Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Colunistas Gengis Khan e seu falcão

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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Em recente visita ao Cazaquistão, na Ásia Central, tive a oportunidade de acompanhar caçadores que usam o falcão como arma. Não quero entrar aqui no mérito de discutir a palavra “caçada”; apenas dizer que, neste caso, é a natureza cumprindo o seu ciclo.

Eu estava sem intérprete, e o que poderia ser um problema, terminou como uma benção. Impedido de conversar com eles, prestava mais atenção no que faziam: vi nossa pequena comitiva parar, o homem com o falcão no braço distanciar-se um pouco, retirar a pequena viseira de prata da cabeça da ave. Não sei por que decidiu parar ali, e não tinha como perguntar.

A ave levantou voo, traçou alguns círculos no ar, e depois, em um bote certeiro, desceu em direção à ravina, e não se moveu mais. Chegamos perto, e uma raposa estava presa em suas garras. A mesma cena ocorreu mais uma vez, durante aquela manhã.

De volta à aldeia, encontrei-me com as pessoas que me esperavam, e perguntei como é que conseguiam domesticar o falcão para fazer tudo aquilo que vi – inclusive ficar docilmente no braço de seu dono (e no meu também; colocaram-me umas braçadeiras de couro, e pude ver de perto suas garras afiadas).

Pergunta inútil. Ninguém sabe explicar: dizem que esta arte passa de geração a geração, o pai ensina para o filho, e assim por diante. Mas ficará para sempre gravado em minhas retinas as montanhas nevadas ao fundo, a silhueta do cavalo e o cavaleiro, o falcão saindo do seu braço, e o bote certeiro.
Fica também uma lenda que uma das pessoas me contou, enquanto almoçávamos:

Certa manhã, o guerreiro mongol Gengis Khan e sua corte saíram para caçar. Enquanto seus companheiros levaram flechas e arcos, Gengis Khan carregava seu falcão favorito no braço – que era melhor e mais preciso que qualquer flecha, porque podia subir aos céus, e ver tudo aquilo que o ser humano não consegue ver.

Entretanto, apesar de todo o entusiasmo do grupo, não conseguiram encontrar nada. Decepcionado, Gengis Khan voltou para seu acampamento – mas para não descarregar sua frustração em seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho.

Tinham permanecido na floresta mais tempo que o esperado, e Kahn estava morto de cansaço e de sede. Por causa do calor do verão, os riachos estavam secos, não conseguia encontrar nada para beber até que – milagre! – viu um fio de água descendo de um rochedo a sua frente.

Na mesma hora, retirou o falcão do seu braço, pegou o pequeno cálice de prata que sempre carregava consigo, demorou um longo tempo para enchê-lo, e quando estava preste a levá-lo aos lábios, o falcão levantou vôo e arrancou o copo de suas mãos, atirando-o longe.

Gengis Kahn ficou furioso, mas era seu animal favorito, talvez estivesse também com sede. Apanhou o cálice, limpou a poeira, e tornou a enchê-lo. Com o copo pela metade, o falcão de novo atacou-o, derramando o líquido.

Gengis Kahn adorava seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma circunstância, já que alguém podia estar assistindo a cena de longe, e mais tarde contaria aos seus guerreiros que o grande conquistador era incapaz de domar uma simples ave.

Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enchê-lo – mantendo um olho na fonte, e outro no falcão. Assim que viu ter água suficiente, e quando estava pronto para beber, o falcão de novo levantou voo, e veio em sua direção. Kahn, em um golpe certeiro, atravessou o seu peito.

Mas o fio de água havia secado. Decidido a beber de qualquer maneira, subiu o rochedo em busca da fonte. Para sua surpresa, havia realmente uma poça d’agua e, no meio dela, morta, uma das serpentes mais venenosas da região. Se tivesse bebido a água, já não estaria mais no mundo dos vivos.

Kahn voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços. Mandou fazer uma reprodução em ouro da ave, e gravou em uma das asas:

“Mesmo quando um amigo faz algo que você não gosta, ele continua sendo seu amigo”.

Na outra asa, mandou escrever:

“ Qualquer ação motivada pela fúria, é uma ação condenada ao fracasso”.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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Que não sirvam as nossas façanhas deêe modêeelo…!
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https://www.osul.com.br/gengis-khan-e-seu-falcao/ Gengis Khan e seu falcão 2018-12-16
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