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Mundo Famílias enviam comida para quem ficou na Venezuela

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A estimativa da ONU é de que 3,7 milhões de venezuelanos estejam em estado de desnutrição. (Foto: Reprodução)

Os irmãos Pinto, cada um com sua família, ocuparam a metade de um lote baldio na Rua Pacaraima, em Boa Vista. Os venezuelanos vivem dentro de barracos de lona, cozinham em latas de tinta sobre um fogo rudimentar, tomam banho com a água que sai de um cano na rua. As crianças estão doentes, em meio a muito lixo, em uma situação limite para as cinco famílias. As informações são do jornal O Globo.

Na Venezuela, nenhum dos cinco irmãos havia vivido a experiência de dormir na rua – ou sob lona num lote abandonado. Eles têm casa em El Tigre, no Norte do país vizinho, a 14 horas de Boa Vista. Mas passavam fome. Por isso, viraram imigrantes. Há seis meses no Brasil, o esgotamento abate cada um deles. Decidiram voltar, mesmo sabendo que encontrarão um país pior. Uma razão os motiva a fazer o caminho de volta: levar, para consumo próprio e para quem ficou no país, os fardos de comida que acumularam a partir da mendicância na capital de Roraima.

Os meninos estão doentes. Quero voltar para levar a minha comida. Caminhei por seis meses aqui, fui acumulando os alimentos. E quero levar para El Tigre”, diz Maria Pinto, de 37 anos, que está na ocupação na Rua Pacaraima com o marido e quatro filhos, entre 2 e 15 anos.

O patrimônio de Maria, hoje, são seis fardos com cem quilos de arroz, feijão, macarrão e biscoito que ela guarda dentro de seu barraco. A irmã, Yusmare, 29, tem apenas dois fardos, suficientes para três semanas. Mãe de quatro crianças, todas elas vivendo no lote baldio, Yusmare quer acumular mais comida, até dezembro, quando planeja voltar à Venezuela. O mesmo pretende fazer Andrea, o marido e suas três crianças.

Há um ano, os venezuelanos que vagavam por Boa Vista e Pacaraima, a cidade brasileira que está na fronteira com a Venezuela, tinham como principal preocupação juntar algum dinheiro para mandar aos parentes que ficaram no país vizinho. A regra valia para qualquer quantia ganha nas ruas e em pequenos “bicos”, sejam R$ 2, R$ 20 ou R$ 50. A crise na Venezuela se agravou ainda mais, a economia encolheu pela metade desde a eleição de Nicolás Maduro há seis anos e não há limites para a hiperinflação — 130.060% em 2018, segundo o Banco Central do país; 1.000.000%, conforme o Fundo Monetário Internacional (FMI). O aprofundamento do caos do país teve reflexos diretos no comportamento de seus refugiados: se o dinheiro vira fumaça, o objetivo passou a ser a subsistência e a garantia de um estoque mínimo de alimentos a ser enviado às famílias.

Tudo o que eu ganhava em um mês, limpando as praças para a prefeitura de El Tigre, era suficiente para comprar um quilo de arroz”, resume Yusmare.

A reportagem do jornal O Globo constatou com outras famílias de venezuelanos em Boa Vista que a prioridade zero, agora, é acumular alimentos que possam ser enviados aos parentes que ficaram na Venezuela. Muitos estão dispostos a fazer o caminho de ida e volta, sem um regresso definitivo. Fazer essa comida chegar ao país também é um desafio para esses migrantes. São comuns os relatos de assaltos e saques nas estradas.

Não é possível transportar os fardos de comida nos ônibus patrocinados pelo governo de Maduro, dentro do programa “Vuelve a la patria” (Volte à pátria), segundo relatos de refugiados. Os ônibus saem de frente do consulado da Venezuela em Boa Vista, no comecinho da manhã. É permitida apenas uma mala por pessoa, conforme afirmações de venezuelanos dispostos a regressar ao país. Eles só embarcarão quando conseguirem o dinheiro da passagem. Não deixarão os fardos de comida para trás.

A estimativa do órgão da ONU para refugiados é de que 3,7 milhões de venezuelanos estejam em estado de desnutrição. “A falta de acesso a alimentos tem impacto especialmente adverso nas mulheres que são chefes de família, que se veem obrigadas a passar dez horas no dia, em média, nas filas para obtenção da comida”, cita um relatório feito pela alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michele Bachelet.

Pelos cálculos da organização, a quantidade de venezuelanos que deixaram o país chegou a 4 milhões. A maioria foi para a Colômbia, 1,3 milhão, e para o Peru, 768 mil. O Brasil é o quinto país que mais recebeu venezuelanos. Segundo dados da Polícia Federal (PF), entraram no Brasil 394.897 venezuelanos desde 2017. E saíram pouco mais de 245 mil.

Todos os dias passam pelo posto de identificação em Pacaraima cerca de 700 imigrantes do país vizinho. Os dois abrigos em Pacaraima e os 11 em Boa Vista estão abarrotados de gente, com 6,5 mil pessoas. Há filas de espera por vaga.

Até agora, 16 mil venezuelanos já foram levados para outros estados, principalmente Amazonas, São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, nesta ordem. A operação humanitária de acolhida dos venezuelanos é uma responsabilidade do Exército. Em abril, o governo liberou mais R$ 223,8 milhões para a operação, dinheiro a ser gasto até o fim do ano.

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https://www.osul.com.br/familias-enviam-comida-para-quem-ficou-na-venezuela/ Famílias enviam comida para quem ficou na Venezuela 2019-08-11
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