facilidade de se adquirir a munição no mercado negro e no exterior, além de ser mais acessível, em termos de preço, que munições de outros calibres.
O alcance útil para atingir com precisão uma pessoa pode chegar a 100 metros, de acordo com policiais ouvidos. Quando disparada, a munição de 9 mm sai a velocidades que variam de 1.180 km/h a 1.560 km/h, dependendo do modelo da bala, que pode pesar de 8 a 9,5 gramas, segundo a fabricante de munições brasileiras CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos).
Balas 9 mm podem ser utilizadas em submetralhadoras, e não só nas pistolas deste calibre. Há também outros tipos de pistolas que são adaptadas e modificadas para usarem este tipo de munição.
Poder de perfuração
A principal diferença entre a 9 mm e a munição usada pelos policiais nas ruas, a .40, é a que a primeira possui poder de perfuração maior, provocando danos maiores. Uma munição de 9 mm pode perfurar no máximo até duas pessoas seguidas, mas isso depende de requisitos técnicos da arma e do tipo de ponteira (parte que atinge a vítima).
Por outro lado, a munição normalmente usada pelas polícias nas pistolas .40 possui maior “stopping power” (poder de parada), provocando menos danos internos na pessoa alvejada, mas limitando sua ação.
“A 9 mm, que é adotada pelo Exército, tem poder maior de destruição”, disse o coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública. Já a .40 o impacto é mais forte, ela derruba mais rápido a pessoa, que é o que o policial precisa: que o criminoso armado pare de atirar contra ele rapidamente, em caso de confronto.”
Segundo ele, apesar de causar mais danos, a 9 mm não impossibilita que a pessoa atingida reaja. “Houve um caso de um criminoso atingido por um policial com 9 mm nos Estados Unidos que teve o rim perfurado e destruído, mas conseguiu atirar e ainda matar um policial”, disse o especialista.
As balas utilizadas pelos criminosos são do lote UZZ-18, vendido para a Polícia Federal de Brasília em 2006, pela empresa CBC. A Polícia Civil do Rio e a Polícia Federal investigam se munições do lote foram desviadas.
Munições do mesmo lote UZZ-18 também foram encontradas em vítimas da maior chacina do Estado de São Paulo. Os assassinatos de 17 pessoas ocorreram em Barueri e Osasco, na Grande São Paulo, em 13 de agosto de 2015. Ao todo, três policiais militares e um guarda-civil foram condenados pelas mortes.