Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 26 de outubro de 2015
O Ministério da Saúde recomendou a Estados e municípios aumentar o controle sobre a prescrição e a distribuição de medicamento indicado para tratar crianças e adolescentes com déficit de atenção e hiperatividade. O documento visa coibir possível uso abusivo de metilfenidato, conhecido como ritalina e concerta, e evitar a medicação excessiva.
Segundo a pasta, a medida ocorre diante da tendência de compreensão de dificuldades de aprendizagem, como transtornos biológicos a serem medicados e de um aumento intenso no consumo do psicotrópico. Dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) apontaram crescimento de 21,5% na venda do metilfenidato em quatro anos, de 2,2 milhões de caixas, em 2010, para 2,6 milhões, em 2013.
A Saúde informou ainda as estimativas bastante discordantes sobre a ocorrência de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) em crianças e adolescentes, de 0,9% a 26,8%. “Parece evidente que tem muitos jovens no Brasil utilizando de maneira desnecessária o medicamento”, afirmou o coordenador de saúde da criança no ministério, Paulo Bonilha. “São múltiplas as variáveis que influenciam no processo de aprendizagem e concentração. Olhar como se isso fosse sempre uma doença da criança é reducionista”, acrescentou Bonilha.
Isso não significa, porém, que o diagnóstico de TDAH não possa ocorrer, defende o especialista. “O que se recomendou é que seja mais criterioso, feito por equipe multiprofissional e não apenas pelo médico, com presenças de psicólogo e pedagogo”, observou Bonilha.
O diretor da AMB (Associação Médica Brasileira) e professor associado de psiquiatria na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Miguel Jorge, afirmou ser favorável à adoção de critérios que levem a diagnósticos precisos. Mas critica a possibilidade de a decisão caber a profissionais não médicos.
Jorge observou que não há sentido, cabimento ou lógica em se depositar na mão de pessoas estranhas à categoria médica a determinação se um diagnóstico está correto e se a pessoa deverá receber o medicamento. Para ele, além de uma possível medicalização excessiva, será preciso considerar que alguns transtornos passaram a ser mais conhecidos, o que poderá explicar um aumento no diagnóstico de pessoas antes não tratadas. “O déficit de atenção, pelo menos até o momento, não tem outro tipo de tratamento preconizado que não o medicamentoso”, alertou o médico. (Folhapress)