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Por Redação O Sul | 25 de maio de 2017
Em conversa gravada entre presidente Michel Temer e o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) levantou suspeitas sobre um decreto para o setor de portos. Os procuradores acreditam que a empresa Rodrimar, alvo de busca e apreensão na operação Patmos, pode ter sido beneficiada. O nome da Rodrimar surgiu no meio das investigações feitas a partir da delação da JBS na Operação Lava-Jato. A empresa é especializada em comércio exterior, atua no setor de portos, com base em Santos.
Um dos executivos, Ricardo Mesquita, apareceu no café onde o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures se reunia com o executivo da J&F, Ricardo Saud.
Ricardo Saud: Oi, cara! Uai… Rapaz, você tá parecendo um boyzinho, veio. Tudo bom?
Ricardo Mesquita: Tudo bom, cara?
Em depoimento, Ricardo Saud falou sobre o encontro, como mostrou uma reportagem publicada nessa quinta-feira pelo jornal Folha de S.Paulo e confirmada pelo Jornal Nacional, da Rede Globo. “O Rodrigo pegou e falou: ‘Ó, esse é o seu xará, você sabe, tô cansado de saber. Nós fomos lá quantas vezes quando nós estávamos fazendo negócio, o Temer sempre ajudou a gente. Tá bom, depois quero te falar sobre ele, tudo bem? Tudo bem, falei, tchau, tchau fui embora a operação acabou aí”, disse Saud na delação premiada.
O procurador quis saber mais detalhes. E Saud citou o nome de um sócio da empresa que, segundo ele, seria muito amigo de Michel Temer, Antônio Celso Grecco.
Procurador: Só pra deixar claro, não foi um encontro fortuito, ele estava ali para fazer uma reunião com o deputado Loures?
Saud: Eles são muito amigos. E o Celso, da Rodrimar, é muito amigo do Temer, há muitos anos.
Saud contou também que, num segundo encontro, Rocha Loures ofereceu Ricardo, da Rodrimar, para ser o intermediário da propina que a JBS estava oferecendo.
Loures: Eu até pensei… Lembra aquele dia que nos encontramos, tomamos um café, que a gente encontrou com seu xará?
Saud: O Ricardo.
Loures: Essa, esse era um horário… (inaudível).
Saud: Com o Ricardo?
Loures: Isso, aí ele poderia fazer… (inaudível).
Saud: Tranquilo. Aí eu não queria… Ver se fazia com ele lá na JBS, talvez na escola, não.
Saud: Eu gosto muito dele.
Loures: (inaudível) Vocês trabalham juntos? …vocês se encontrarem… Uma coisa natural.
Segundo investigadores, por causa dessa suspeita de que a empresa poderia ser usada para receber dinheiro de propina, a Rodrimar e Rodrigo Rocha Loures podem ser alvo de um novo inquérito.
As suspeitas aumentaram porque em um telefonema com Rocha Loures, no dia 4 de maio, gravado com autorização judicial, Michel Temer fala sobre um decreto que altera regras para a concessão da exploração de portos, decreto assinado dias depois. E que, em tese, poderia beneficiar a Rodrimar.
Loures: Tá bom, presidente?
Temer: Tudo bem e você, bem?
Loures: Tudo. Tudo bem. Não, só para lhe fazer uma consulta. Agora, coisa de umas horas atrás chegou uma informação, através do senador Wellington, que já teria sido assinado o decreto dos portos, não sei se é verdade ou não.
Temer: Não.
Loures: Pediu para eu verificar, é.
Temer: Não, não foi.
Mais à frente, na conversa, Temer e Rocha Loures falam do artigo que poderia beneficiar a Rodrimar:
Temer: Aquela coisa dos setenta anos, lá pra todo mundo, parece que está acertado aquilo lá….
Loures: Não. Isso equacionou, isso equacionou. Aí tinha uma interpretação dos “pré-93” que ainda havia dúvida…
Temer: Ah, bom. Essa daí que eu não sei. Eu não sei como é que ficou viu?
Loures: É…Mas eu vou…
Temer: Dá uma olhada com o Gustavo, com o pessoal lá.
Depois de falar com o presidente, Rocha Loures ligou para Ricardo, da Rodrimar, e o informou sobre o andamento da proposta.
Loures: Foi o que, foi o que…falei com o presidente e o presidente me deu essa notícia de que ele não assinou nada.